"Eles também não podem fazer flores. Não é que eu seja da cor deles, que não sou, até sou de outra cor ainda mais revolucionária, mas reconheço que estão no direito deles", diz Manuela Azevedo, enquanto espera por um autocarro com a mãe. Em dia de paralisação quase total do metro do Porto, está a tentar chegar à avenida Antunes Guimarães, em Ramalde. A greve não a obrigou a mudar grande coisa no percurso, mas fê-la perder mais tempo: "até tenho o autocarro mais próximo, só que é mais rápido o metro".

Manuela vai falando enquanto espreita por cima das cabeças na paragem para confirmar o número dos autocarros que param. O vai e vem na paragem é constante, mas esta portuense diz que não se notou que houvesse mais gente no autocarro.

"Meu amigo, eles estão a lutar pelo que querem, não é?", atira. "Mas até vou-lhe dizer, no Metro do Porto é a primeira vez que vejo na minha vida aquilo fechado. É que está mesmo fechado!". E está mesmo: das seis linhas, só um pequeno troço funcionou esta segunda-feira. Apenas quatro dos 207 agentes de condução ao serviço da ViaPorto estiveram a operar.

"Ainda pensava que ia arranjar um ou outro, porque nunca aconteceu isto aqui no Porto", conta. Foi a primeira vez em 16 anos que houve uma paralisação assim.

"Já viu, no fim do ano? Quando as pessoas vão todas para a Baixa", diz, lembrando que há mais dois pré-avisos de greve, marcados para dia 17 e 31 deste mês.

Manuela Azevedo entra no autocarro, alternativa que usa por causa da paralisação no metro de dia 10 de dezembro de 2018. PEDRO SOARES BOTELHO / MADREMEDIA créditos: PEDRO SOARES BOTELHO / MADREMEDIA

“Ninguém quer fazer greves: nem a empresa quer a greve, nem os trabalhadores querem a greve, porque a greve é um protesto, é um marcar de posição de protesto. Portanto, como é óbvio, a greve está marcada mas fazemos tudo para fazer um entendimento com a empresa para que no dia 17 as relações estejam normalizadas e estabilizadas”, diz Rui Santos, dirigente local do Sindicato dos Maquinistas.

“Nestes últimos anos houve sempre um clima de diálogo e esperamos continuar a ter neste acordo a disponibilidade que houve sempre, no sentido de discutir as matérias que dizem respeito aos maquinistas aqui na Metro na sua relação laboral”, diz Rui Santos.

Porém, a ViaPorto, subconcessionária responsável pela operação da Metro do Porto, diz em comunicado que “o [Sindicato dos Maquinistas] apresentou um conjunto de reivindicações impossíveis de satisfazer (e nunca antes exigidas) face aos instrumentos e aos meios de que a ViaPorto dispõe, e que, caso fossem executados, conduziriam à inviabilidade da empresa”.

A empresa acusa ainda o sindicato de não ter “querido encontrar uma solução realista e exequível, prejudicando, com a sua decisão, os milhares de passageiros que diariamente utilizam o Metro do Porto para assegurar a mobilidade que necessitam” e rejeita “qualquer responsabilidade pela anunciada greve”, afirmando que “tudo fará para procurar, com os meios ao seu alcance, minimizar o impacto à população”.

Sem Metro, os autocarros vão cheios

Luísa vem dos Aliados e está a caminho de Ramalde. Teve de sair do autocarro perto da Casa da Música, junto à Rotunda da Boavista. "Estava cheio de gente, o calor é insuportável e não deu para aguentar", queixa-se. "Tive de sair aqui e esperar por um próximo autocarro", continua.

Não foi o único imprevisto que enfrentou esta segunda-feira: "tive de fazer caminhada a pé, porque chegava mais rápido aos locais onde pretendia ir a pé do que esperando pelo autocarro".

"Não se faz", atira. "Nós pagamos os nossos passes e nem os serviços mínimos são assegurados”.

Lavínia Joaquim e Mafalda Nicolau estão junto à estação da Trindade, na Baixa do Porto. Apesar das luzes acesas, a estação está fechada. As muitas pessoas que costumam passar por aquela estação, juntam-se à beira das paragens de autocarro.

É lá que as jovens estão. Lavínia é de Rio Tinto, concelho de Gondomar, e estuda no Porto. "A minha mãe teve de me vir trazer de carro", conta. "Também tinha a opção de vir de comboio, mas tinha de andar vinte minutos até à estação, no autocarro ainda tinha de andar mais".

Agora, vai apanhar dois autocarros para o regresso.

Lavínia Joaquim e Mafalda Nicolau aguardam pelo autocarro junto à estação de metro da Trindade devido à greve que paralisou a rede do metro no dia 10 de dezembro de 2018. PEDRO SOARES BOTELHO / MADREMEDIA créditos: PEDRO SOARES BOTELHO / MADREMEDIA

Mafalda teve de dormir em casa da mãe para conseguir ir à escola. Junto a casa do pai só passam os autocarros que "vêm de Ermesinde e estão tão cheios que nunca param". A conversa é interrompida por buzinadelas — é que o trânsito automóvel também sentiu a greve: "saímos às 7:20 de carro e já estava mesmo cheio na zona da Circunvalação", diz Lavínia.

Segundo a agência Lusa, esta segunda-feira de manhã, em estações de metro de vários concelhos, nomeadamente Porto, Gondomar e Vila Nova de Gaia, a paralisação deixou desertas as estações do metro e os autocarros cheios, notando-se ainda um acréscimo de carros a circular nas ruas, o que aumenta as filas de trânsito.

Este foi o primeiro de três dias de greve no Metro do Porto. A rede conta com seis linhas, servindo sete concelhos da Área Metropolitana do Porto. Os trabalhadores reclamam a redução da carga laboral, a alteração na categoria profissional e mais contratações.