A descrição da atual situação alimentar do país caribenho é feita por Adoniram Sanches, coordenador sub-regional para a Mesoamérica (que compreende o México e o norte da América Central) e representante da Organização de Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO) no Panamá e na Costa Rica.
“O Haiti sempre registou entre 40% e 50% (de fome), houve uma ligeira redução nos últimos anos, mas agora já atinge quase metade da população”, afirmou o representante, numa entrevista à agência espanhola EFE.
De acordo com os dados fornecidos por Adoniram Sanches, 48% da população do Haiti, país que conta com cerca de 11 milhões de habitantes, “passa pura fome”.
“É uma grave situação de insegurança alimentar”, que resulta de “fenómenos climáticos e sociais”, prosseguiu.
O Haiti regista graves problemas económicos, políticos, sociais e de insegurança, nomeadamente com raptos para a obtenção de resgates realizados por gangues que quase sempre ficam impunes.
O país ainda tenta recuperar do devastador terramoto de 2010 e do furacão Matthew em 2016.
A inflação tem aumentado e os alimentos e combustível escasseiam no país das Caraíbas, onde 60% da população ganha menos de dois dólares (1,69 euros) por dia.
O clima de crise agravou-se ainda mais com o assassínio, na semana passada (dia 07 de julho), do chefe de Estado do Haiti, Jovenel Moise.
Na opinião de Adoniram Sanches, o Haiti pode ser encarado como “uma tempestade perfeita”, porque é “duramente atingido pelas alterações climáticas”, arrasta “uma instabilidade política ao longo dos últimos 20 anos” e, atualmente, também enfrenta à pandemia da doença covid-19.
Como resultado, frisou o representante, “metade da população está a passar fome”.
“O Haiti produz arroz desde as décadas de 1930 e 1940, mas entrou num ciclo de instabilidade política e institucional”, acrescentou.
Para o alto funcionário das Nações Unidas, o atual contexto do país faz antever “uma terrível expectativa” para o futuro, a médio e a longo prazo, porque “o conflito social está instalado”.
O Haiti, a primeira colónia da região da América Latina e das Caraíbas a conquistar a independência (1804) depois de França ter exigido uma dívida exorbitante para reconhecer o novo país, que levou mais de um século a pagar, “deve procurar a paz nos próximos quatro ou cinco anos”, defendeu Adoniram Sanches.
Para este país caribenho, que atravessa a sua pior crise humanitária, segundo classificou o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a cooperação internacional e a ajuda humanitária são essenciais para alcançar a estabilidade, concluiu o alto funcionário.
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