“Não confirmou [os indícios do despacho], porque, na realidade, ele não estava no local e isso é visível nas imagens. Ele estava num local exatamente oposto, pelo que não podia confirmar agressões que aconteceram no lado contrário”, reconheceu Cristiana Carvalho, em declarações aos jornalistas à saída do Tribunal de Instrução Criminal (TIC) do Porto.
A advogada falava logo após a conclusão do interrogatório de Fernando Saul, oficial de ligação aos adeptos do FC Porto, que tinha começado a ser ouvido pelo juiz de instrução criminal Pedro Miguel Vieira por volta das 21:30 de sexta-feira e deixou o local três horas depois, tendo voltado numa carrinha celular da PSP à esquadra da Bela Vista, no Porto.
“Correu bem, porque ele não se recusou a responder a nada. Respondeu de uma forma coerente e tranquila a tudo o que lhe foi perguntado, apesar de estar cansado e de o seu estado emocional não ser o melhor, atendendo a que está privado da liberdade durante estes dias todos”, afirmou Cristiana Carvalho, dando conta de um depoimento “emotivo”.
Convicta de que “ficou tudo completamente esclarecido” nestas diligências, a causídica exprimiu surpresa pela detenção de Fernando Saul no âmbito da Operação Pretoriano.
“Os factos são imputados a todos os arguidos de maneira muito genérica, mas isso não significa que todos tenham praticado [crimes]. Não posso falar pelos outros, mas o meu constituinte não os praticou. Razões da detenção? Não compreendo, mas aceito. Ele cá esteve para se defender e defendeu-se da melhor maneira”, vincou Cristiana Carvalho.
Questionada sobre a possibilidade de Fernando Saul ficar sujeito a prisão preventiva, a advogada disse ser desproporcionada a aplicação da medida de coação mais gravosa.
“A medida justa seria ficar com o termo de identidade e residência. Acredito que poderá eventualmente ser outra, mas que não será uma medida privativa de liberdade”, notou.
Fernando Saul foi o quinto suspeito a ser ouvido, depois de António Moreira de Sá, que terminou na sexta-feira o depoimento iniciado na véspera, Tiago Aguiar, outro dos dois funcionários do FC Porto incluídos na Operação Pretoriano, José Pereira e Vítor Aleixo.
As diligências vão continuar a partir das 10:00 de hoje, com a realização dos últimos três interrogatórios, incluindo os de Fernando Madureira, líder da claque Super Dragões, e de Vítor Catão, adepto do clube ‘azul e branco’ e antigo presidente do São Pedro da Cova.
Sandra Madureira, mulher de Fernando Madureira e vice-presidente dos Super Dragões, deverá continuar na esquadra da PSP de Santo Tirso, uma vez que, tal como outros três arguidos, não quer prestar declarações no primeiro interrogatório judicial, que está a ser efetuado pelo juiz Pedro Miguel Vieira no TIC e visa a aplicação de medidas de coação.
Na quarta-feira, a PSP deteve 12 pessoas – incluindo dois funcionários do FC Porto e o líder dos Super Dragões, Fernando Madureira -, no âmbito da Operação Pretoriano, que investiga os incidentes observados na última Assembleia Geral extraordinária do clube.
De acordo com documentos judiciais, aos quais a agência Lusa teve acesso, o Ministério Público sustenta que a claque Super Dragões pretendeu “criar um clima de intimidação e medo” na AG do FC Porto, em 13 de novembro de 2023, na qual houve incidentes, para que fosse aprovada a revisão estatutária, “do interesse da atual direção” ‘azul e branca’.
A Procuradoria-Geral Distrital do Porto divulgou que estão em causa “crimes de ofensa à integridade física no âmbito de espetáculo desportivo ou em acontecimento relacionado com o fenómeno desportivo, coação e ameaça agravada, instigação pública a um crime, arremesso de objetos ou produtos líquidos e ainda atentado à liberdade de informação”.
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