“Na região de Évora temos cerca de sete enfermeiros por mil habitantes, mas esses sete incluem os serviços privados, os hospitais privados, os enfermeiros que estão na docência” ou “na gestão”, indicou o presidente da Secção Regional do Sul (SRSul) da Ordem dos Enfermeiros, Sérgio Branco.
Mas, “se retirarmos todos esses”, mantendo apenas os enfermeiros que prestam cuidados públicos de Saúde, esse total distancia-se mais da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que é de 9,3 profissionais por mil habitantes, comparou à agência Lusa o responsável.
“O número de enfermeiros no exercício clínico, ou seja, na prestação de cuidados ao nível do SNS, desce para cerca de 4,5 enfermeiros por mil habitantes”, o que corresponde “a metade daquilo que é o número de enfermeiros ao nível da média da OCDE”, argumentou.
Sérgio Branco falava à Lusa para fazer o balanço da visita que a Secção Regional Sul da Ordem dos Enfermeiros efetuou, desde segunda-feira e até hoje, a unidades de Saúde do distrito de Évora.
Neste distrito alentejano, que conta com 1.140 enfermeiros para uma população de 168 mil habitantes, distribuída por 14 municípios, a Ordem dos Enfermeiros alertou para a falta de recursos humanos e materiais nas diferentes unidades de Saúde.
“Aquilo que encontrámos foi um conjunto de problemas que é transversal também ao país”, mas do qual, “em muitos casos”, já resultaram “consequências dramáticas”, afirmou o presidente da SRSul da Ordem dos Enfermeiros.
Como exemplo, Sérgio Branco aludiu a uma situação ocorrida no Serviço de Urgência Básica (SUB) do Centro de Saúde de Montemor-o-Novo, “há cerca de um ano, envolvendo uma criança que acabou por morrer.
“Embora esteja legislado” que a unidade deve funcionar “com um determinado número de médicos e enfermeiros, o facto é que estariam, na altura, um enfermeiro e um médico a prestar cuidados” nesse SUB, frisou.
Na deslocação agora realizada ao distrito de Évora, a Ordem dos Enfermeiros, num comunicado divulgado hoje, explicou ter constatado que “a situação do SUB de Montemor-o-Novo era a mesma que se verificava há cerca de um ano”, quando a criança “foi ali atendida de urgência e logo reencaminhada para Hospital de Évora, devido à gravidade da situação, acabando por falecer no caminho”.
“O SUB continua com apenas um enfermeiro e um médico, quando legalmente deveria estar apetrechado com três enfermeiros, dois médicos e uma viatura SIV. Se fosse este o cenário, provavelmente o drama de há um ano poderia ter sido evitado”, frisou a Ordem.
Sérgio Branco disse que a Ordem dos Enfermeiros vai “fazer um apelo aos colegas que trabalhem em contextos que não se configuram seguros em termos de cuidados de saúde para que peçam a escusa da responsabilidade”, por “falta de recursos humanos ou materiais”.
A falta de enfermeiros nas extensões de Saúde, pois, “das 70 existentes, só há uma que funciona a tempo inteiro”, ou a falta de recursos materiais no Serviço de Atendimento Permanente (SAP) do Centro de Saúde de Vendas Novas, onde “não existe um aspirador para as vias respiratórias, nem um ventilador, e a enfermeira tem que trazer de casa o aparelho medidor de tensão arterial”, foram outros dos casos apontados pelo presidente da SRSul da Ordem.
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