Trabalhei, não de casa, mas remotamente, há já alguns anos. Durante esses anos, o meu trabalho implicou viajar bastante. Isto significa que me levou a trabalhar, não só de casa, mas em escritórios diferentes do habitual, a partir de quartos de hotéis, de cafés, de aeroportos e até de aviões.

Não vou negar, não foi fácil ao início a falta de rotina e de um espaço fixo, mas com o tempo fui-me adaptando, fui aprendendo alguns truques e, hoje, é algo simplesmente normal. Deem-me um computador e ligação à Internet e é quanto baste.

Não é verdade que a rotina tenha que se alterar completamente, pelo contrário, cedo percebi que era importante manter alguns aspetos, tais como o horário. Começar à mesma hora, acabar à hora habitual e certificar-me que faço pausas, faz a diferença. Manter a produtividade numa situação como esta implica, também, garantir que não se trabalha de menos, mas também, que não se trabalha de mais. Para mim, a melhor rotina começa de véspera. Tinha já o hábito de preparar a marmita e a roupa de véspera e continuo a fazê-lo.

Em casa é importante designar e montar um espaço exclusivo para trabalhar. Não deve ser a cama, nem o sofá, nem a mesa de refeições. Nunca é demais relembrar que somos criaturas de hábitos e aquilo a que estamos habituados a associar ao lazer, tendencialmente, diminuirá a nossa produtividade. É também útil desativar todas as notificações no telemóvel que não estejam associadas ao trabalho. É muito mais fácil cedermos a distrações quando não estamos em ambiente de trabalho e podemos aproveitar as tão importantes pausas para ver as redes sociais ou o e-mail pessoal ou outras aplicações.

No entanto, e dependendo da dimensão da sua casa, pode ir de vez em quando variando os sítios onde trabalha. Por exemplo, se tiver uma varanda, pode, por vezes, usá-la para trabalhar por curtos períodos de tempo. Essa mudança no ambiente reduz o fator de aborrecimento associado a estar a trabalhar sempre no mesmo sítio, principalmente por estar em casa a maior parte do tempo.

Quando precisar de entrar em contacto com alguém, reunião, brainstorming, privilegie uma videoconferência. Ver um rosto e comunicar com alguém, mesmo que seja através de um ecrã de computador ou tablet, ajuda a reduzir o sentimento de solidão que poderá por vezes sentir.

Se costuma levar mais tempo a ir para o trabalho, seja de carro ou de transportes públicos e costuma usar esse período para ouvir um podcast ou ler um livro, continue a fazê-lo. Antes de começar e depois de acabar. Este processo irá dar um sentimento de dever cumprido, antes mesmo de começar a trabalhar e, assim, ajudará na sua motivação e a entrar (e a sair) no modo trabalho. Procure também um hobby que o ajude a desligar do dia de trabalho. Por exemplo, se costuma fazer exercício físico, pode neste momento seguir várias contas nas redes sociais que nesta altura dão dicas de exercícios que pode fazer em casa e manter-se ativo.

Pessoalmente, como sou grande fã de golf, voltei a usar o tapete que tinha comprado há vários anos e que simula um putting green e vou treinando dia sim dia não. Ter criado este novo hábito dá-me uma motivação extra para manter-me produtivo, pois sei que, quando terminar o meu trabalho, posso focar-me no meu hobby preferido.

No final, o mais importante é que sejamos todos razoáveis neste novo modo de vida. Mais que nunca, é importante que haja confiança entre as partes, entre colegas, entre chefias e entre chefes e aqueles que diretamente lhes reportam. Não podemos ser muito exigentes, nem com nós próprios, nem com quem trabalhamos, seja a equipa que gerimos ou nossos pares. É preciso ter em mente que, para muitos, trabalhar remotamente é todo um mundo novo e que existe uma curva de aprendizagem e habituação associada. Se não confia na sua equipa é porque, provavelmente, cometeu um erro de recrutamento e, então, você é o problema. Precisa de ter controlo sobre tudo e todos e fazer micro-gestão? Novamente, você é o problema e precisa de resolvê-lo.