Louise Brown nasceu em 25 de julho de 1978 em Oldham, uma cidade no interior da Inglaterra, através de um método então inovador, a Fertilização In Vitro, desenvolvido pelo ginecologista Patrick Steptoe e pelo embriologista Robert Edwards, este último galardoado com o Nobel da Medicina em 2010.
O seu nascimento foi recebido com grande felicidade pelos pais, Leslie e John Brown, que durante nove anos tentaram, sem sucesso, uma gravidez, e foi notícia em jornais e televisões de todo o mundo. Muitas questões éticas foram levantadas na altura e em torno da técnica utilizada.
Desde então, já nasceram mais de oito milhões de bebés no mundo através das diferentes técnicas de procriação medicamente assistida, segundo um estudo apresentado no início do mês, em Barcelona, no congresso da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, com base em registos de 1991 a 2014.
Os especialistas estimam que mais de meio milhão de bebés nascem todos os anos fruto destas técnicas, de um total de dois milhões de tratamentos contra a infertilidade realizados anualmente.
Em declarações à agência Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina da Reprodução, Pedro Xavier, falou da importância para a medicina do nascimento do primeiro bebé-proveta e para os casais inférteis, que em Portugal são cerca de 300 mil.
“Olhando para trás considero que esse momento foi tão importante na medicina como o primeiro transplante cardíaco ou um procedimento dessa natureza, porque veio mudar a vida de milhões de pessoas, entre casais e crianças nascidas”, disse Pedro Xavier.
Para o médico, os tratamentos realizados por Patrick Steptoe e por Robert Edwards foram “marcantes e pioneiros” na sua abordagem. “Foram realizados com meios que hoje consideraríamos rudimentares face à evolução que a ciência teve nesta área nestes 40 anos”, mas no essencial os conceitos mantêm-se.
“Hoje os tratamentos são efetuados de forma diferente”, a nível da medicação e dos meios tecnológicos, “mas no essencial os conceitos que foram lançados e a raiz que foi deixada nestes tratamentos demoraram estes 40 anos e o mérito de quem o fez ficará para a história”, salientou.
Este avanço na ciência também foi “uma resposta a muitos céticos” que olhavam para a investigação e para a abordagem destes dois cientistas com alguma desconfiança.
“Foi uma resposta de incrível impacto pelo seu sucesso, mostrando que era possível chegar ao objetivo de ajudar os casais a ter filhos por meio de uma ciência muito diferenciada”, ao mesmo tempo que ajudou a “quebrar alguns tabus” sobre o nascimento destas crianças.
Mas, por outro lado, “aumentou os receios” de setores conservadores, que “passaram a ter um olhar um pouco mais preocupado por estas técnicas que ainda hoje, nalguns setores que eu diria já ultraconservadores, ainda se pode encontrar”, disse Pedro Xavier.
“A visão mais desconfiada de quem acha que as pessoas não se deviam submeter a este tipo de tratamentos habitualmente é uma visão de quem nunca teve a vivência destes problemas de infertilidade”, frisou.
A presidente da Associação Portuguesa de Fertilidade, Cláudia Vieira, também salientou “o avanço significativo” realizado pelos investigadores para “os casais com problemas em conceber naturalmente”, que ultrapassaram assim algumas situações clínicas lhes permitem “concretizar o projeto de família e de serem pais biológicos”.
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