"Não há nenhum número mágico para definir a proporção da população que necessitará de ser vacinada, isso está associado a quão transmissível o vírus é", afirmou a diretora do Departamento de Imunização, Vacinas e Produtos Biológicos da OMS, Kate O'Brien.

Segundo a pediatra, que falava na habitual videoconferência de imprensa da OMS sobre a pandemia da covid-19, "o consenso" é que "uma maior parcela da população necessita de ser vacinada para se atingir o efeito da imunidade de grupo" consoante "as variantes do SARS-CoV-2 são mais transmissíveis, e estão a surgir em todo o mundo".

"Sabemos que com o vírus da varíola, altamente transmissível, precisamos de 95% da população vacinada", sublinhou.

A variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2, dominante em vários países, incluindo Portugal, é apontada, num relatório dos Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, como sendo mais contagiosa que os vírus que causam a gripe sazonal e a varíola.

Na terça-feira, o diretor do Centro de Vacinas de Oxford, Andrew Pollard, que considerou o desenvolvimento da vacina contra a covid-19 do laboratório AstraZeneca, admitiu ser impossível atingir a imunidade de grupo face à prevalência da variante Delta.

Segundo Pollard, que falava numa comissão parlamentar, no Reino Unido, esta estirpe, a mais transmissível de todas as estirpes do coronavírus que provoca a covid-19, "continuará a infetar as pessoas que se vacinaram".

"Isto significa que qualquer pessoa que ainda não se vacinou vai ficar em algum momento infetada com o vírus", afirmou, citado pela agência noticiosa Efe, alertando para a eventual possibilidade de aparecer uma nova variante que "talvez se transmita ainda melhor entre as populações vacinadas".

Para Andrew Pollard, os planos de vacinação contra a covid-19 não devem, por isso, basear-se na ideia da imunidade de grupo (que se alcança quando uma grande maioria da população está protegida contra um agente infeccioso, geralmente através da vacinação, reduzindo o risco das pessoas que não estão, incluindo as que não podem ser vacinadas ou nas quais a vacina não surtiu efeito).

De acordo com um relatório publicado na semana passada pela agência de saúde pública inglesa, "os níveis virais nas pessoas vacinadas que se infetam com a variante Delta podem ser similares aos detetados em pessoas não vacinadas".

Hoje, na videoconferência de imprensa da OMS, a diretora do Departamento de Imunização, Vacinas e Produtos Biológicos da organização, Kate O'Brien, realçou a importância da vacinação contra a covid-19 a par das medidas sanitárias, como o uso de máscara, o distanciamento físico e a lavagem das mãos.

Kate O'Brien lembrou que as vacinas em circulação contra a covid-19 "são muito eficazes" a prevenir a doença grave e a morte, pelo que a sua "distribuição equitativa" é necessária para evitar "infeções sérias em todo o mundo".

Contudo, "não temos vacinas que sejam altamente eficazes na redução da transmissão" do vírus, ressalvou.

A pandemia da covid-19 provocou pelo menos 4.314.196 mortes em todo o mundo, entre mais de 203,9 milhões de infeções, segundo o mais recente balanço da agência noticiosa AFP.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 17.514 pessoas e foram registados 993.241 casos de infeção, de acordo com os dados atualizados da Direção-Geral da Saúde.

A covid-19 é uma doença respiratória provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e que se disseminou rapidamente pelo mundo.

A OMS classificou quatro variantes do SARS-CoV-2 como preocupantes, sendo a Delta a mais transmissível.

OMS vaticina mais de 300 milhões de casos no início de 2022

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS) vaticinou hoje mais de 300 milhões de casos notificados de covid-19 no início de 2022, a manter-se a atual trajetória de aumento de infeções com o novo coronavírus.

Segundo Tedros Adhanom Ghebreyesus, as infeções com o SARS-CoV-2 e as mortes por covid-19 "continuam a aumentar" no mundo "apesar das vacinas".

"Com a trajetória atual podemos ter mais de 300 milhões de casos notificados no início do ano que vem", afirmou, assinalando que o mundo atingiu 200 milhões de infeções na semana passada, "seis meses depois de ter ultrapassado a marca de 100 milhões".

"Podemos mudar esta situação, mas o mundo não está a agir de forma conjunta", disse, numa crítica, que tem sido reiterada, à falta de distribuição universal e equitativa das vacinas contra a covid-19, que continuam a não chegar aos países mais pobres, sobretudo de África.