Durante vários anos, os números mais precisos - e praticamente os únicos - a serem publicamente divulgados acerca da imigração ilegal nos Estados Unidos recaíam somente sobre as pessoas que eram intercetadas na fronteira com o México, a sul do país.
Agora, nesta segunda-feira, dia 22 de maio, o Departamento de Segurança Interna norte-americana (Homeland Security) divulgou um relatório que olha para outro tipo de imigrante ilegal não documentado: aquele que entra legalmente. A agência procurou contabilizar as pessoas que deixaram caducar os seus vistos no ano fiscal de 2016 (designados como overstays).
Os resultados contam uma história diferente da do número de apreensões registadas na fronteira com o México e sugerem que os EUA devem ampliar o seu para os aeroportos e portos marítimos. Porquê? Vamos a números.
Até ao final do ano fiscal de 2016, cerca de 740 mil visitante não deixaram os EUA no período devido, ultrapassando, em muito, as 415 mil pessoas que foram intercetadas a cruzarem a fronteira a sul, durante o mesmo espaço temporal.
De acordo com os dados da Homeland Security, os canadianos, e não os latino-americanos, foram os maiores incumpridores. Acredita-se que cerca de 120 mil canadianos com visto expirado estavam a viver nos EUA, contra cerca de 47 mil mexicanos. Estes são os dois países que dominam as overstays, num top-10 que inclui países como Brasil, Venezuela, Reino Unido, Alemanha, Colômbia, China, Índia e Itália
No entanto, o número pode ser enganador devido ao facto de esta ser uma métrica instantânea e muito volátil, uma vez que a agência governamental contabiliza o número de pessoas que ficou no país imediatamente após o visto expirar - nem que seja só um dia.
Por exemplo, dos mais de 50 milhões de estrangeiros que entraram por tempo determinado nos EUA no ano fiscal de 2016 - sendo na sua maioria obrigados a sair do país após três meses-, cerca de 740 mil ficaram após a expiração do visto. Mas desses, cerca de 110 mil abandonaram os Estados Unidos até ao final do ano civil. Outros 84 mil saíram no primeiro mês do ano seguinte, em janeiro de 2017, reduzindo o número de overstays para menos de 550 mil, de acordo com o relatório.
Por outro lado, o número parece ser subestimado uma vez que só são contabilizados os viajantes que entraram e saíram do país por avião ou barco. Ou seja, muitos mexicanos e canadianos provavelmente nem sequer chegaram a entrar nas estatísticas porque viajaram por terra.
Sendo esta a segunda vez que o Governo divulga tal informação, torna-se, praticamente impossível, definir qualquer tendência. Um relatório sobre o ano fiscal de 2015 mostrava que existiam cerca de 480 mil overstays embora tenha recaído sobre um grupo muito restrito de viajantes que não incluía estudantes ou trabalhadores (duas variáveis que se mostraram bastante ativas nas estatísticas de 2016).
Uma questão de dólares: 100 milhões vs. 12 mil milhões
A natureza incompleta dos dados fala pelo próprio sistema de imigração dos EUA que continua com dificuldades em rastrear quem sai do país. As Autoridades de Segurança Interna têm tentado melhorar o sistema há vários anos, mas só agora foi possível começar a montar um sistema tecnológico para identificar os viajantes que abandonam os Estados Unidos, mais de 10 anos após a aprovação do Congresso.
Apesar disso o financiamento atribuído a esta tecnologia - 100 milhões de dólares por ano, cerca de 89 milhões de euros -, parece tímido em relação ao projeto do presidente norte americano, Donald Trump, para a fronteira mexicana, onde se fala em cerca de 12 mil milhões de dólares (cerca de 10,7 milhões de euros).
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