O anúncio foi feito pela antiga presidente do Chile durante o seu primeiro discurso perante o Conselho de Direitos Humanos, que está reunido até 28 de setembro em Genebra.

Na ocasião, Bachelet criticou a Itália por impedir a entrada no país de barcos de resgate de Organizações Não Governamentais (ONG) com imigrantes a bordo.

“Este tipo de posicionamento político e outros acontecimentos recentes têm consequências devastadoras para muita gente já por si vulnerável”, afirmou, lamentando que, embora o número de imigrantes que cruza o Mediterrâneo tenha descido, a taxa de mortalidade aumentou.

Bachelet denunciou ainda, em referência à Itália, que dar prioridade ao “regresso dos imigrantes da Europa sem garantir que se respeitam obrigações internacionais-chave em matéria de direitos humanos não pode ser considerada uma resposta adequada”.

O ministro do Interior de Itália, Matteo Salvini, já reagiu às declarações de Bachelet, adiantando que o seu país não recebe lições em matéria de políticas de imigração.

“Não aceitamos lições de ninguém, muito menos das Nações Unidas, que se mostra [uma organização] incapaz, inutilmente cara e desinformada”, disse.

“A Itália acolheu nos últimos anos 700 mil imigrantes, muitos deles clandestinos, e nunca recebeu apoio de outros países europeus”, prosseguiu o também número dois do Governo.

Matteo Salvini adiantou que as forças de segurança italianas desmentem que haja um aumento alarmante de atos de racismo.

“Antes de investigar a Itália, as Nações Unidas deviam investigar os outros estados-membros que ignoram direitos elementares como a igualdade entre homens e mulheres”, sugeriu.

Salvini, que lidera o partido Liga [extrema-direita], é o rosto mais visível do endurecimento das políticas anti-imigração na Europa.

Nas últimas semanas afirmou que, com a sua política, conseguiu reduzir a chegada de imigrantes clandestinos e que agora é momento de acelerar as repatriações e expulsões para os países de origem.

Durante a sua intervenção, Michelle Bachelet mostrou-se também preocupada com as discussões na União Europeia sobre a criação de centros de gestão de imigrantes em países africanos.

“A perspectiva de que a UE subcontrate a sua responsabilidade de gerir as migrações a países que têm sistemas de protecção débeis é alarmante”, disse.

Michelle Bachelet vai encontra-se com MNE venezuelano em Genebra

Nova alta comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos irá encontrar-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Jorge Arreaza, que na terça-feira faz um discurso na sessão do Conselho de Direitos Humanos, em Genebra.

“A Venezuela pediu um encontro e a alta comissária aceitou encontrar-se com o ministro dos Negócios Estrangeiros”, disse uma porta-voz do gabinete de Bachelet, Ravina Shamdasani, citada pela agência France-Presse.

O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas (ACNUDH) decorre numa altura em que continua a aumentar o número de venezuelanos que estão a deixar o país, com uma média de 800 pessoas a entrar diariamente no Brasil.

Estes dados surgem nos parágrafos dedicados à Venezuela numa versão preparada do discurso de Michelle Bachelet distribuído à comunicação social, mas que segundo as agências internacionais não foram lidos pela antiga presidente do Chile perante dos membros do Conselho de Direitos Humanos.

“No momento em que esta sessão começa, o número crescente de pessoas que fogem da Venezuela e da Nicarágua demonstra uma vez mais a necessidade de defender constantemente os direitos humanos”, referia versão preparada do discurso.

“É urgente ajudar os estados de acolhimento a resolver os numerosos problemas colocados por estes movimentos”, acrescentava, sublinhando como “fundamental abordar as razões” que levam as pessoas a partir. Por outro lado, pedia ao Conselho para tomar “todas as medidas necessárias para fazer face às graves violações dos direitos humanos” identificadas na Venezuela e Nicarágua.

Dados divulgados pelas Nações Unidas revelam que o número de pessoas que fugiram da Venezuela até 01 de julho atingiu os 2, 3 milhões, o que equivale a cerca de 7% da população total.

Em média, 800 venezuelanos entram diariamente no Brasil e 4.000 chegaram diariamente, durante a primeira semana de agosto, ao Equador.

Em três semanas do mês de julho, 50 mil venezuelanos entraram na Colômbia.

Michelle Bachelet, antiga primeira-ministra do Chile, assumiu a 01 de setembro o cargo de responsável da agência das Nações Unidas para os direitos humanos.