A candidatura de Vitorino à liderança desta organização fundada no início da década de 1950 foi formalizada pelo Governo português em dezembro do ano passado.
“A candidatura demonstra a relevância que Portugal atribui à temática e ao diálogo em matéria de migrações e à premente necessidade de serem encontradas soluções eficazes para os problemas migratórios no quadro internacional”, justificou então o executivo de Lisboa, que apresentou o ex-ministro, ex-eurodeputado e ex-comissário europeu como “um profundo conhecedor da problemática das migrações”.
Em maio último, durante uma audição parlamentar, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, admitiu que a eleição era “muito difícil”, realçando na mesma altura que Portugal ia trabalhar para obter o resultado desejado.
O novo responsável da OIM será eleito em Genebra (cidade que acolhe a sede da organização) por voto secreto e existirão as rondas necessárias até que um dos candidatos obtenha uma maioria de dois terços.
Na corrida à liderança da OIM está também o norte-americano Ken Isaacs – a organização foi sempre liderada por um representante dos Estados Unidos à exceção na década de 1960 quando um holandês assumiu o cargo — e a costa-riquenha Laura Thompson, a atual vice-diretora-geral da organização.
O trabalho da diplomacia portuguesa tem sido desenvolvido em várias latitudes e em várias esferas de influência. Disso deu conta o próprio Santos Silva em fevereiro passado quando em Moscovo (a Rússia tem estatuto de observadora na OIM e não vota) apresentou a candidatura de Vitorino ao seu homólogo russo, Serguei Lavrov.
Cerca de dois meses depois, e durante uma deslocação a Lisboa, o secretário-geral da Liga Árabe (organização que integra 22 Estados árabes), o egípcio Ahmed Aboul Gheit, disse, numa entrevista à Lusa, que as nações árabes estavam prontas para apoiar a candidatura de Vitorino.
Licenciado em Direito e mestre em Ciências Jurídico-Políticas, António Vitorino, de 61 anos, foi eurodeputado entre 1994 e 1995. Nesse ano, foi escolhido pelo então primeiro-ministro (e atual secretário-geral da ONU) António Guterres para o cargo de ministro da Presidência e, posteriormente, para a tutela da Defesa Nacional.
Foi deputado e também foi comissário europeu para a Justiça e Assuntos Internos (1999-2004). Em meados da década de 1980 teve uma breve passagem por Macau, onde foi secretário-adjunto do governador.
O advogado, que também tem desempenhado vários cargos em diferentes empresas, é membro de várias iniciativas internacionais na área das migrações, com destaque para o Advisory Board of the International Migration Initiative (desde 2015) e para o Transatlantic Council on Migration (desde 2007).
“Tenho a liderança, a visão e a experiência para garantir que a OIM enfrente os complicados desafios da migração internacional”, pode ler-se no ‘site’ oficial da candidatura do norte-americano Ken Isaacs, que foi proposta em fevereiro passado pela administração de Donald Trump.
O nome de Ken Isaacs, apresentado por Washington como um responsável que detém 34 anos de experiência na área da ajuda humanitária e para o desenvolvimento, tem estado envolvido em polémica desde o primeiro minuto por quase de diversos comentários anti-muçulmanos nas redes sociais.
Ao longo dos últimos meses, o vice-presidente da organização evangélica de ajuda humanitária Samaritan’s Purse tem tentado retratar-se de tais declarações, afirmando também que o seu percurso devia ser julgado pelas ações humanitárias que desenvolveu no terreno e não por ‘tweets’.
“Nada que eu possa dizer vai mudar aquilo que eu disse. Peço desculpa pela dor que causei. Tenho centenas de amigos muçulmanos em todo o mundo e há vários anos. Não acredito que o Islão seja uma religião violenta”, afirmou, em maio passado, durante um evento na associação de correspondentes nas Nações Unidas, em Nova Iorque.
Na mesma intervenção, o norte-americano garantiu não fazer nenhuma distinção ou discriminação contra alguém ou contra qualquer religião.
Ainda no ‘site’ de Ken Isaacs é possível acompanhar as várias deslocações que o candidato tem feito nos últimos meses a várias capitais na Europa e em África, sempre ladeado por representantes do Departamento de Estado, num sinal dos esforços impostos pela diplomacia norte-americana nesta eleição.
Vice-diretora-geral da OIM desde setembro de 2009 e reeleita em 2014, Laura Thompson é o outro nome envolvido na eleição de sexta-feira.
Em dezembro passado, e em plena contagem decrescente para o fim do segundo mandato de cinco anos do atual diretor-geral da OIM (o diplomata norte-americano William Lacy Swing), a candidatura da costa-riquenha, cuja carreira diplomática tem sido feita essencialmente na ONU, já era dada como certa.
O currículo oficial disponível no ‘site’ da OIM refere, entre outros aspetos, que Laura Thompson tem mais de 20 anos de experiência em diplomacia, negociações multilaterais, políticas de desenvolvimento e assuntos humanitários.
As mesmas informações mencionam que a responsável “apoia o diretor-geral na administração e gestão da organização, com cerca de 8500 funcionários, 440 gabinetes no terreno e um orçamento anual que varia entre 1,2 mil milhões e 1,4 mil milhões dólares”.
A OIM foi integrada na estrutura multilateral da ONU a 25 de julho de 2016. Antes, a organização tinha recebido, em 1992, o estatuto de observador permanente na Assembleia-Geral da ONU e firmado um acordo de cooperação (1996).
A par dos 169 Estados-membros, a OIM conta com oito países que detêm estatuto de observadores.
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