O Japão pode ter a primeira chefe de Governo ou o primeiro-ministro mais jovem da história, após uma votação interna do partido do governo prevista para esta sexta-feira, que é considerada a mais imprevisível dos últimos anos.
Nove candidaturas, incluindo duas mulheres, disputam a liderança do conservador Partido Liberal Democrático (PLD), abalado nos últimos meses por um escândalo de financiamento irregular.
O partido tem maioria parlamentar e o vencedor da disputa interna assumirá o cargo de primeiro-ministro ou primeira-ministra da quarta maior economia mundial.
Na política externa, o vencedor ou vencedora terá que enfrentar um panorama complicado na área da Defesa, com a China cada vez mais assertiva na região e a Coreia do Norte que não para de testar armamento, o que aumenta a preocupação dos países vizinhos.
Na política interna, o próximo chefe Governo terá a missão de estimular a economia num cenário de aumento das taxas de juros, depois do Banco Central deixar para trás a política monetária acomodatícia, e de crise demográfica, com o envelhecimento da população.
A seguir, um breve perfil dos principais candidatos e candidatas:
Shinjiro Koizumi, surfista, é filho do popular ex-primeiro-ministro Junichiro Koizumi (2001-2006).
Foi ministro do Meio Ambiente de 2019 a 2021, cargo em que promoveu as energias renováveis.
Também aproveitou o benefício da licença-paternidade durante a gestão do ministério, para dividir as tarefas familiares com a esposa, apresentadora de televisão.
Tudo isto não o torna mais querido pelos veteranos do PLD, que podem considerar Koizumi, de 43 anos, muito jovem para liderar o governo do país.
Shigeru Ishiba é ex-ministro da Defesa muito popular entre os eleitores, mas nem tanto entre os deputados do partido, o que já provocou quatro tentativas fracassadas de liderar o partido.
O político de 67 anos questionou os recentes aumentos das taxas de juros por parte do Banco do Japão e defende ações para lutar contra a saída dos moradores das zonas rurais.
É conhecido como fã de modelos militares em miniatura — incluindo o de um porta-aviões soviético que produziu para a visita de um ministro da Defesa da Rússia.
A ministra da Segurança Económica, Sanae Takaichi, tem um perfil nacionalista, apreciado pela ala mais conservadora do PLD. Era próxima do ex-primeiro-Shinzo Abe, assassinado em 2022 e cujos seguidores ainda têm muita influência no partido.
Takaichi, 63 anos, visita com frequência o santuário xintoísta Yasukuni, que homenageia os japoneses mortos em combate, incluindo vários criminosos de guerra. A sua nomeação como chefe de Governo provocaria, previsivelmente, irritação na China e na Coreia do Sul, que não esquecem os crimes cometidos pelo Japão nos seus países antes e durante a Segunda Guerra Mundial.
Assim como Abe, Takaichi, que tentou assumir a liderança do partido em 2021, defende uma política monetária acomodativa, a despesa pública como ferramenta de estímulo e a energia nuclear.
Mas ao contrário da sua grande referência, a antiga primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, a japonesa tocou bateria numa banda de heavy metal quando era estudante.
Taro Kono, atual ministro da Transformação Digital, é um reformista experiente, derrotado pelo atual primeiro-ministro Fumio Kishida na disputa interna do partido em 2021.
Kono, de 61 anos e que estudou nos Estados Unidos, já trabalhou em vários ministérios e tem 2,5 milhões de seguidores na rede social X.
Treze anos após o desastre de Fukushima, ele flexibilizou a sua oposição à energia nuclear, em nome de uma demanda crescente de energia.
A atual ministra das Relações Exteriores, Yoko Kamikawa, formada em Harvard, é a segunda mulher na disputa.
Durante o seu período como ministra da Justiça, Kamikawa ordenou 16 execuções, incluindo a do líder da seita Aum, responsável pelo ataque de 1995 com gás sarin no metropolitano de Tóquio.
Como chefe da diplomacia, esta mulher de 71 anos recebeu elogios, entre outros motivos por uma visita a Kiev, mas enfrentou dificuldade para reunir apoios e conseguir disputar a liderança do PLD.
Toshimitsu Motegi compartilhou horas de prática de golfe com Shinzo Abe e já foi conhecido como "o homem que sussurrava para Trump" pelo papel na gestão das relações comerciais entre os Estados Unidos e Japão.
Estudou em Harvard e é, aos 68 anos, secretário-geral do partido. Também foi ministro da Economia e das Relações Exteriores.
Mas também é conhecido pelo seu temperamento. Mesmo o ex-presidente americano e novamente candidato Donald Trump disse um dia a Shinzo Abe que Motegi parecia alguém "muito difícil".
Os demais candidatos são o ex-chanceler e atual porta-voz do governo Yoshimasa Hayashi, o ex-ministro da Saúde Katsunobu Kato e o ex-ministro da Segurança Económica Takayuki Kobayashi.
*Por Hiroshi HIYAMA, da AFP
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