O balbucio é crucial para os bebés humanos — que assim desenvolvem o controlo do seu aparelho vocal, necessário para a fala. Porém, não serão os únicos a fazê-lo, a julgar por um estudo recente, e que sugere que o mesmo se aplica aos morcegos da espécie Saccopteryx bilineata, nativos da América Central.

"As crianças humanas parecem balbuciar para interagir com os seus cuidadores, mas também o fazem quando estão sozinhas, aparentemente felizes em explorar a sua voz. Os nossos morcegos fazem o mesmo", explicou agência de notícias France-Press (AFP) Mirjam Knornschild, co-autora da investigação, do Museu de História Natural de Berlim.

Os morcegos comunicam entre si por ultrassom — frequências de som que não podem ser ouvidas pelo homem —, mas também podem emitir sons audíveis para as pessoas. "Parece um chilreio agudo aos nossos ouvidos... é melódico", observou Mirjam.

Os mamíferos possuem laringe e começam a balbuciar cerca de três semanas após o nascimento, por sete a 10 semanas. Durante esse período, um morcego passa cerca de 30% do dia a balbuciar, em sessões que duram, em média, sete minutos.

Um deles, no entanto, balbuciou durante 43, um intervalo longo, sendo que os adultos geralmente comunicam entre eles durante poucos segundos. "É algo realmente peculiar, que outras espécies de morcegos simplesmente não fazem", destacou Mirjam Knornschild. "Cada sílaba tem uma forma específica e elas são facilmente distinguíveis", acrescentou a investigadora.

Os cientistas analisaram mais de 55 mil sílabas produzidas, encontrando características universais nos morcegos ao balbucio de crianças humanas, como repetições e falta de sentido, mas também um certo ritmo nos sons.

Como acontece com os humanos, a sua curva de aprendizagem não é linear. Os morcegos jovens ainda não dominam as 25 sílabas do repertório adulto na fase do desmame, o que sugere que eles continuam aprender.

De resto, muito poucas espécies balbuciam. Apenas alguns pássaros, duas espécies de saguins e, possivelmente, alguns golfinhos e baleias beluga.

"Navegar e comunicar na escuridão, num ambiente escuro em três dimensões, parece ser uma grande motivação para aprender a vocalizar", aponta Mirjam.

Contudo, independentemente do motivo, os investigadores destacam que o desenvolvimento de um sistema vocal complexo abre um leque de possibilidades, como mostram os humanos e, sabe-se agora, também os morcegos.