Segundo os testemunhos dos quatro sobreviventes — um menor de 13 anos não-acompanhado, uma mulher e dois homens — resgatados por um navio mercante e transportados pela Guarda Costeira italiana para a ilha de Lampedusa, no sul de Itália, há 41 pessoas desaparecidas, entre as quais três crianças, desde que a frágil embarcação em que viajavam, procedentes da cidade portuária tunisina de Sfax, se virou entre 03 e 04 de agosto.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM), o Alto-Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) expressaram num comunicado conjunto “profundas condolências pela perda de dezenas de vidas”.

As “proibitivas condições meteorológicas destes dias”, devido a um forte temporal, “tornam extremamente perigosas as travessias em pequenos barcos de ferro impróprios para a navegação” e “põem em evidência a absoluta falta de escrúpulos dos traficantes que expõem assim os migrantes e refugiados a elevadíssimos riscos de morte no mar”, afirmaram aquelas agências especializadas da ONU.

E recordaram que “há apenas uns dias, uma mãe e um menino já tinham perdido a vida” em frente a Lampedusa.

No passado sábado, registaram-se mais dois naufrágios ao largo da ilha italiana nos quais morreram 34 pessoas, embora só três cadáveres tenham sido recuperados, devido ao mau tempo; foram também os 57 sobreviventes resgatados que relataram que os seus companheiros de viagem tinham caído ao mar.

“Os números de hoje agravam o número de mortos em naufrágios no Mediterrâneo central. Segundo o Projeto Migrantes Desaparecidos, da OIM, há mais de 1.800 mortos e desaparecidos ao longo da rota, que continua a estar entre as mais percorridas e perigosas a nível mundial, com mais de 75% das vítimas no mar Mediterrâneo nos últimos dez anos”, sublinharam.

As três organizações “reiteram a necessidade de mecanismos coordenados de busca e resgate e continuam a apelar aos Estados para que aumentem os recursos e as capacidades para cumprirem as suas responsabilidades de forma eficaz”, lê-se na nota.

Também renovaram o apelo “para um acesso mais abrangente a vias legais mais seguras para a migração e o asilo na União Europeia, para evitar que as pessoas tenham que recorrer a viagens perigosas em busca de segurança e proteção”.

De acordo com o testemunho dos sobreviventes, a embarcação em que viajavam 45 pessoas virou-se na passada quinta-feira, após cerca de seis horas de navegação, devido a uma grande onda, e 41 delas, incluindo três crianças, caíram ao mar.

Os quatro resgatados às águas do Mediterrâneo, que conseguiram sobreviver agarrados a uma barca metálica certamente abandonada por outros migrantes e se encontram em choque, serão ouvidos nas próximas horas pela procuradoria de Agrigento, que abriu uma investigação sobre o incidente.

Os desembarques não cessam em Lampedusa, em cujo centro de acolhimento, com capacidade para 300 pessoas, chegaram a concentrar-se há dois dias cerca de 2.500 pessoas, e são atualmente mais de 1.500, depois de as autoridades terem retomado a transferência de migrantes para outros pontos da ilha ou de Itália continental.

Os mais recentes dados do Ministério do Interior italiano indicam que, desde o início de 2023, quase 94.000 migrantes desembarcaram nas costas do país, mais do dobro dos cerca de 45.000 registados no mesmo período do ano passado.