Para o também presidente da Liga dos Chineses, Y Ping Chow, Portugal goza de uma posição “privilegiada” nesta matéria, seja pelas relações existentes entre os dois países, seja por constituir uma porta de entrada para a União Europeia e para os países de língua portuguesa.
“Neste momento, o governo chinês está a lançar a internacionalização das empresas e Portugal acho que está numa posição privilegiada. Primeiro politicamente muito bem relacionado com a China e segundo é um parceiro estratégico, estando numa situação de privilégio para poder entrar em [outros] países da União Europeia e também nos países da CPLP [Comunidade dos Países Língua Portuguesa]”, afirmou em entrevista à Lusa.
Constituída no início do mês de maio, a Câmara do Comércio Portugal-China PME (CCPC-PME) está já a trabalhar na criação de fundo de investimento para os setores agroalimentar e do turismo, com um valor inicial de 10 milhões de euros, mas que futuramente pode chegar aos 30 milhões de euros.
A sua criação está, no entanto, dependente da autorização do Banco de Portugal, mas se tudo correr dentro do previsto, acredita, o mesmo estará constituído até ao final do ano.
Para aquele responsável, este “não é um projeto ambicioso, mas é concretizável”, podendo ainda ser conciliado com os Vistos Gold, “mas no interior do país”.
Y Ping Chow acredita que o interior de Portugal pode representar uma oportunidade de negócio para os empresários chineses que queiram investir no setor do turismo.
Em entrevista à Lusa, o presidente executivo da Câmara de Comércio Portugal-China adianta que está a ser ponderada a entrada no capital de uma agência de viagens, com o objetivo de promover rotas turísticas que vão além dos destinos já conhecidos dos chineses, como Porto e Lisboa.
Y Ping Chow explica que grande parte dos chineses que vêm visitar Portugal, fica pouco dias, não tendo um conhecimento muito profundo de outras regiões, para além das grandes metrópoles.
Aquele responsável reconhece, contudo, que, neste contexto de pandemia, não avançará no imediato, para permitir perceber os efeitos e consequências do covid-19 no setor do turismo.
A CCPC-PME está também a trabalhar na criação de “Casa de Portugal” numa das maiores plataformas de venda online e onde se pretende promover a produção nacional como o vinho, o azeite ou o mel, ou, no têxtil, o vestuário e o calçado, produtos também muito apreciados pelos chineses.
Y Ping Chow acredita que esta plataforma pode ajudar os empresários portugueses a entrar no mercado chinês, mas avisa que será necessário que os empresários portugueses saibam ser competitivos no que respeita ao preço dos produtos e mais eficientes em matéria logística.
“Portugal está um bocadinho afastado do centro de distribuição. A nossa grande batalha é como resolver o problema da logística”, referiu.
O também presidente da Liga dos Chineses defendeu ainda que para que este projeto da “Casa de Portugal” possa crescer, o apoio do Governo e do Ministério da Economia é fundamental, não no apoio financeiro, mas no apoio à sua constituição e na atribuição de um selo que permita certificar que os produtos vendidos naquela plataforma são produtos nacionais.
“Eu acho que o Governo português devia-nos apoiar bastante a promoção da Casa de Portugal na plataforma de venda online porque nós queremos é destacar os produtos portugueses, não determinada marca, mas produtos portugueses”, salientou, defendendo que neste momento, mais do que as empresas chinesas, são as empresas portuguesas que mais precisam da CCPC-PME.
No caso dos empresários chineses, o trabalho da CCPC-PME irá centrar-se mais na penetração nos países de língua portuguesa, explicou.
Com cerca de 30 sócios de vários setores de atividade, a Câmara de Comércio Portugal-China vai iniciar um trabalho de fortalecimento das relações com as entidades oficiais e com outras entidades empresariais com quem quer estabelecer parcerias e protocolos.
Em entrevista à Lusa, Y Ping Chow deixou claro que não quer entrar em guerra com a Câmara do Comércio Luso-Chinesa (CCILC), que respeita muito e cujo mérito reconhece, mas considera que a CCPC-PME é capaz de estar ao seu lado no desenvolvimento económico da comunidade e no fortalecimento das relações entre Portugal e a China.
No dia 12 de maio, a CCILC demarcou-se da recém-criada Câmara de Comércio Portugal-China PME (CCPC-PME), que consideram “pretender criar uma evidente confusão”.
Num comunicado enviado à Lusa, a CCILC refere que “tem promovido e apoiado um associativismo livre, diversificado e enriquecedor das relações entre países e povos”, mas assume “publicamente uma posição contrária à criação” da CCPC-PME.
À data, a associação, fundada em 1978, afirmou que ter uma “postura de abertura e apoio constante a todas as entidades que gravitam neste universo das relações bilaterais e com as quais tem a honra de trabalhar em conjunto”, mas diz que não irá pactuar “com situações que se (?) afiguram de menor transparência, como uma câmara de comércio alternativa”.
Em entrevista à Lusa, Y Ping Chow disse acreditar que a Câmara de Comércio Portugal-China PME, criada em pleno contexto de crise pandémica, preenche um espaço não ocupado pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa (CCILC), ao assumir-se como um parceiro das pequenas e médias empresas (PME) que, consideram, deve ter um interlocutor próprio.
“As relações entre Portugal e a China não podem ser monopolizadas por uma determinada entidade”, disse.
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