Embora reconheça que a greve em blocos operatórios, como noutras paralisações, “lesa os direitos das pessoas”, Ana Rita Cavaco disse que a Ordem “esteve atenta e fez tudo para saber se houve ou não perigo de vida para as pessoas”.
“É evidente que a greve prejudica as pessoas, mas não ao ponto de colocar em causa a vida delas”, afirmou a bastonária aos deputados da comissão parlamentar de Saúde que hoje ouviram em conjunto a Ordem dos Enfermeiros e a Ordem dos Médicos sobre a greve cirúrgica em blocos operatórios de cinco hospitais públicos, que durou cerca de um mês e meio, terminando no final de dezembro.
As audições de hoje decorrem na véspera de uma reunião negocial entre sindicatos e Governo que será determinante para fazer avançar ou travar uma nova greve em blocos operatórios, desta vez em sete hospitais.
A bastonária dos Enfermeiros repetiu que reconhece que esta é “uma greve atípica” e disse que os sindicatos e os profissionais gostariam de não estar nestas paralisações, apelando a uma “negociação séria e uma aproximação real” de posições por parte do Governo.
Sobre os impactos da greve, Ana Rita Cavaco sublinhou que a Ordem não recebeu qualquer denúncia relativamente a falhas nos serviços mínimos e que os conselhos de administração dos hospitais não reportaram quaisquer incidentes no cumprimento desses serviços mínimos decretados para a paralisação que terminou a 31 de dezembro.
Aliás, a representante dos enfermeiros indicou ainda que os profissionais foram além dos serviços mínimos acordados.
O PCP, pela voz da deputada Carla Cruz, insistiu com a bastonária para saber se a Ordem instaurou processos de averiguação, afirmando que qualquer ordem profissional pode "instaurar um processo face a declarações públicas".
Também o Bloco de Esquerda recordou "declarações públicas" da associação dos administradores hospitalares e da Ordem dos Médicos que indiciavam casos de cirurgias prioritárias que teriam sido adiadas pela greve.
A bastonária frisou também que “todos os dias há mortes evitáveis no Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, nomeadamente por falta de enfermeiros, aludindo ao reduzido rácio de profissionais por mil habitantes, que é menos de metade do que a média dos países da OCDE.
“Todos os dias, infelizmente, há mortes evitáveis no SNS e não devia haver”, lamentou.
Ana Rita Cavaco aludiu ainda a um encontro que houve entre deputados do PS e profissionais do movimento greve cirúrgica dos enfermeiros, no qual chegou a participar a ministra da Saúde.
A bastonária lamentou que deputados do PS tenham perguntado a esses profissionais se Ana Rita Cavaco estaria por trás da greve cirúrgica, segundo os relatos que diz que lhe chegaram.
Além disso, sobre esse encontro, que decorreu no parlamento, a bastonária questionou “onde ficará a separação de poderes”.
Em resposta, o deputado do PS Luís Soares disse que “nenhuma ordem profissional cerceia a legitimidade que os grupos parlamentares têm de receber cidadãos, grupos ou sindicatos”.
A pedido do PSD e do PS, a comissão parlamentar de Saúde ouviu hoje Ana Rita Cavaco e também o representante da Ordem dos Médicos do Norte, António Araújo sobre a greve dos enfermeiros em blocos operatórios.
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