A média das mínimas de dezembro na zona da grande Lisboa é de 8 ou 9 graus, com variação regional acentuada; na zona do Grande Porto é de 6 ou 7 graus, também com valores muto diversos distribuídos pela área metropolitana da Invicta. No interior do país os valores baixam bastante, pelo que a semana que passou não será, a título nenhum, «excecional» em termos meteorológicos. Foi apenas um pouco mais fria do que aquilo que indicam as Normais Climatológicas, e isto serve para o país inteiro.
A meteorologia faz-se de muitos dados, de muita informação e de muitos anos de análise. Para se chegar a uma média de 10 podemos ter os valores 10, 7, 8, 6, 16, 13, 4, 3, 8, 14, 12, 6, 16, 13, 10, 5, 12, 13, 13, 11, 3, 13, 5, 4, 15, 16, 12, 10, 9 e 13 (por uma questão de visualização, ignorem-se as casas decimais e o caráter aleatório destes números).
Nenhum destes valores em graus é descabido numa manhã de dezembro em Lisboa. Estão aqui 30 «medições». Podemos supô-las como temperaturas no dia 12/12 às 9:00 nos últimos 30 anos, somá-las e dividi-las por 30. Numas ocasiões diríamos que estava calor, noutras que estava frio e na maioria não nos queixaríamos de todo. E as séries climatológicas são precisamente de 30 anos. Olhando para os valores apontados, todos possíveis para o efeito, bem percebemos que estes dias deste dezembro nem sequer foram «muito frios». As médias: para compensar valores elevados nuns anos, terá de haver valores mais baixos noutros. Nenhuma novidade também por aqui.
A meteorologia, sendo uma ciência do dia-a-dia, não é uma ciência do dia-a-dia. Há uma infinidade de parâmetros a ter em conta. Como qualquer outro ramo do saber, cresce com a técnica, com a ciência e com a ciência aplicada à técnica. E, como já se viu, com inúmeros dados.
Estamos em meados de dezembro. Viemos de um outubro quente e de um novembro extremamente quente, que até será, de acordo com o IPMA, o mais quente em Portugal Continental desde que há registos. «O mais quente de sempre» irá sempre carecer de outro caráter de estudos e afinações – durante muitos milhares de anos não houve registos –, pelo que haverá sempre pano para mangas para quem acredita em teorias da conspiração e que dirá que não é bem assim.
Várias noites de novembro foram mais agradáveis que muitas noites de pleno Verão. Houve muitos dias consecutivos de temperaturas acima da média, uma e outra vez, e de manhãs amenas para a altura do ano. Pela forma como acedemos às memórias, em que as recentes são sempre frescas e tendencialmente mais rigorosas, juramos agora que esta rispidez atmosférica é coisa jamais vista.
A ciência da previsão meteorológica assenta precisamente num substantivo muito instável: a atmosfera é uma matriz de muitas entradas – ou, reformulando, é um sistema caótico. A frase «O bater de asas de uma borboleta pode provocar um tufão na China», não servindo para interpretação literal, bem serve de ilustração a um sistema assim.
Portanto, previsões a sério «só no fim do jogo». O rigor perde-se com a distância temporal pretendida – nada tem a ver uma previsão para o dia seguinte com uma para uma semana depois. As variáveis começam a dispersar-se e o que se pode fazer é uma «previsão» baseada da modelação das tendências.
Que tempo vamos ter no Natal e no Ano Novo?
Saber se vai estar frio ou a chover no Natal ou no Ano Novo será sempre um exercício estatístico. No entanto, aqui vai: nos próximos dias, as temperaturas irão manter-se dentro dos valores normais para a época. Há uma tendência de subida acentuada a partir de terça-feira, sendo previsível novo arrefecimento após uns dias claramente «não frios». Neve nas serras no Natal é um cenário plausível, não indiscutível.
Para o Ano Novo é impossível saber. Por curiosidade, refira-se que o dia 1 de janeiro de 2023 foi extremamente quente em várias partes da Europa: 19 graus em Varsóvia e 20 graus em vários pontos da Europa Central. Mais recentemente, no final deste novembro, algumas temperaturas mínimas foram muito superiores a 20 graus no sudoeste de França. Estas noites seriam consideradas quentes em pleno Verão. Em qualquer destes casos estamos na presença de enormes anomalias, não verificadas nesta magnitude em Portugal Continental neste ano que agora termina.
O tempo mexe connosco. É ciência antiga, tema de conversa e quase sempre a primeira pergunta quando alguém vai viver para outra cidade. E todos sabemos que tempo fazia nos eventos importantes da nossa vida.
Há muita sabedoria empírica neste saber que tanto nos diz. Quem vive longe das cidades consegue estimar melhor como vai estar amanhã, pois talvez precise mesmo da previsão. Nas cidades, basicamente, queremos saber se chove ou não. E mesmo isto, parecendo tão pouco, exige muita ciência.
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