“Se se vierem a provar as contrapartidas e incidências que estão no processo não é a pessoa que conheço há 27 anos. Se fosse essa pessoa e se os factos que lhe são imputadores forem verdadeiros, eu acho que saberia”, disse Carlos Alexandre que depôs na sessão de hoje a pedido das defesas e da acusação do Ministério Público.

Admitindo que é amigo de Orlando Figueira, ex-procurador do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, acusado de corrupção, Carlos Alexandre disse que não estava em tribunal “como amigo”, mas apenas “para relatar factos”, garantindo que a sua convicção “não está toldada pela amizade” e que “até ao momento” nunca duvidou do que Orlando Figueira lhe disse.

O juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal disse ao tribunal que tentou demover Orlando Figueira de sair da magistratura, que o aconselhou a retirar-se dos processos de Angola o mais rápido possível e que soube de um contrato promessa de trabalho, mas que nunca o viu.

“Soube que lhe iam pagar um ano de vencimento, mas não sei valores. Ele explicou-me que não podia mexer no dinheiro, mas que era uma garantia caso algo corresse mal já que estaria um ano sem poder regressar ao MP”, contou.

Carlos Alexandre adiantou que soube que o arguido teve encontros com o advogado Daniel Proença de Carvalho, para acertar as contas, para “arrumar o problema” e que até ligou à mulher do juiz - funcionária das finanças - para saber como se processava o pagamento dos impostos.

O assunto de um empréstimo de 10 mil euros por parte de Orlando Figueira a Carlos Alexandre foi levantado pelo próprio juiz, justificando que publicamente a honra dele foi posta em causa.

Explicou que o empréstimo foi pago em poucos meses e que lhe transferiu o dinheiro a 09 de março de 2016 – já Orlando Figueira estava preso preventivamente – para a conta do Banco Privado Atlântico Europa (BPAE) de onde tinha saído o montante e que apenas foi confrontado com isso pelo MP depois de a procuradora Inês Bonina ter recebido um envelope com a indicação da transferência na sua inquirição em agosto de 2016.

Sobre os outros arguidos – Paulo Blanco e Armindo Pires – o juiz disse que apenas os conhece no exercício das suas funções.

No final da sessão, as defesas de Armindo Pires e de Orlando Figueira mostraram-se satisfeitas com um depoimento credível e espontâneo.

“Há um livro que eu gosto muito que se chama a Autópsia de um mar de ruínas. De facto, as ruínas vão aparecendo e este depoimento foi importante nesse sentido”, disse o advogado Rui Patrício.

A advogada de Orlando Figueira sublinhou que Carlos Alexandre prestou um depoimento “correto, verdadeiro e que apenas quis dizer aquilo que sabia e sabia muito”, ressalvando o “peso” da testemunha, disse esperar que “venha alterar o percurso que o julgamento tem tido, no sentido da absolvição”.

O ex-procurador do DCIAP Orlando Figueira está pronunciado por corrupção passiva, branqueamento de capitais, violação de segredo de justiça e falsificação de documentos, o advogado Paulo Blanco por corrupção ativa em coautoria, branqueamento também em coautoria, violação de segredo de justiça e falsificação de documento em coautoria.