O mundo “sofre de uma forma grave de ‘Perturbação de défice de confiança’”, disse, apontando o crescimento da polarização e do populismo dentro dos países, a diminuição da cooperação entre eles e a “frágil” confiança nas instituições internacionais.
“Os princípios democráticos estão sob ameaça”, disse. “Atualmente, a ordem mundial é cada vez mais caótica, as relações de poder são menos claras, os valores universais estão a ser erodidos”, afirmou, apontando que “quanto mais o mundo está conectado, mais as sociedades estão fragmentadas”.
Esta situação faz com que o mundo se torne “multipolar”, mas de uma forma que não “é garantia de paz ou de solução global para os problemas”, porque, com “as alterações nos equilíbrios de poder”, “os riscos de confrontação podem aumentar”.
“Devemos renovar os nossos compromissos para com uma ordem assente em regras, com as Nações Unidas no centro”, sugeriu.
O secretário-geral da ONU considerou um "escândalo" a "nossa incapacidade para acabar com a guerra na Síria, no Iémen e noutros locais", acrescentando como outros problemas o exílio "do povo ‘rohingya’" e o "conflito sem fim" entre "palestinianos e os israelitas, com uma solução de dois Estados que se afasta”
Guterres alertou também para o “momento decisivo” que o mundo enfrenta no combate às alterações climáticas, afirmando que se corre o risco de alterações descontroladas se os líderes não agirem nos próximos dois anos.
Os líderes mundiais, afirmou, não estão a fazer o suficiente para combater “uma ameaça direta à existência” que avança mais depressa do que as pessoas que trabalham para a contrariar e apelou para garantias de aplicação do Acordo de Paris, de que o presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a retirada unilateral em junho de 2017.
António Guterres advertiu ainda que os avanços tecnológicos são um dos “desafios históricos” que o mundo enfrenta, apontando os “riscos graves” da inteligência artificial ou a biotecnologia.
O secretário-geral alertou que a tecnologia que visa mudar ou eliminar alguns trabalhos é uma ferramenta nas mãos de terroristas, cibercriminosos e criadores de campanhas de desinformação, e manifestou preocupação com a aplicação de inteligência artificial a armas que escolham os seus próprios alvos.
“A perspetiva de máquinas com a capacidade e o poder de eliminar vida humana é moralmente repugnante”, afirmou.
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