Os autos de consignação foram assinados pelo ministro do Planeamento e Infraestruturas, Pedro Marques, que em São João da Madeira defendeu estarem em causa investimentos de proximidade que vão melhorar a mobilidade de pessoas a bens em dois eixos estruturantes da região, garantindo a essas vias "mais fluidez e segurança".
"Sabemos o quão importante vão ser estas intervenções para a mobilidade de pessoas e bens, e também sabemos as dores de cabeça que vão dar ao longo do ano, enquanto as estradas estiverem em obras", declarou o governante, que considera "complexa" a generalidade da empreitada.
No conjunto das duas intervenções serão aplicados mais de cinco milhões de euros e, nesse contexto, o ministro realçou: "Estas obras não têm financiamento comunitário. Foi uma opção política quer do Governo anterior, quer da União Europeia - Portugal passou muito tempo a falar mal do investimento rodoviário e isso foi ouvido em Bruxelas".
O argumento foi contestado, no entanto, pelo presidente da Câmara Municipal da Feira, Emídio Sousa: "O concurso público relativo à EN223 foi lançado em [setembro de] 2015 e a obra deveria ter-se iniciado em 2016. A política de cativações do Governo é que levou ao adiamento".
Quanto ao teor concreto dos trabalhos, António Laranjo, da Infraestruturas de Portugal, explicou que a reabilitação da EN 227, entre São João da Madeira e Vale de Cambra, abrange um percurso de 9,7 quilómetros e custará 1,68 milhões de euros. A obra (cujo concurso público foi lançado em dezembro de 2015) tem um prazo de execução de 360 dias e implicará medidas como a reestruturação de pavimentos, a substituição de sinalização, a instalação de equipamentos de segurança e o melhoramento da iluminação pública e da envolvente paisagística.
Jorge Vultos Sequeira, presidente da Câmara Municipal de São João da Madeira, acredita que isso irá resolver "um problema antiquíssimo que condiciona severamente a mobilidade dos cidadãos e da economia da região".
Já o arranjo da EN223, no concelho da Feira, irá garantir mais fluidez ao troço de seis quilómetros entre o nó local da Autoestrada do Norte e a freguesia de Arrifana (também na fronteira com São João da Madeira). Em 400 dias a empreitada irá absorver 3,5 milhões de euros, o que permitirá proceder ao alargamento das atuais faixas de rodagem e à construção de três novas rotundas, tendo em vista a eliminação de extensas filas de trânsito em horário de ponta.
Emídio Sousa diz-se "contente por a obra se realizar", mas alerta: "Falta resolver a situação de Picalhos e o grave problema que é a zona da Cruz, para onde estava previsto um túnel. A IP tem-nos dito que ele não é exequível, mas estamos dispostos a trabalhar conjuntamente numa solução, porque a cidade cresceu para o lado Norte - hoje já há ali mais de 2.000 pessoas a viver - e temos que resolver o grave constrangimento que impede a travessia de cidadãos e viaturas para o centro".
Já quanto à variante Arouca-Feira, que aguarda há mais de 20 anos pela construção dos seus últimos quilómetros e cuja conclusão Emídio Sousa classifica de "imperiosa", sobretudo tendo em conta que "o concurso já está pronto e ainda não foi lançado", o ministro reconhece-a como "uma das obras prioritárias" no programa de investimentos para reforço de acessibilidades às zonas industriais e responde: "Ainda não foi possível avançar com o concurso público, mas temos a expectativa de que isso se possa fazer nesta legislatura".
Tanto o presidente da Câmara da Feira como o da de São João da Madeira insistiram ainda na necessidade de se requalificar a Linha Férrea do Vouga.
Jorge Vultos Sequeira fê-lo de forma suave: "A reabilitação da linha é decisiva para garantir o acesso à cidade do Porto e a ligações ferroviárias de outra escala. O tempo de viagem é insustentável e pedimos que o Governo olhe para a Linha do Vouga, a cujo respeito a breve trecho vamos entregar um estudo da Associação de Municípios das Terras de Santa Maria".
Já Emídio Sousa (que é quem preside a essa estrutura intermunicipal) foi mais assertivo: "É um investimento caro, mas temos plena consciência do contributo da nossa região para a criação de riqueza do país, sabemos perfeitamente que outras zonas beneficiam do nosso trabalho e estamos fartos de pagar impostos para serem investidos noutras regiões".
Ainda assim, Pedro Marques voltou a dar resposta: "A Linha do Vouga não foi financiada neste quadro comunitário, mas vai voltar a circular em parte do seu percurso e queremos potenciar a sua componente mais turística. Está na altura de programarmos os investimentos nacionais para a próxima década e estaremos muito atentos ao estudo da Associação de Municípios".
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