Desde o golpe de Estado de 2021,”os militares mataram pelo menos 3.500 civis” e prenderam mais de 20.000 pessoas, disse o relator especial da ONU para os direitos humanos em Myanmar, Tom Andrews, num relatório citado pela agência francesa AFP.
A junta importou “armas, tecnologia de dupla utilização e materiais de armamento” entre 1 de fevereiro de 2021, o dia do golpe, e dezembro de 2022, principalmente de fornecedores russos, chineses, indianos e de Singapura.
“As entidades russas e chinesas são essenciais para o exército” birmanês para obter armas e peças sobressalentes, escreveu Andrews no relatório de 56 páginas.
“Estas armas e os materiais necessários para as fabricar continuaram a fluir ininterruptamente para o exército birmanês, apesar das provas irrefutáveis da sua responsabilidade por crimes atrozes”, afirmou o perito da ONU.
Andrews citou um “ataque brutal” recente contra uma aldeia controlada pela oposição, no qual foram mortas 170 pessoas, incluindo crianças.
Para o perito, trata-se de “mais um exemplo de como a junta birmanesa utiliza armas fornecidas internacionalmente (…) para cometer atrocidades”.
No relatório, Andrews apelou para uma proibição total da venda ou transferência de armas para Myanmar e exortou os países da ONU a aplicarem sanções contra os traficantes de armas e as fontes de divisas.
“Ao alargar e realinhar as sanções e ao colmatar as lacunas, os governos podem desarticular os traficantes de armas ligados à junta militar”, defendeu.
O relator do Conselho dos Direitos Humanos da ONU lamentou que “os Estados-membros não tenham visado adequadamente as principais fontes de divisas de que a junta depende para comprar armas, incluindo a Myanma Oil and Gas Enterprise”.
De acordo com o documento, a junta importou armas e equipamento no valor de 406 milhões de dólares (375 milhões de euros) da Rússia, 267 milhões de dólares (191 milhões de euros) da China e 51 milhões de dólares (47 milhões de euros) da Índia.
Empresas sediadas em Singapura forneceram armas no valor de 254 milhões de dólares (234 milhões de euros) e entidades com sede na Tailândia venderam equipamento no valor de 28 milhões de dólares (25 milhões de euros).
O país do Sudeste Asiático, com mais de 57 milhões de habitantes, é governado pelos militares desde o golpe que derrubou o governo eleito de Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da paz de 1991.
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