A Assembleia de Representantes da Ordem dos Médicos (OM) “chumbou” hoje a criação da especialidade de Medicina de Urgência, um processo que está por agora encerrado, confirmou à Lusa o bastonário Miguel Guimarães.
“O projeto foi apresentado pela equipa que o preparou e foi chumbado e o assunto, para já, está encerrado”, adiantou Miguel Guimarães, salientando que esta foi uma “decisão democrática”.
A recusa de criação da especialidade, apoiada por antigos e atuais diretores de serviços de urgência, foi tomada na reunião da Assembleia de Representantes, um órgão da OM que junta os médicos de todos os distritos do país e das regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
Miguel Guimarães adiantou ainda que, como bastonário, teve de se manter equidistante deste processo, limitando-se a dar os passos necessários para que o projeto de criação da especialidade de Medicina de Urgência fosse à Assembleia de Representantes.
“Foi democraticamente votada e as pessoas acharam que, neste momento, não é oportuno a existência da especialidade”, disse Miguel Guimarães.
Na última semana, 56 antigos e atuais diretores de serviços de urgência defenderam, num manifesto, ser indispensável a criação da especialidade face às “enormes insuficiências” da rede hospitalar.
“Numa altura em que é bem claro para a classe médica, bem como para os cidadãos, a existência de enormes insuficiências na entrega de cuidados de urgência na nossa rede hospitalar, torna-se indispensável dar este passo real na prossecução da melhoria desses cuidados”, refere o documento a que a agência Lusa teve acesso.
Os signatários lembram que esta é uma especialidade com mais de 50 anos “presente na esmagadora maioria dos países da Europa, nos quais constitui um dos pilares fundamentais dos cuidados médicos”, mas que só agora os médicos portugueses “vão decidir da bondade da sua criação”.
Contudo, em declarações à Lusa para a presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna (SPMI), Lélita Santos, havia considerado a criação da nova especialidade como inoportuna.
“Neste momento, não é oportuno [a criação da nova especialidade] e que há outras alterações e medidas estruturais que devem ser tomadas antes de se analisar a necessidade dessa especialidade”.
“Para já, não concordamos e até nos opomos à criação da nova especialidade. Achamos que primeiro temos de organizar ou reorganizar o Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, disse a médica do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra.
Numa reação por escrito à Lusa antes da votação, o diretor executivo do SNS, Fernando Araújo, salientou que a criação da especialidade de Medicina de Urgência constituía “um eixo fundamental na estratégia delineada” para esta área.
Já o ministro da Saúde disse que "cada instituição tem o seu papel, é uma decisão da Ordem do Médicos, que respeitamos mas vamos encontrar um modelo de organização das urgências que sejam mais adequadas", declarou Manuel Pizarro, em reação ao chumbo.
Portugal é um dos países da Europa que não tem esta especialidade.
Em declarações à SIC Notícias, o diretor de Medicina Intensiva do Hospital de S. João, refere que a "especialidade permitiria organizar os serviços de urgência de um forma diferente da atualmente em vigor no nosso país", disse Nelson Pereira.
"Temos serviços de urgência que vive à custa de médicos voluntariosos, mas sem formação específica para trabalhar em serviços de urgência hospitalar. É esse o panorama que gostávamos de inverter", com a nova especialidade, referiu ainda o médico do S. João.
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