O porto de Valência recebeu este domingo a chegada repartida dos 630 migrantes que viajam a bordo de três barcos: 274 no Dattilo, 106 no Aquarius, da organização não-governamental SOS Mediterranée, e 250 no navio da armada italiana Orione.

O primeiro a desembarcar foi um grupo de nove pessoas e depois outro de quatro, segundo fontes das autoridades locais citadas pela agência EFE. Os migrantes seguiam a bordo do navio Dattilo que chegou ao porto espanhol nas primeiras horas deste domingo.

O vice-diretor da Emergências da Generalitat, Jorge Suárez, assegurou que não foi registado nenhum incidente grave, mas que tinha sido detetado um maior número de patologias do que o esperado, o que está a abrandar um pouco todo o processo.

Tratam-se de tipologias menores, causadas pela superlotação de muitos dias, escoriações, queimaduras, resultantes do contato com o combustível dos barcos com a água do mar, e mal-estar em geral, precisou Jorge Suárez.

A bordo do Dattilo havia mulheres grávidas, que por protocolo foram transportadas para o hospital, e menores, três dos quais foram transferidos para centros de saúde.

Fazem parte do dispositivo coordenado pela Cruz Vermelha, ao longo de todo o fim de semana, mais de mil pessoas, tanto profissionais como voluntários, trabalhando em turnos de 10 a 12 horas.

Segundo o porta-voz da Cruz Vermelha, entre estas mil pessoas estará definido também um grupo de 70 a 100 com formação e preparação para lidar com emergências semelhantes.

A chegada dos navios a Valência deve-se a uma oferta do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sanchez, que disse ser necessário "evitar uma tragédia humanitária".

O Governo de Itália recusou no dia 10 autorizar o Aquarius a desembarcar num porto italiano os 630 migrantes, resgatados do mar em várias operações durante o dia anterior.

Itália defendeu que devia ser Malta a acolher os migrantes, entre os quais há 123 menores, mas as autoridades maltesas sustentaram que a responsabilidade era de Itália porque as operações de salvamento dos migrantes ocorreram numa zona marítima coordenada por Roma.

Face ao impasse, a Espanha ofereceu-se, no dia 11, para acolher os migrantes, tendo o Aquarius efetuado a viagem em direção a Valência escoltado por duas embarcações da Marinha italiana, com as quais repartiu os migrantes que se encontravam a bordo.

As relações diplomáticas franco-italianas foram postas à prova depois do Presidente francês, Emmanuel Macron, ter criticado o “cinismo e irresponsabilidade” do Governo de Itália por recusar receber o Aquarius.

Para Macron, o governo italiano agiu segundo “uma forma de cinismo e uma parte deirresponsabilidade”, porque “o Direito Marítimo” determina que, “em caso de socorro, é a costa mais próxima que assume a responsabilidade do acolhimento”.

Em resposta, o ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, líder da Liga (extrema-direita) exigiu desculpas de França após as declarações de Emmanuel Macron, tendo sido evocada uma eventual anulação da visita que o primeiro-ministro de Itália, Giuseppe Conte, tinha marcada para sexta-feira passada à capital francesa.

Em Paris, o Eliseu, residência oficial do Presidente francês, disse não ter recebido qualquer informação do Governo italiano sobre um pedido de desculpas ou possível anulação da visita de Giuseppe Conte.

A visita de Conte a Paris realizou-se mesmo, tendo o chefe do Governo italiano e o Presidente francês defendido uma “reforma profunda” da relação com os países de origem dos migrantes, através nomeadamente da instalação de centros europeus nesses países que facilitem a regulação do fluxo de chegadas.

Entretanto, a França irá acolher migrantes do Aquarius, depois de uma análise à sua situação em Espanha, anunciou sábado o Governo espanhol.

“O Governo francês colaborará com o Governo espanhol no acolhimento dos migrantes do Aquarius”, anunciou a vice-presidente do executivo espanhol, Carmen Calvo, num comunicado.