O rei D. Pedro I do Brasil e D. Pedro IV para Portugal foi o monarca que conduziu o Brasil, antiga colónia portuguesa, à independência. O seu corpo encontra-se na cidade brasileira de São Paulo — mas não na totalidade: o coração está no Porto, na Igreja da Lapa, fechado a cinco chaves num mausoléu.

A 30 de maio, o embaixador brasileiro George Prata, um dos coordenadores das comemorações do bicentenário da independência do Brasil, anunciou que o governo do seu país tinha enviado um pedido oficial a Portugal para a trasladação do coração de D. Pedro.

Por sua vez, a 22 de junho, o presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, anunciou que a trasladação do coração de D. Pedro seria autorizada.

Contudo, só hoje foi oficializada a decisão: o executivo aprovou por unanimidade a transladação temporária, através da celebração de um contrato de comodato a celebrar com o governo brasileiro.

"Tratando-se de um bem cultural, enquanto bem móvel que representa testemunho material com valor de civilização ou cultura, está sujeito a um especial regime de proteção e valorização", salienta Rui Moreira.

O autarca esclarece que para que a transladação não comprometesse a integridade do órgão foi pedida uma peritagem técnica ao Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, que concluiu ser possível realizar a mesma, mediante a "exigência de um transporte em ambiente pressurizado".

"A Câmara Municipal do Porto assegurará todas as diligências necessárias, assim como a articulação com outras entidades, em especial com as autoridades brasileiras, no que concerne à segurança da operação de transporte", afirma o autarca, adiantando que os custos serão assumidos pelo governo brasileiro.

Para o historiador Laurentino Gomes, o empréstimo do coração de D. Pedro, solicitado pelo Governo brasileiro para celebrar os 200 anos da Independência do país sul-americano, é um eco da ditadura militar.

"O coração do D. Pedro é preservado em condições muito delicadas, lá na igreja da Lapa, no Porto, e há um risco real. [O pedido de empréstimo] é um eco autoritário de uma ditadura, porque [na comemoração do aniversário dos 150 anos] era o auge da ditadura, em 1972, e os militares trouxeram os restos mortais de D. Pedro para o Museu do Ipiranga", frisou.

Por isso, defende, "Bolsonaro, que cultiva a ditadura brasileira", tentou agora imitar os generais da ditadura militar. "Eles trouxeram o corpo, então, num gesto simbólico, vamos trazer o coração", acrescentou.