"E vai cair, e vai cair, este governo vai cair!", gritavam milhares de manifestantes que nas ruas da gigantesca favela de Petare, a maior de Caracas. "Entregue o poder já!", exclamavam outros.
Manifestações foram registadas em várias regiões da capital, algumas muito pobres, tendo a Guarda Nacional militarizada dispersou várias delas com gás lacrimogéneo e tiros de bala de borracha. Também foram ouvidos disparos em alguns bairros.
No interior do país também houve protestos.
"Pela liberdade do nosso país, pelo futuro dos nossos filhos, queremos liberdade, queremos que Maduro vá embora. Vá embora, Maduro!", disse à AFP Marina Sugey, uma dona de casa de 42 anos, durante o protesto em Petare.
As manifestações ocorrem em paralelo ao ato de proclamação de Maduro, que denunciou uma tentativa de golpe de Estado "de caráter fascista e contrarrevolucionário".
A oposição, liderada por María Corina Machado, denuncia uma fraude e disse ter "como provar a verdade" de que a eleição foi vencida por Edmundo González Uruttia no domingo. Machado explicou que, após ter acesso a cópias de 73% das atas da apuração, a projeção é de uma vitória da oposição com 6,27 milhões de votos, contra 2,75 milhões para Maduro.
"A diferença foi tão grande em todos os estados da Venezuela, em todos os setores, vencemos", comemorou Machado.
"Revisão completa dos resultados"
Os Estados Unidos, que foram fundamentais no processo que levou à eleição, e os vizinhos Brasil e Colômbia, os três países que mais receberam migrantes venezuelanos, questionaram a apuração que deu a Maduro um terceiro mandato de seis anos com 51% dos votos, contra 44% de González, segundo o CNE, de viés governista.
Também o fizeram Chile e Panamá, este último retirarou o pessoal diplomático de Caracas e colocou "em suspenso" as relações bilaterais.
A Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou uma reunião extraordinária a pedido dos governos da Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai, que pediram uma "revisão completa dos resultados".
Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela expulsou o pessoal diplomático argentino, chileno, costarriquenho, panamenho, peruano, dominicano e uruguaio, diante do que considerou "ações intervencionistas" nos seus países.
Na embaixada argentina estão refugiados há semanas seis colaboradores de María Corina Machado, que denunciou assédio policial à sede diplomática. A oposição já relatou a prisão de cerca de 150 pessoas ligadas à campanha.
Por outro lado, a China, Rússia, Cuba, Nicarágua, Honduras e Bolívia deram os parabéns a Maduro. O presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, disse que reconhecerá o resultado do CNE.
Uma pequena delegação do Centro Carter esteve presente na votação de domingo. Pediu ao CNE "que publique imediatamente os resultados das eleições presidenciais por colégio eleitoral". Além disso, um painel de especialistas da ONU emitirá um relatório confidencial.
"Pena máxima"
Na presidência desde 2013, Maduro projeta-se para permanecer 18 anos no poder, até 2031. Apenas o ditador Juan Vicente Gómez terá governado mais tempo do que ele, com 27 anos (1908-1935).
O chavismo convocou para terça-feira "uma grande marcha em direção a Miraflores", o palácio presidencial, "para defender a paz".
Machado e González chamaram "assembleias cidadãs" em diferentes cidades. Não deram maiores detalhes, mas o embaixador marcou distância dos protestos do dia.
"Não contribuem para esse objetivo", disse numa conferência de imprensa. "Há muita indignação e entendemos isso, mas temos que manter a calma, a serenidade, até alcançarmos a vitória".
Maduro acusou a oposição de procurar um cenário similar ao das manifestações de 2014 e 2017, que deixaram centenas de mortos. Nas marchas de segunda-feira, pelo menos 13 pessoas foram detidas, segundo a ONG Foro Penal, especializada na defesa de presos políticos.
O procurador-geral da Venezuela, Tarek William Saab, disse na rede social X que "punirá com a pena máxima aqueles que pretendam reeditar os impunes e assassinos" protestos desses dois anos.
A maioria das sondagens favorecia a oposição, que se absteve das eleições presidenciais passadas de 2018 e capitalizou o descontentamento de anos de uma crise que contraiu o Produto Interno Bruto em 80% e levou ao exílio cerca de sete milhões de venezuelanos, segundo a ONU.
Um morto em protestos
Uma pessoa morreu num dos protestos que eclodiram na segunda-feira na Venezuela contra a questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro, informou a ONG Foro Penal, especializada na defesa de presos políticos.
"Há pelo menos uma pessoa assassinada no [estado de] Yaracuy e 46 pessoas detidas por eventos pós-eleitorais", escreveu na rede social X Alfredo Romero, diretor da organização.
Manifestantes derrubam estátuas de Chávez após reeleição de Maduro na Venezuela
Duas estátuas do ex-presidente Hugo Chávez (1999-2013) foram derrubadas na segunda-feira na Venezuela, no meio de protestos contra a proclamação do presidente Nicolás Maduro como vencedor das eleições deste domingo.
“Foram atacar o comandante Chávez, o melhor presidente que a Venezuela teve em 150 anos”, criticou Maduro num discurso na TV, durante o qual exibiu imagens da queda das estátuas, que ocorreu em La Guaira e Mariara. Os registos haviam circulado nas redes sociais e sido divulgados pela imprensa.
Maduro chegou à Presidência em 2013, após a morte de Chávez, e conquistou ontem o terceiro mandato de seis anos, segundo os resultados divulgados pelo Conselho Nacional Eleitoral.
Paralelamente à proclamação formal de Maduro hoje, houve manifestações em diferentes setores de Caracas e no interior do país. A militarizada Guarda Nacional dispersou várias delas com gás lacrimogéneo e balas de borracha. Em alguns bairros, foram ouvidos tiros.
Após ter a acesso cópias de 73% das atas eleitorais, a oposição afirmou que pode provar que houve fraude na apuração dos votos.
OEA convoca reunião extraordinária para abordar eleições na Venezuela
O Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) convocou para quarta-feira uma reunião extraordinária para "abordar os resultados do processo eleitoral" de domingo na Venezuela, após a oposição e a comunidade internacional questionarem a reeleição de Nicolás Maduro.
O encontro será realizado às 19h00 do dia 31 de julho na sede da OEA em Washington, anunciou esta segunda-feira o organismo num comunicado.
Os governos da Argentina, Costa Rica, Equador, Guatemala, Panamá, Paraguai, Peru, República Dominicana e Uruguai haviam anunciado mais cedo num comunicado que solicitariam essa cimeira do Conselho Permanente da OEA.
Após horas de incerteza no domingo, o Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, de linha oficialista, acabou a dar a vitória a Maduro com 51,2% dos votos, em comparação com 44,2% do principal candidato opositor, Edmundo González.
Mas tanto a oposição, liderada por María Corina Machado, quanto grande parte da comunidade internacional, incluindo Estados Unidos, União Europeia, Brasil e Colômbia, questionaram os resultados que concedem a Maduro seu terceiro mandato consecutivo de seis anos.
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, expressou, por exemplo, sua "séria preocupação" com o resultado e pediu uma recontagem "justa e transparente" dos votos.
Apesar dos apelos, as autoridades venezuelanas já celebraram o ato de proclamação de Maduro, que denunciou uma tentativa de golpe de Estado "de caráter fascista e contrarrevolucionário".
Vários setores de Caracas foram cenário, esta segunda-feira, de protestos contra a reeleição do líder chavista, no poder desde 2013.
A polícia reprimiu uma dessas manifestações com gás lacrimogéneo no leste da capital venezuelana.
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