A semana passada foi anunciado o Novo Hospital do Oeste. Será construído no Bombarral e deverá ter 467 camas, 16 especialidades médicas e um centro tecnológico e biométrico. O desenho do hospital, e da sua localização, surgem no seguimento de um relatório do Grupo de Trabalho que traçou o perfil assistencial necessário à região. Contudo, esta manhã, o SAPO24 falou com o Presidente da Câmara das Caldas da Rainha que diz estar de luto pela localização do novo hospital, e considera que o relatório foi baseado em critérios insuficientes.

Vítor Marques, Presidente da Câmara das Caldas da Rainha, começa por explicar, em conversa telefónica, que a carta aberta que assinou esta manhã tem duplo significado. Por um lado, está de luto por uma "decisão tomada pelo Senhor Ministro sem ter as condições para o fazer" e por outro, está de luto "de lutar".  O Edil daquele município do Oeste diz que está contra a localização do hospital, não por o querer para si, mas porque o estudo que lhe deu origem "só tinha dois critérios para a submissão do hospital: tempo e distância". "Não se pode investir 250 milhões e só ter em conta esse critério, não se pode ir contra os regulamento do território. Há muita coisa que não foi tida em conta neste estudo e, portanto, está a defraudar as expectativas do conhecimento."

Garante que, por acreditar que o Relatório do Grupo de Trabalho tinha em falta outros critérios pediu um parecer técnico à Universidade de Aveiro, ao Instituto Superior Técnico e ao Centro de Estudos e Desenvolvimento Regional e Urbano, estudo este que diz ter entregado a Manuel Pizarro e a Ana Jorge (que liderava o Grupo de Trabalho). "Aquilo que fizemos foi juntar uma série de critérios que tinham que ser avaliados para tomar uma decisão." Explica que "esse parecer técnico não foi tido em conta, só foi tido em conta o estudo da Comunidade Intermunicipal, do Centro Hospitalar do Oeste e da ARS. Isto defrauda qualquer expectativa que seja uma decisão tomada com todos os dados e, em função disso, mostramos aqui a nossa indignação".

No que aos outros critérios diz respeito, alega "os regulamentos de ordenamento de território que existem, e que só consagram a instalação de um equipamento desta natureza ou em Caldas da Rainha, ou em Torres Vedras porque, de facto, são zonas que têm todas as condições de assistêncialidade ao próprio hospital. Quer na área dos serviços, quer a dar corpo aquilo que os profissionais de saúde, os utentes, e os fornecedores hospitalares precisam para dar apoio a esse hospital."

A proposta de Vítor Marques é que a localização do novo hospital não seja no Bombarral, mas sim em Caldas da Rainha e Óbidos, confrontado com a distância desta localização a outros concelhos do Oeste, refere que " a acessibilidade é fundamental." E, a ter isso em conta, sugere um terreno "junto ao nó da A8, a 600 m do nó da A15, e a 1600 m do nó da IP6, e onde a linha do comboio é contígua". Embora exista linha de comboio, não há estação. Mas, para o Presidente da Câmara não só há uma solução, como acredita que o facto de Bombarral ter uma estação, não é uma vantagem.

"Nós propomos a criação de uma estação. O mesmo não se passa no terreno do Bombarral, que não tem linha  junto. Não está muito longe, mas não está junto e tem algum distanciamento da autoestrada, e um maior distanciamento da estação de comboios, uma vez que para se ir para a estação de comboios tem que se atravessar toda a localidade."

Importa lembrar que o  Grupo de Trabalho sustentou a escolha do Bombarral em critérios de acessibilidade, como a proximidade à saída 11 da Autoestrada 8 (que atravessa todo o Oeste) e à estação de comboios. Mas também sua centralidade em relação aos concelhos que irá servir, e a pela existência de um terreno de 54 hectares que permite a expansão da nova unidade, se tal vier a ser necessário no futuro. Acontece que, para Vítor Marques, a oferta de terreno de Caldas/Óbidos é muito mais vantajosa pela sua "orografia, Caldas tem um terreno liso que não tem linhas de água, não tem qualquer tipo de obstáculos à construção".

Quanto à falta de abrangência de todo o Oeste, seja a nova localização no Bombarral, ou em Caldas da Rainha o Edil justifica que "hoje já há concelhos que  não têm a abrangência do Hospital do Oeste, e que já o fazem noutros hospitais. Nomeadamente Alenquer, tem a sua assistência através do hospital de Vila-Franca de Xira porque são paredes meias um com o outro. Sobral de Monte Agraço, Arruda dos Vinhos e Mafra têm, também, Loures." E acrescenta, "não foi tida em conta outra situação, que pela falta de condições de assistência do Hospital de Santarém, Rio maior aproveita de uma assistêncialidade forte pelas Caldas da Rainha."

Garante que a única solução ótima é a que propõe: Caldas da Rainha e Óbidos, porque o resto já está servido. "Nós temos cinco hospitais nesta região: Leiria, Santarém, Vila Franca, Loures e depois toda a Lisboa. No meio desta área onde há um vazio hospitalar, é aqui no Oeste Norte junto a Caldas da Rainha e Óbidos. A localização deste hospital daria essa resposta." Acrescenta que, não só passaria assim a ficar o Oeste servido, como suprimiria as necessidades, fruto "ineficiência que hoje Leiria e Santarém têm." Alerta ainda, para o facto de "já se falar em fazer uma ampliação ao hospital de Leiria e de Santarém, quando aquilo que nós achamos é que deve ser feito é um hospital do Oeste que dê apoio aquilo que hoje Leiria e Santarém não dão."

Justifica a escolha financeiramente, "porque o investimento de que estamos a falar para um hospital desta natureza são de cerca de acima de 250 milhões, à data. Quando for construído há-de ser muito mais e, portanto, não estou a ver que o nosso país esteja assim tão abonado que possa fazer ampliações em Leiria, ampliações em Santarém, e ao mesmo tempo gastar mais 250 milhões num hospital novo."

Vítor Marques prefere focar-se naquilo que, acredita, o Grupo de Trabalho ignorou. "Nós queremos é tirar partido dos recursos: um hospital no Oeste, mas que faça parte da rede nacional hospitalar. Nós não queremos o hospital só para nós, o hospital tem que fazer parte desta rede hospitalar e tem que estar integrado nesta rede. E esta rede é composta também por hospitais públicos, hospitais privados, e respostas do meio social. E também aqui o Oeste Norte está bastante desfalcado do que são respostas privadas, o Oeste Sul tem mais respostas e tem uma proximidade maior a Lisboa, onde tudo existe para dar uma melhor resposta."

Rejeita ainda a ideia de que a falta de solução para o hospital seja da responsabilidade dos autarcas do Oeste, mas reconhece que neste momento não há consenso.

"Há mais de 20 anos o Estado vai culpando os autarcas do Oeste de não se entenderem na localização do novo hospital e, pelo facto de nãos se entenderem, acabou por não se construir o novo hospital. É uma falácia. Porque o Estado nunca perguntou às autarquias onde querem que se faça o que quer que seja. Estão a ser montadas novas Unidades de Saúde Familiar, o sistema de saúde vai alterar e não perguntaram nada aos municípios. A justiça mudou de um lado para o outro, criaram direções regionais da Proteção civil e não perguntaram nada às autarquias."

Ao SAPO24, lamenta que a coesão territorial e a história não tenham sido consideradas. "As Caldas da Rainha têm a sua génese, a sua construção, e o seu aparecimento à volta de um hospital termal que tem mais de 500 anos. À volta desse hospital foi também dada, ao longo dos séculos, outra assistência não só termal, mas hospitalar. Toda esta região foi construída à volta de um hospital, por isso todos estes anos... séculos, levaram à criação deste território. E se agora, se se perder este hospital todo este território vai ser defraudado. Os serviços, o comércio, tudo aquilo que foi construído à volta deste hospital vai ser destruído. Vai-se destruir um território para construir um novo Hospital no Bombarral que não tem hoje condições para dar apoio. Portanto aquilo que se fala também é destruir um território que tem séculos de formação, em detrimento de um novo território que será construído no tempo, e a seu tempo".

O Presidente da Câmara das Caldas da Rainha não perde a esperança. "Estamos a fazer chegar a nossa voz às pessoas porque as pessoas têm que perceber que a região do oeste ficará mais pobre que caldas vai ficar defraudada da sua economia." O próximo passo é partilhar estas preocupações além do Ministro da Saúde, com o Presidente da República, com a Ministra da Coesão Territorial, e com a CCDR.