Antes de mais, uma informação preciosa para perceber por que motivo os laboratórios estão sobrecarregados nesta altura: muitas pessoas que estão a fazer teste ao Covid-19 não precisavam, de facto, de o fazer. Mas o medo está, em várias situações, a levar a melhor e, com isso, os pedidos disparam, retirando capacidade de resposta a quem, de facto, necessita de realizar a análise.

Existe em Portugal a Rede Portuguesa de Laboratórios para o Diagnóstico da Gripe, criada pela Direção-Geral de Saúde e pelo Laboratório Nacional de Referência para o Vírus da Gripe e outros Vírus Respiratórios, em 2009, que integra mais de dez hospitais do Serviço Nacional de Saúde.

Mas, além destes hospitais, entre os quais se encontram o Curry Cabral, o D. Estefânia, o Santa Maria, em Lisboa, ou o São João, no Porto, há ainda os laboratórios privados, a quem recorrem habitualmente os hospitais privados, em regime de outsourcing. Na lista estão o Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa (a quem o SNS também recorre), a Joaquim Chaves Saúde, a Synlab (utilizada pelo Hospital da Luz e Mello Saúde) ou a Unilabs, entre outros.

Inicialmente, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge também estava a fazer testes, mas apenas em número limitado, já que os procedimentos estabelecem que seja o instituto a fazer os primeiros cinco testes negativos enviados por cada hospital, para validação, e os primeiros cinco testes positivos, não para validação, mas para estudo.

Nesta altura, o instituto está a fazer apenas os que ainda não preencheram a quota dos cinco testes ou aqueles que lhe são enviados por qualquer motivo específico. O laboratório do Instituto Ricardo Jorge tem capacidade para realizar cerca de 400 testes diários (e desde que a amostra chega até ser conhecido o resultado leva quatro a cinco horas).

Quanto aos laboratórios privados, só o laboratório Germano de Sousa tem capacidade para realizar até 300 a 350 destes testes por dia, se tiver uma equipa a trabalhar horas extra. O laboratório possui dois equipamentos, cada um com capacidade para 50 kits (amostras). Em média, o resultado do teste demora sete horas a ser conhecido, mas pode acontecer um equipamento estar a funcionar abaixo da capacidade, já que nem todas as amostras chegam ao mesmo tempo e com a mesma urgência.

Agora, veja-se a transformação: no dia 4 de março o SAPO24 falou com Germano de Sousa, que avançou que o laboratório já estava a fazer testes, mas apenas a título experimental, apesar de já ter alguns pedidos. À data de hoje, passadas cerca de duas semanas, o laboratório não tem mãos a medir, apesar de apenas ser possível realizar o teste com prescrição médica - porque a verdade é que todos conhecem um médico que, com boas intenções, acabará por ajudar.

Germano de Sousa explica que não vale a pena fazer o teste se o paciente não tem sintomas (febre, ou tosse ou dificuldade respiratória), pois o mais provável é dar negativo. Ainda assim, muita gente quer fazê-lo para descartar a hipótese de estar infectado com SARS-CoV-2.

O teste, que custa agora 150 euros, custava há duas semanas 200 euros. "É caro, mas a culpa não é nossa", afirmou Germano de Sousa, já com a previsão de que "daqui a 15 dias o preço vai baixar". Baixou.

Como funciona o teste?

Se acordar com febre, falta de ar ou tosse - os sintomas do novo coronavírus - vai querer saber como fazer o teste e o que isso implica. Em Portugal, como em toda a Europa ou Estados Unidos, um profissional de saúde vai fazer-lhe uma zaragatoa à faringe, ou seja, com uma espécie de cotonete comprida vai esfregar a parte de trás da garganta, retirar-lhe gotículas e enviar a amostra para análise. Se o resultado for positivo, a análise será repetida.

O esfregaço da garganta é adequado para testes conhecidos como PCR, enquanto a amostra de sangue, como se faz na China, é extraída para anticorpos específicos para a nova doença, o COVID-19. Existem testes rápidos de PCR, mas ainda não estão disponíveis em Portugal. Os testes de PCR funcionam através da deteção de material genético específico dentro do vírus. Dependendo do tipo de PCR disponível, os profissionais de saúde podem esfregar a parte de trás da garganta, tirar uma amostra de saliva, recolher uma amostra líquida do tracto respiratório inferior ou até de fezes.

Enquanto um teste sorológico pode detectar anticorpos mesmo que um paciente se tenha recuperado, um teste de PCR só detecta o vírus se a pessoa estiver doente. No entanto, ambos os testes podem falhar nos caso de as amostras serem recolhidas muito cedo, quando a carga viral é muito baixa ou o corpo ainda não produziu anticorpos contra o vírus.



Germano de Sousa acredita que, nesta altura, muitas pessoas já estão ou estiveram contaminadas com Covid-19, "só que nem souberam". Além de os sintomas não serem iguais para todos, também a doença não evolui sempre da mesma maneira, havendo casos mais leves, "e que as pessoas trataram como uma simples constipação", e casos mais graves, "que requerem hospitalização e um tratamento mais agressivo".

Uma coisa é certa, ninguém deve fazer o teste sem, realmente, ter fortes e fundamentadas suspeitas de que se trata de Covid-19. Caso se encontre no grupo de risco, a atitude correta é telefonar para o SNS 24 (808 24 24 24) e, até lá, adoptar o comportamento de um caso positivo. Enquanto o INEM ou os bombeiros poderão ser accionados para ir buscar um paciente a casa, a maior parte dos laboratórios privados não vai ao domicílio nestes casos. No caso do laboratório Joaquim Chaves, os utentes que estejam em auto isolamento, prescrito ou voluntário, podem no entanto requerer o serviço de despiste ao domicílio, que será realizado mediante disponibilidade.

De acordo com relatório de hoje da DGS, há 331 casos confirmados de Covid-19 em Portugal, 374 a aguardar resultado laboratorial e 2908 casos suspeitos. E 2203 casos não confirmados.