O governo quer eleições? Quem o diz é Pedro Nuno Santos

No encerramento das jornadas parlamentares do PS, esta terça-feira, o líder do partido, Pedro Nuno Santos fez questão de deixar algumas críticas à atuação do governo liderado por Luís Montenegro.

Com críticas particularmente económicas, o discurso ficou marcado pela acusação feita ao primeiro-ministro de este desejar eleições caso o Orçamento do Estado não seja aprovado.

“No mesmo dia em que a líder parlamentar [Alexandra Leitão] usa a palavra viabilizar [o Orçamento do Estado], o líder do Governo, o primeiro-ministro ameaça com eleições, desafia para a apresentação de uma moção de censura”, criticou Pedro Nuno Santos, em Castelo Branco.

De acordo com o secretário-geral do PS, é o Governo que tem que “apresentar um orçamento até outubro e se há partido que tem sido fustigado” com o tema é o PS.

“No dia em que o PS fala em viabilizar, disponibiliza-se para viabilizar, aquilo o que o primeiro-ministro tem para fazer, em vez de ser abraçar a disponibilidade do PS para construir uma solução comum, aquilo que temos do primeiro-ministro são ameaças de eleições”, criticou.

A líder parlamentar socialista tinha avisado na segunda-feira que se a margem negocial do Orçamento do Estado “vier fechada” por medidas como o IRC ou IRS jovem fica “mais difícil” o PS viabilizá-lo, exigindo ter uma “palavra significativa” no documento.

O presidente do PSD e primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou na véspera que, se o PS estiver a fazer jogo sobre a negociação do Orçamento, então tenha a coragem de deitar abaixo o Governo.

Pedro Nuno destacou ainda que o Governo "acha que baixar o IRC é a 'bala de prata' para a economia" e por isso está aproximar-se dos ideais dos partidos de direita.

O socialista sublinha que o "pacotão" para a economia é uma aproximação ao Chega, em particular no IRS Jovem que aquele partido de extrema-direita pretende que seja aplicado até aos 40 anos.

Na economia até Cavaco está desiludido

O líder socialista recorreu a políticas económicas do antigo primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva para atirar a Luís Montenegro.

“Deve ser, quase tanto como nós, um dos desiludidos com o chamado pacotão que foi apresentado ao país”, afirmou.

Esta ideia de Pedro Nuno Santos foi explicada com uma viagem no tempo com 30 anos quando Cavaco Silva, “e bem” segundo o socialista, “pediu um estudo que quase todos os economistas conhecem e quem não é economista lembra-se”, referindo-se ao relatório Porter.

“Esse relatório teve consequências na economia portuguesa de sucesso e é um relatório que aliás foi transversal a diferentes governos porque ele foi estando traduzido nas políticas públicas de apoio à economia por diferentes governos: PSD e PS”, disse.

Lembrando que nesse relatório foram identificados setores “onde o país tinha competências e se apoiados podiam escalar” como o têxtil, vestuário, calçado, vinho, o secretário-geral do PS enfatizou a capacidade que Portugal teve de se “transformar com sucesso”.

“Porque houve opções claras num tempo em que havia um governo liderado por Cavaco Silva, que aliás escreve um artigo recentemente onde volta a defender a necessidade de haver uma estratégia de política industrial”, enfatizou, justificando com isso a ideia da desilusão com o pacote da economia.

Pedro Nuno Santos referiu que se dizia que os governos do PS eram “bons a comunicar”, mas foi o executivo de Luís Montenegro que conseguiu “passar para a comunicação social que tinham apresentado um pacotão” para a economia.

“Ficou claro nessa apresentação das 60 medidas algo que é muito preocupante: é que quem governa Portugal neste momento não tem a menor estratégia, a menor visão estratégica para o desenvolvimento da economia nacional”, criticou, considerando que o PSD/CDS-PP não sabem como se transforma “o perfil de especialização da economia portuguesa”.

Uma palavra para o interior e novamente o tema das SCUT

Houve ainda tempo para falar do interior, e o Secretário-Geral lembrou que, quando o anterior Governo do PS decidiu reduzir pela última vez, após o ter feito ao longo de oito anos de governação, as portagens nas SCUT, “caiu o Carmo e a Trindade”.

“Este é o sintoma de uma parte de um país – neste caso a direita portuguesa – que convive com a desigualdade na forma como nós encaramos o desenvolvimento do território”, disse Pedro Nuno Santos, considerando o discurso do primeiro-ministro sobre o fim das portagens nas SCUT é “revelador da forma como olha para o interior: o interior é um peso, é um estorvo e qualquer investimento, decisão ou despesa pública no interior é a mais”.

Admitindo que “não é o fim das portagens que vai resolver os problemas do interior”, Pedro Nuno Santos vincou que “é o mínimo que podemos fazer numa parte do território que tem dificuldades no transporte que não têm os centros urbanos”. É uma medida que “sinaliza a forma como o país deve encarar e respeitar quem vive e trabalha no interior”, asseverou.

O Partido Socialista, que sempre trabalhou “para um Portugal inteiro”, decidiu “investir na mobilidade nas grandes áreas metropolitanas”, dando resposta “à maioria da população. Quando decidimos investir no metropolitano de Lisboa e do Porto dois mil milhões de euros, não ouvimos ninguém do interior a queixar-se”, até porque “qualquer português entende a necessidade de investirmos na mobilidade e no sistema de transportes nos grandes centros urbanos”- sublinhou.

Pedro Nuno Santos garantiu que o PS “não quer um interior contra um litoral” e que não vai permitir “que se faça um discurso que continue a justificar o fosso a que assistimos em Portugal”. Defendeu que, em matéria de mobilidade, o PS é “o único que pode fazer algo”. “Ouvimos invocar-se o investimento na ferrovia como alternativa às autoestradas portajadas, mas se alguém decidiu fazer esse investimento fomos nós. Desapareceu do discurso dos governantes atuais em Portugal a palavra ‘interior’”, não aparecendo sequer no discurso do ministro da Coesão.

*Com Lusa

Veja também

 

Comentários

Entre com a sua conta do Facebook ou registe-se para ver e comentar
mookie1 gd1.mookie1