Carlos, ou charmoso para os amigos, era um homem de família e para a família. E tive a sorte de ser apadrinhado por sua vontade, no dia em que nasci.

Os meus pais e ele eram muito amigos e, ainda que eu não fosse baptizado, ele fez questão que eu fosse seu afilhado com a única condição de me poder inscrever no seu tão amado Belenenses. Confesso que desde os meus dezoito anos que não pago as quotas, por não partilhar da mesma paixão pelo desporto rei que o Carlos tinha, mas sabendo eu do amor que nutria pelo “Belém” tal acto teve grande significado para mim.

Muitas foram as férias na Galé, os jantares e serões de conversas regadas com um sentido de humor requintado, que tão bem o caracterizava.

O que fica? Fica uma obra que a todas e todos nós só nos pode orgulhar. Um legado de canções que são a radiografia da nossa alma.

Ficam as atitudes de um homem com uma “espinha dorsal” e uma retidão sem igual. Fica a imagem de um “gentleman” que mesmo quando me repreendia por estar de chapéu à mesa fazia-o com uma elegância  singular. Fica o exemplo de que um fadista pode e deve agregar tantos colegas, novos e velhos, do fado ou de qualquer outro género musical, partilhando tantas vezes palco com uma generosidade que só um grande artista com o ego bem arrumado pode ter.

Fica uma saudade enorme e uma Lisboa Menina e Moça que, com toda a humildade, continuaremos a tentar cantar.

Um beijo a toda a família, amigos e, especialmente, à incansável e bondosa Judite. Até sempre, querido Carlos.