Foram nove meses na carpintaria – “até dava um carpinteiro mediano” - e seis meses como padeiro, experiências “de facto curtas”, mas “muito intensas, aliadas a uma realidade concreta”, disse, em entrevista à agência Lusa, em que explicou que a classificação como operário, que deu alguma polémica, é feita a partir da forma como o PCP olha para a organização e composição da sociedade.

A classificação social atribuída pelo PCP aos dirigentes e funcionários tem a ver com o conjunto da experiência de vida: “Se eu tivesse estudado a vida inteira não seria um operário”, sintetiza.

“E há um outro elemento que é o ambiente onde cresci. Nesse enquadramento, não quero ser injusto, mas quase de certeza que todos os meus amigos de infância e com quem cresci, nenhum deles teve a possibilidade de ir para a faculdade. A maior parte deles nem o nono ano tirou”, diz.

Também Paulo Raimundo terminou o ensino secundário já à noite e, nessa altura, a faculdade não era uma opção. Se tivesse tido possibilidade, teria ido para “belas artes”, conta.

Como exemplo do contexto social e económico em que viveu, na juventuda, Paulo Raimundo, hoje com 46 anos, descreve: “Eu cheguei a receber em `tickets de refeição´, nem sei se ainda há. Eram uns títulos e trocava-se num restaurante ou num supermercado”.

E ainda outro exemplo que, considera, o identifica com as classes trabalhadoras: “costumo dizer que para mim não há economista melhor do mundo que a minha mãe, nós trabalhávamos, eu, o meu irmão, o meu pai, e, no fim do mês entregávamos à minha mãe para ela fazer a gestão”.

Paulo Raimundo afirma não saber provérbios populares – marca d`água do antecessor Jerónimo de Sousa - mas usa expressões “popularuchas” pelas quais pede desculpa na entrevista, quando avisou que não está como secretário-geral para “andar a encher chouriços”.

E ao que vem? “Não é olhar para o umbigo e pensar, em termos eleitorais, que arranjo se vai fazer. Não é isso, é olhar para os problemas das pessoas e abrir caminhos a um projeto alternativo. E para isso é preciso estar no poder, não andamos aqui, desculpem a expressão, a encher chouriços”.

Sobre como chegou à militância, Paulo Raimundo recorda momentos “marcantes do ponto de vista pessoal”, no início dos anos 90, em que viveu as lutas estudantis no ensino secundário, no bairro da Bela Vista, em Setúbal, contra a Prova Geral de Acesso.

“Foi na dinâmica estudantil que eu aderi (à JCP). Foi o meu camarada Jorge Martins que até hoje carrega às costas essa responsabilidade de me ter enganado (risos). A vida estudantil era muito intensa, a batalha política era muito intensa e muito vivida”, afirma.

“Eu terei tomado a decisão mais certa na vida, mas também a mais arriscada”, assume. Quanto à família, havia simpatizantes comunistas mas não na sua casa. E foi Raimundo que levou “há pouco tempo” a mãe a filiar-se no PCP.

* Por Sónia Ferreira e André Campos Ferrão (texto) e André Kosters (foto), da agência Lusa