"Não acredito que possa manter o mesmo ritmo de viagens de antes. Acredito que, na minha idade e com estes limites, devo poupar-me para poder servir a Igreja ou, pelo contrário, pensar na possibilidade de me afastar", declarou o pontífice durante uma entrevista coletiva no avião que o trouxe de volta ao Vaticano, na noite de sexta-feira para sábado.
Durante a visita de seis dias, a 37.ª viagem internacional desde a sua eleição em 2013, o Papa movimentou-se principalmente em cadeira de rodas e pareceu debilitado. Mesmo assim, cumprimentou a multidão a bordo do "papamóvel".
"Esta viagem foi uma espécie de teste: é verdade que não podemos viajar neste estado, talvez tenhamos de mudar um pouco o estilo", admitiu, ao mesmo tempo que confidenciou que "tentaria continuar a viajar, estar perto das pessoas, porque é uma forma de servir, de proximidade".
"Com toda a sinceridade, não é uma catástrofe, pode-se mudar de Papa. Não é um problema. Mas acho que tenho que me limitar um pouco, com estes esforços", acrescentou o pontífice.
Desde o início de maio, o jesuíta argentino movimenta-se em cadeira de rodas ou bengala, enfraquecido por dores no joelho direito. Para aliviar o sofrimento, recebe regularmente infiltrações e faz sessões de fisioterapia, segundo o Vaticano.
No entanto, o Papa descartou a possibilidade de cirurgia, devido às "sequelas" da anestesia sofrida em julho de 2021 durante a sua operação ao cólon.
A saúde de Francisco - que já teve parte de um pulmão removido na juventude e sofre de ciática crónica - já havia alimentado especulações durante a sua operação no ano passado.
Uma renúncia em breve?
Sobre uma possível renúncia, como o seu antecessor Bento XVI, o Papa repetiu este sábado que a porta está "aberta".
"Mas até hoje eu não empurrei essa porta. Como dizem, não senti isso, de pensar nessa possibilidade. Mas tal não significa que depois de amanhã eu não vou começar a pensar".
Em 2014, o próprio Francisco contribuiu para alimentar a hipótese de uma possível renúncia, considerando que Bento XVI "abriu uma porta" ao renunciar ao cargo. Mas negou rumores no início de julho de que poderia desistir do seu cargo por causa dos seus problemas de saúde.
Três eventos, porém, alimentam as dúvidas, incluindo a realização em 27 de agosto de um consistório para a nomeação de cerca de vinte novos cardeais — entre eles futuros eleitores em caso de conclave —, num período muito incomum para isso.
No processo, o Papa reunirá em Roma cardeais de todo o mundo e viajará para L'Aquila (Abruzzo), para visitar o túmulo de Celestino V, o primeiro Papa a renunciar, no século XIII.
Essa conjunção sem precedentes intriga a imprensa italiana e internacional, que a vê como uma oportunidade para o Papa anunciar a sua decisão ao mundo.
O pontífice argentino também renovou o seu desejo de ir a Kiev, sem maiores detalhes, e confirmou o projeto de uma viagem ao Cazaquistão em setembro, para participar numa cimeira de líderes religiosos.
O Papa indicou ainda que pretende visitar o Sudão do Sul antes de ir à República Democrática do Congo (RDC), quando deveria visitar os dois países no início de julho na mesma viagem, adiada por tempo indeterminado devido ao seu estado de saúde.
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