“A possibilidade de uma ação concertada entre estes três países [Rússia, China e Irão] não pode ser excluída. Sabemos, logo à partida, que partilham um interesse comum: derrotar o que consideram ser a estratégia norte-americana para manter a hegemonia de controlo herdada do século XX”, disse à Lusa Herbert Lin, investigador do ‘think tank’ Hoover Institution.
Este analista e autor do livro Cyberthreats and Nuclear Weapons (Ciberameaças e Armas Nucleares, numa tradução literal) lembrou que, nos últimos anos, Moscovo e Pequim têm trocado entre si informações obtidas sobre os programas militares norte-americanos, em particular sobre o programa nuclear.
Herbert Lin, aliás, considera que as recentes declarações de “amizade eterna” entre os dois regimes está assente, em parte, nestes interesses comuns de procurar fragilizar a posição dos Estado Unidos em vários pontos do globo e que o Irão, nessa perspetiva, é um aliado “que não pode ser menosprezado”.
Recentemente, altos funcionários das agências de informação Federal Bureau of Investigation (FBI) e National Security Agency (NSA) revelaram estar na posse de dados que apontam para a continuidade da ameaça de interferência externa no sistema eleitoral dos Estados Unidos.
Esses agentes sublinharam que a Rússia está interessada em aproveitar as próximas eleições intercalares para o Congresso norte-americano, no final deste ano, para promover uma campanha de desinformação, com vista a obter benefícios na invasão em curso da Ucrânia.
O diretor do FBI, Christopher Wray, explicou que a Rússia não estará sozinha neste propósito de interferência no processo eleitoral, através de meios digitais, sendo também provável que o Irão e a China tenham planos para provocar danos na democracia norte-americana.
“Os russos querem dividir-nos. Os chineses tentam gerir o nosso declínio. E os iranianos procuram que nos afastemos deles”, sintetizou o diretor da agência de informações, mostrando sérias preocupações com o nível de ameaça que paira sobre as próximas eleições intercalares.
O diretor da agência britânica de informações externas MI5, Ken McCallum, tem dito publicamente, repetidas vezes, que os seus agentes mais que duplicaram o trabalho de monitorização da atividade chinesa, nos últimos três anos.
No início de julho, os diretores do FBI e do MI5 fizeram uma muito rara aparição pública conjunta, em Londres, para denunciar o aumento da ameaça que a China constitui para a segurança mundial, referindo os riscos de ações de ciberespionagem por parte da China sobre as quais persistem dúvidas de colaboração com a Rússia.
A NSA e o FBI revelaram mesmo que possuem “provas fortes” de que os atos de interferência nas eleições norte-americanas, que remontam a 2016, aquando da vitória do ex-Presidente Donald Trump, se podem repetir em futuros atos eleitorais, desde logo nas eleições intercalares, e que a Rússia não será o único ator.
Durante uma conferência sobre cibersegurança, em Nova Iorque, na passada semana, Christopher Wray lembrou que nas eleições presidenciais de 2020, que deram a vitória a Joe Biden, houve provas de que o Irão procurou influenciar eleitores na Florida para tentar impedir a reeleição de Donald Trump.
“Sabemos que os países inimigos dos Estados Unido se preparam para continuar a interferir nas eleições. Desconfiamos que eles estejam a concertar-se entre si. Mas sabemos muito pouco, ou nada, sobre os seus reais objetivos. Será impedir a reeleição de Biden (…)? Será impedir o regresso ao poder do Partido Republicano? Não sabemos”, disse à Lusa Kai Lin Tay, do International Institute for Strategic Studies.
Numa recente entrevista ao jornal The New York Times, Christopher Wray reconheceu que a Rússia e a China têm um historial de tentar influenciar os processos eleitorais norte-americanos, mas que esse é apenas um elemento numa complexa engrenagem de ciberespionagem.
“As eleições são apenas uma peça de um mosaico muito maior para eles”, admitiu o diretor do FBI, referindo-se à estratégia russa e chinesa.
Por outro lado, os ‘media’ norte-americanos têm citado fontes das agências de informação que se mostram preocupadas com a “elevada probabilidade” de o Presidente russo, Vladimir Putim, usar a sua panóplia de estratégias de ciberataques e de desinformação nas próximas eleições intercalares dos Estados Unidos, com fins de propaganda.
De acordo com essas fontes, Putin quer aproveitar a oportunidade para espalhar informação falsa sobre a estratégia de Washington e de Bruxelas de impor sanções a Moscovo, alertando para os danos que essas medidas punitivas estão a provocar nas economias norte-americanas e europeias.
“Putin vai fazer tudo para colocar dúvidas nas cabeças dos eleitores sobre a necessidade moral e o custo económico de ajudar a Ucrânia”, comentou Stephen Hanson, vice-reitor da Universidade da Virgínia, citado pela revista Newsweek.
Alguns especialistas em segurança admitem ainda que o Presidente russo possa voltar a usar os seus mercenários piratas informáticos para causar distúrbios no processo eleitoral do final deste ano, com o propósito de abalar a confiança na integridade do processo político nos Estados Unidos, em retaliação ao apoio à Ucrânia e numa demonstração da sua força neste tabuleiro de geopolítica.
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