A saúde como marcador do desenvolvimento

O desenvolvimento dos países melhora a saúde. É uma constante histórica e um traço contemporâneo. O desenvolvimento e a progressão da longevidade coincidiram, e esta coincidência traduz uma causalidade parcial. A extensão da esperança de vida começou graças a uma forma preliminar de desenvolvimento, com a desinfeção do ambiente por via do saneamento das cidades e dos progressos alimentares. Esta melhoria precedeu em algumas dezenas de anos o crescimento económico, que não é, justamente, a mesma coisa que o desenvolvimento.

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O crescimento económico é definido pelo aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Implica sempre uma expansão física. O desenvolvimento económico é uma noção mais alargada e mais qualitativa. Inclui o crescimento, mas também a educação, a saúde e o bem-estar em geral. Os trabalhos de Angus Maddison (1926 - 2010) dizem -nos que o crescimento económico só acelerou por volta de 1820. Foram as condições materiais da existência a determinar a subida inicial da esperança de vida, mas, como desenvolvimento e crescimento não são sinónimos, estas condições podem ter melhorado um pouco antes do arranque do crescimento económico. Simplificando, a saúde começou a melhorar com o desenvolvimento e continuou nessa via com o crescimento.

Além disso, se a saúde é sempre positiva para o crescimento económico, o efeito recíproco – do crescimento sobre a saúde – depende do timing. A curto prazo, o efeito inicial do crescimento pode ser negativo, como vimos durante a primeira revolução industrial: a mortalidade aumentou, e a estatura média das pessoas baixou em vários centímetros, e não apenas nos operários. Esta descida na altura humana é um sinal de deterioração da saúde. A longo prazo, não há dúvidas sobre o efeito epidemiológico
positivo do crescimento até dada altura do século XX. O economista Philippe Aghion lembra, aliás, que depois de 1820 «a demografia seguiu uma trajetória muito semelhante à do PIB».

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Foram, então, os ocidentais que começaram a viver mais tempo, mas no século XX as outras regiões do mundo juntaram-se-lhes. Este alinhamento da esperança de vida acontece mais depressa do que o das riquezas. Sem dúvida porque implica uma disseminação imaterial, a dos conhecimentos em saúde pública e medicina, uma disseminação mais transmissível do que a atividade económica. Para os países menos desenvolvidos, é mais fácil copiar a boa saúde dos outros do que criar prosperidade. As curvas do PIB e da longevidade não são exatamente paralelas, mas ambas sobem.

Os dados que relacionam o desenvolvimento com a longevidade mostram, no entanto, uma diferença entre os países que vai de dez a doze anos. Mesmo com um nível de desenvolvimento igual, nem todos os países oferecem os mesmos cuidados de saúde à sua população. Esta diferença significa que há outras determinantes no que toca às longevidades nacionais. Representa uma esperança para os países menos avançados, que podem tecnicamente aumentar a esperança de vida independentemente do desenvolvimento económico, que esperam, apesar de tudo, atingir. Globalmente, tanto o desenvolvimento como o crescimento têm uma relação com a saúde, mas esta relação é melhor no que diz respeito ao desenvolvimento do que ao crescimento. O desenvolvimento melhora sempre a saúde; quanto ao crescimento, temos menos certezas. Ninguém sabe se o crescimento económico do século XXI irá permitir um progresso infinito da saúde.