A prevalência desta prática obstétrica aumentou em todo o mundo neste período, “muito para além da frequência esperada das indicações clínicas” e Portugal não foi exceção, estando mesmos entre os países da Europa com mais alta prevalência, segundo o Relatório de Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), que será hoje apresentado.
Nos hospitais públicos houve uma “modesta descida nas prevalências”, de 36,3% em 2010 para 27,6% em 2015. Contudo, “há uma diferença marcada entre a experiência de hospitais públicos e hospitais privados, que nenhuma regra de boas práticas ou combinação de risco poderá explicar”.
Apesar de a frequência de cesarianas ter descido ligeiramente nos hospitais privados neste período, de 67,5% e 63,4%, situa-se em valores que são o dobro dos verificados em hospitais públicos, sustenta o relatório.
Também a episiotomia, incisão na região do períneo, é mais frequente em Portugal do que nos restantes países europeus, com uma prevalência próxima dos 70% (a Dinamarca tem cerca de 4%).
Para os autores do relatório, as elevadas taxas destas duas práticas obstétricas, que representam “um fator de risco para a mãe e criança”, exigem estudos com profissionais e utentes que permitam “desenhar, testar e implementar formas de atuação sensíveis” à cultura do país, mas que “respeitem as boas práticas clínicas, assegurando às mulheres um conhecimento sólido das consequências imediatas e no curso de vida, da opção pelo parto cirúrgico ou por intervenções como a episiotomia”.
O relatório realça também a importância do aleitamento materno, enquanto estratégia para melhorar os resultados em saúde das crianças, observando que, enquanto em Itália existem 37 bancos de leite humano e em Espanha dez, em Portugal existe apenas um.
Entre 2000 e 2015 foram registados nos hospitais públicos do continente 1.668.132 internamentos, dos quais 79,7% corresponderam a nascimentos, 9% a situações de abortamento e gravidez ectópica e 1,5% a internamentos pós-parto ou pós-abortamento.
Ao longo deste período, nos hospitais públicos, o número de nascimentos diminuiu cerca de 30%, uma situação que se deve em parte ao “crescente peso dos partos” em instituições privadas, de 6.787 para 12.186 entre 2000 e 2015.
Para os autores do relatório, estes dados tornam “imperiosa a utilização de um sistema de recolha de informação comum” a todas as unidades hospitalares que realizam partos no país, porque de outro modo “é impossível conhecer a realidade da saúde e das condições que rodeiam o nascimento”
Recomendam ainda a realização de um Inquérito Perinatal Nacional, a cada cinco anos, que consideram indispensável para que “a vigilância da saúde perinatal se efetue de forma ativa, continuada e sistemática” e a concretização de inquéritos independentes e confidenciais a todas as mortes maternas e infantis e aos casos de morbilidade grave.
O Observatório Português dos Sistemas de Saúde é constituído por uma rede de investigadores e instituições académicas dedicadas ao estudo dos sistemas de saúde.
Tem como finalidade proporcionar a todos aqueles que podem influenciar a saúde em Portugal, uma análise precisa, periódica e independente da evolução do sistema de português e dos fatores que a determinam.
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