Num discurso de hora e meia, o chefe de Estado chinês repetiu o compromisso do país com o sistema multilateral de comércio e a abertura económica, sem mencionar as disputas comerciais em curso com os Estados Unidos.
Xi assegurou que a China não se vai desenvolver "à custa dos interesses de outros países".
Mas a crescente influência de Pequim além-fronteiras tem suscitado divergências com as potências ocidentais, que veem uma nova ordem mundial ser moldada por um rival estratégico, com um sistema político e de valores profundamente diferentes.
Do Sudeste Asiático a África, o país tem alargado a presença através do gigantesco projeto de infraestruturas 'uma faixa, uma rota', visto como uma versão chinesa do 'Plano Marshall', lançado pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, e que permitiu a Washington criar a fundação de alianças que perduram até hoje.
Ao destacar que a China está "gradualmente a aproximar-se do centro do palco internacional", Xi Jinping notou que o país adota uma política de defesa nacional defensiva.
"O desenvolvimento da China não constitui uma ameaça para outros países", afirmou. "Não interessa o quanto se desenvolve, a China não vai procurar a hegemonia", garantiu.
Xi sublinhou ainda o papel do antigo líder Deng Xiaoping nas reformas económicas que salvaram o país do colapso, após uma década de violência e caos induzidos pela Revolução Cultural, movimento de massas lançado pelo fundador da República Popular da China, Mao Zedong.
Outras comemorações foram criticadas por minimizarem o contributo de Deng, considerado o arquiteto-chefe das reformas económicas, de forma a elevar o estatuto de Xi, o mais forte líder chinês desde Mao.
Xi enfatizou ainda o papel do Partido Comunista na defesa da soberania do país. "Ninguém pode ditar ao povo chinês o que pode ou não fazer", afirmou.
O discurso não terá aliviado as preocupações de empresários e companhias estrangeiras, que esperavam que Xi aproveitasse o momento para anunciar medidas concretas de abertura do mercado, visando reduzir o domínio dos conglomerados estatais sobre a economia.
Pequim é acusado de distorcer a concorrência ao subsidiar empresas chinesas e através de práticas comerciais "injustas", como violações de propriedade industrial ou transferência forçada de tecnologia, em troca de acesso ao mercado. A taxa de câmbio da moeda chinesa, o yuan, que ainda não é totalmente convertível, continua a ser ditada pelas autoridades.
Numa tentativa de forçar Pequim a realizar "mudanças estruturais", o Presidente norte-americano, Donald Trump, impôs já taxas alfandegarias sobre 250 mil milhões de dólares de bens chineses.
Porém, Xi Jinping considerou, no discurso, que os feitos económicos dos últimos 40 anos legitimam o "socialismo com características chinesas", um modelo que permite a iniciativa privada, enquanto o papel dirigente do Partido Comunista (PCC) continua a ser o "princípio cardeal".
Xi assegurou que Pequim vai continuar a promover a abertura e o desenvolvimento, mas ao seu próprio ritmo. "Mudaremos resolutamente o que pode ser reformado, e não mudaremos, resolutamente, o que não pode ser mudado", declarou.
Comentários