Armindo Pires, que disse ser amigo de Manuel Vicente há 30 anos, é o seu representante legal e fiscal em Portugal e está acusado de, em coautoria, ter corrompido o ex-procurador Orlando Figueira, também arguido no processo.
“Houve um aproveitamento indigno da minha amizade com o engenheiro Manuel Vicente. Fui insistentemente metido para facilitar a acusação de Manuel Vicente”, afirmou Armindo Pires.
Armindo Pires disse que o arguido Paulo Amaral Blanco não conhece Manuel Vicente e que foi ele que contratou o advogado, em novembro de 2011, para tratar da compra de um apartamento no Estoril Sol, em Cascais, tendo sido indicado por André Navarro, administrador do Banco Privado Atlântico, porque tinha vários processos do Estado Angolano.
A procuradora confrontou Armindo Pires com um email que enviou a Manuel Vicente, à data dos factos presidente da empresa Sonangol, dizendo que foi o presidente de Banco Privado Atlântico, Carlos Silva, que lhe indicou Paulo Blanco.
O arguido justificou que imaginou que Manuel Vicente não conhecesse André Navarro, tendo referido que falou em Carlos Silva para que o líder da petrolífera angolana percebesse que tinha sido indicado pelo BPA.
Porém, disse, Carlos Silva não é amigo de Manuel Vicente e duvida mesmo que “haja qualquer relação de confiança profissional” entre eles.
A compra do apartamento no Estoril por 3,6 milhões de euros motivou um inquérito a Manuel Vicente por suspeitas de branqueamento de capitais e que foi arquivado por Orlando Figueira.
“Não conhecia Orlando Figueira, só neste processo. Eu e Paulo Blanco nunca falámos dele”, afirmou.
Contudo, segundo Armindo Pires, Paulo Blanco ter-lhe-á dito para ter cuidado com o que dizia ao telefone a Manuel Vicente, porque podia estar sob escuta.
“Recomendou-me para ter cuidado porque podia estar sob escuta, mas eu pensei que era dos angolanos, não dos portugueses”, acrescentou.
Orlando Figueira responde em tribunal por corrupção, branqueamento, falsidade e violação do segredo de justiça.
No final, a defesa de Armindo Pires disse que, na lógica da acusação, era preciso um intermediário entre o advogado e Manuel Vicente e o arguido acha que houve um aproveitamento indevido da amizade entre ambos.
“O engenheiro Armindo Pires não contratou Orlando Figueira, não o conhecia e não pagou a Orlando Figueira, isso são factos incontestáveis”, reiterou o advogado Rui Patrício, acrescentando que “o Ministério Público cometeu um erro fatal em fazer esta acusação”.
A Operação Fizz tem ainda como arguidos o engenheiro Armindo Pires e o advogado Paulo Blanco e assenta na acusação de que Manuel Vicente, por intermédio destes, corrompeu Orlando Figueira, com o pagamento de 760 mil euros, para que este arquivasse dois inquéritos, um deles o caso da empresa ‘Portmill’, relacionado com a aquisição do imóvel de luxo no Estoril.
Manuel Vicente está acusado de corrupção ativa, mas o seu processo foi separado deste julgamento da Operação Fizz aguardando-se o desenrolar de questões jurídicas.
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