“Porque em democracia há sempre alternativa, se não é para hoje, é para amanhã”, disse Assunção Cristas, na sua última intervenção no plenário da Assembleia da República antes de deixar o cargo, dentro de 15 dias no congresso, em Aveiro, que vai eleger o seu sucessor.

Para Cristas, “é dever do CDS dizer a verdade às pessoas”, “é dever do CDS não baixar os braços” e “fazer renovadamente o trabalho de construção de uma alternativa”.

Dez anos depois de ter entrado na Assembleia da República como deputada dos centristas, recordou que a sua intervenção foi “precisamente na área do Orçamento e das Finanças”.

“O que ouvi então, infelizmente, é bastante semelhante ao que ouvi ontem. O que aconteceu a seguir é conhecido”, afirmou a líder centrista demissionária, quando o Governo era já liderado pelo PS e por António Costa, depois de criticar a proposta do Orçamento para este ano.

Para o futuro, Cristas, que vai manter-se como vereadora do CDS na câmara de Lisboa, prometeu continuar “a acreditar na força criadora das pessoas”.

“Continuo a acreditar que temos um país maravilhoso com pessoas extraordinárias, que com o enquadramento certo, com a ajuda certa – que muitas vezes é simplesmente a não desajuda por parte do Estado – podemos construir um país” liderante em vários domínios e verdadeiramente sustentável em todas as suas dimensões”, disse.

Após as eleições de 6 de outubro, em que o CDS perdeu 13 deputados, ficando com apenas cinco, e 4,2% dos votos, Assunção Cristas anunciou que deixaria a liderança do partido no congresso, entretanto marcado para 25 e 26 de janeiro, em Aveiro.

Antes de dar a palavra a Assunção Cristas, o presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, saudou a deputada centrista, antes da sua última intervenção, e desejou-lhe "as melhores felicidades para o futuro", apesar de "alguns debates tensos" no passado recente entre os dois.

Já fora do discurso escrito, distribuído aos jornalistas, a deputada centrista, que recebeu palmas das bancadas do PS para a direita, afirmou o seu orgulho de ter desempenhado "a mais nobre função" em democracia, de "representar os cidadãos" no parlamento.

E recordou que os Governos "respondem" dependem "sempre, sempre" da Assembleia da República.

"Maior carga fiscal" votado com "apoio político" da esquerda

“Muda-se o nome, de aprovação para abstenção, mas mantém-se a responsabilidade política do BE, do PCP, dos Verdes e do PAN neste orçamento e nestas políticas”, afirmou Cristas no discurso de encerramento do CDS no debate, na generalidade, do Orçamento em que os centristas já anunciaram o voto contra.

A ainda presidente dos centristas, que deixa o cargo dentro de 15 dias, no congresso de Aveiro, fez a intervenção final do CDS no debate do orçamento na generalidade e usou, muitas vezes, a palavra “continuidade”, com que o primeiro-ministro, António Costa, definiu este OE2020.

Se concordou ser de continuidade na redução e “agora eliminação” do défice, pelo “efeito duplo do aumento da receita fiscal e da redução do custo com juros”, Cristas passou minutos a criticar outras “continuidades”.

E foi enumerando as “continuidades” negativas, na “maior carga fiscal”, para os “piores serviços públicos de sempre”, na “perda de poder de compra”, no “crescimento aquém” do potencial do país ou ainda na “dívida pública demasiado elevada”.

O resultado é que, segundo Cristas, Portugal “não mudou estruturalmente como podia e devia”, “o sorvedouro do Estado tudo leva” e continua a ser incapaz de “atrair o investimento com seriedade, como competitividade fiscal”.

(Notícia atualizada às 16:51)