“O primeiro-ministro tem que ter um poder disciplinar a exercer neste tipo de situações e o Presidente da República naturalmente, enquanto comandante supremo das Forças Armadas, deve dizer, à semelhança do primeiro-ministro, se mantém ou não a confiança política no ministro da Defesa, que esconde factos tão relevantes, e que podem inclusivamente ter relevância criminal, como estes que aconteceram”, afirmou.
Francisco Rodrigues dos Santos falava aos jornalistas em Lisboa, numa visita à 16ª edição do Fórum Anual da Exportação – Portugal Exportador 2021.
O líder centrista apontou que existe “já há algum tempo a esta parte alguma desarticulação e dificuldade de diálogo institucional entre o ministro da Defesa, o primeiro-ministro e o senhor Presidente da República” e deu como exemplo o caso recente que envolveu o chefe do Estado-Maior da Armada, no qual houve “uma cacofonia de desmentidos e que ainda hoje ninguém percebeu em concreto o que é que aconteceu”.
Rodrigues dos Santos salientou que “começa a ser reiterada uma incapacidade de diálogo institucional que o ministro da Defesa revela quer com o primeiro-ministro, quer com o Presidente da República, que tem desprestigiado as suas funções de ministro e tem exposto ao ridículo também as nossas Forças Armadas” e defendeu que “isto tem que ter cobro”.
Na sua ótica, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, “tinha obrigação de reportar este caso” a António Costa e Marcelo Rebelo de Sousa.
“Não andamos aqui a brincar às escondidas nem a fingir que algo não aconteceu nem a tentar tapar o sol com uma peneira, isto é demasiado grave para não haver uma comunicação fluente nem um diálogo institucional que permita atacar de frente, nos olhos de um poder político sério e soberano, aquilo que está a acontecer a um pilar fundamental do nosso Estado de direito democrático”, considerou igualmente.
O líder democrata-cristão apontou ainda que “uma coisa é o andamento da justiça” e o “apuramento das responsabilidades criminais”, que “compete aos tribunais fazer e aos órgãos de investigação criminal”, e outra é “o apuramento das responsabilidades políticas, nomeadamente na partilha de informação e denúncia de um caso que tinha de ser acompanhado há muito tempo pelos principais órgãos de soberania do nosso país”.
“E é isso que o ministro da Defesa está a falhar, revela de resto um erro crónico que já aconteceu em episódios anteriores, e que pode minar a confiança política entre este triângulo que é o ministro da Defesa, o primeiro-ministro e o Presidente da República”, frisou.
Francisco Rodrigues dos Santos ressalvou ainda que “em todas as profissões existem maus exemplos e maus profissionais”, mas defendeu que este episódio “não deveria ter ocorrido” e que constitui um “indício criminal que lesa a reputação das Forças Armadas”.
O Presidente da República recusou na quarta-feira comentar as suas relações com o Governo depois de não ter sido informado do envolvimento de militares numa investigação judicial sobre tráfico de diamantes, ouro e droga.
Na sequência da Operação Miríade, a Polícia Judiciária executou cem mandados de busca e deteve onze pessoas, incluindo militares e ex-militares.
Na quarta-feira, em Berlim, o primeiro-ministro justificou não ter informado o Presidente da República sobre a rede de tráfico envolvendo militares e civis, porque ele também não tinha conhecimento.
Num comunicado sobre a Operação Miríade, o Estado-Maior-General das Forças Armadas (EMGFA) referiu que alguns militares portugueses em missões da ONU na República Centro-Africana podem ter sido utilizados como “correios no tráfego de diamantes”, adiantando que o caso foi reportado em dezembro de 2019.
Hoje, o PSD anunciou que vai chamar ao parlamento o ministro da Defesa para prestar esclarecimentos sobre a situação.
Comentários