“O meu mandato acaba daqui a três anos, com certeza que no meu mandato já não fará sentido. Se o meu sucessor entender fazê-lo no dia seguinte, acho que toda a gente vai aprovar”, disse hoje aos jornalistas o autarca independente, após a guarda do coração de D. Pedro IV, I do Brasil.
Ao longo de uma rigorosa cerimónia protocolar de 40 minutos, que contou com a interpretação, no órgão de tubos da Igreja da Lapa, por Filipe Veríssimo, de obras de Johann Sebastian Bach, Marcos Portugal e do próprio D. Pedro IV, elementos do Batalhão de Sapadores Bombeiros do Porto e da Polícia Municipal, coadjuvados por uma guarda de militares, participaram na recolocação do coração no interior da igreja, para depois regressar ao seu mausoléu permanente.
Numa mesa no centro da igreja, o coração foi introduzido no escrínio por Rui Moreira, que depois foi aparafusado, colocado dentro de uma urna de madeira fechada à chave pela provedora da Irmandade da Lapa, Maria Manuela Rebelo, que entregou a chave ao autarca.
Uma urna exterior, de mogno, já com a primeira urna no seu interior, foi recolhida pelos bombeiros, que o colocaram no mausoléu e fecharam a cinco chaves, posteriormente entregues ao presidente da Câmara do Porto, devolvendo o coração de D. Pedro ao seu local de repouso original.
“Acho que se cumpriu. Os riscos que alguns achavam de o coração não voltar, de haver problemas, acho que tudo isso ficou resolvido”, disse Rui Moreira aos jornalistas.
O autarca relembrou que, para efeitos de reposição do formol que protege o coração do ‘Rei Soldado’, a urna tem de ser aberta, pelo menos, de cinco em cinco anos.
“Publicamente ou em privado é uma decisão futura. Eu acho que a partir de hoje ficou-se com a ideia, de facto, que isto atrai muita atenção”, partilhou.
Segundo números adiantados por fonte oficial da Câmara do Porto, cerca de 10 mil pessoas visitaram, no Porto, a exibição pública do coração de D. Pedro, tanto antes como depois da viagem ao Brasil, no âmbito das celebrações do bicentenário da independência do país.
Rui Moreira acrescentou que, da exposição, ficou “um dispositivo que foi desenvolvido” e “que não vai ser perdido, uma ‘vitrine’ especial”.
“Acho que temos todas as condições para que daqui a cinco anos se faça isto, ou antes. Agora, no meu tempo, com certeza que não”, reafirmou.
Sobre o papel do coração de D. Pedro – que apelidou de “tesouro da cidade” – para a Lapa, Rui Moreira disse que “é uma zona particularmente importante” do Porto.
O autarca independente lembrou que a câmara municipal vai “reabilitar quer a Praça da República”, devolvendo-a “ao seu desenho original”, quer “dignificar também a zona entre a Igreja da Lapa e o quartel-general” em frente.
“Esta é uma zona que, naturalmente, espero que venha a ser mais procurada por turistas portugueses, estrangeiros. Acho que para a Igreja da Lapa esta é uma oportunidade”, disse aos jornalistas.
Rui Moreira expressou o desejo de que a igreja seja “também, um lugar para ouvir música”, lembrando a reabilitação do órgão de tubos, com apoio autárquico.
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