Considerada culpada por um tribunal administrativo de Moscovo por ter “desacreditado” o exército russo, Ovsiannikova deverá pagar uma multa de 40.000 rublos (cerca de 650 euros), indicou a própria na sua conta da rede social Telegram.
O seu advogado, Dmitri Zakhvatov, disse, em declarações à agência de notícias francesa AFP, que a jornalista russa foi condenada com base numa mensagem que havia publicado na rede social Facebook.
Marina Ovsiannikova tinha já sido condenada no fim de julho a pagar uma multa pelo mesmo motivo. Duas condenações com menos de seis meses de intervalo criam a possibilidade de um caso criminal, com potenciais consequências judiciais bastante mais pesadas, como prisão efetiva.
A jornalista, que continua a criticar veementemente a ofensiva russa na Ucrânia, apesar das ameaças judiciais, partilhou também o texto da sua defesa, cheio de ironia, que leu hoje perante o juiz. “Admito que foram realmente (…) a América e a Europa quem conduziu ao facto de na Rússia já não existirem liberdade de expressão, tribunais independentes ou eleições livres. Ou que pessoas sejam presas por apelarem para a paz”, declarou.
Ovsiannikova notabilizou-se em meados de março deste ano depois de ter aparecido, em pleno noticiário, no cenário de uma estação de televisão pró-Kremlin para a qual trabalhava. Na sua intervenção, segurava um cartaz condenando a guerra na Ucrânia e a “propaganda” dos ‘media’ controlados pelo poder russo.
As imagens da sua aparição em fundo, no ecrã, atrás da jornalista que apresentava o noticiário, correram mundo. Muitas pessoas elogiaram a sua coragem, num contexto de repressão de todas as vozes críticas na Rússia.
Ela não obteve, contudo, a unanimidade junto da oposição russa, com alguns elementos criticando-lhe ainda os anos que passou a trabalhar para a estação Pervy Kanal, “pé de microfone” do Kremlin (Presidência russa).
Depois de ter trabalhado vários meses no estrangeiro, nomeadamente para o jornal alemão Die Welt, Marina Ovsiannikova anunciou no início de julho ter regressado à Rússia para resolver um contencioso relacionado com a guarda dos seus dois filhos.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 17 milhões de pessoas de suas casas — mais de seis milhões de deslocados internos e mais de dez milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Também segundo as Nações Unidas, cerca de 16 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Ucrânia.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que está a responder com o envio de armamento para a Ucrânia e a imposição à Rússia de sanções que atingem praticamente todos os setores, da banca à energia e ao desporto.
A ONU confirmou que 5.401 civis morreram e 7.466 ficaram feridos na guerra, que hoje entrou no seu 166.º dia, sublinhando que os números reais deverão ser muito superiores e só serão conhecidos quando houver acesso a zonas cercadas ou sob intensos combates.
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