O CEO da Web Summit decidiu responder à polémica através de um texto publicado na plataforma Medium.
"A Web Summit é um fórum de debate e discussão de muitos pontos de vista, não uma plataforma política partidária de um único ponto de vista", diz Paddy Cosgrave, acrescentando que este é um lugar onde as pessoas devem estar preparadas "para ter as suas opiniões profundamente desafiadas e, por sua vez, desafiar profundamente as opiniões dos outros".
"Por toda a Europa, políticos extremistas, e do meu ponto de vista detestáveis, estão a ser escolhidos pelo eleitorado. Este é o caso em Itália, Áustria, Hungria e outros. Há uma necessidade palpável, do meu ponto de vista, para o debate e discussão deste fenómeno, as suas causas e o papel que a tecnologia desempenha", defende.
Paddy Cosgrave salienta que "no total, a Web Summit 2018 vai receber mais de 1000 oradores. Como sempre foi o caso com oradores que expressam pontos de vista que podem ser considerados ofensivos, estes não são convidados para falar no palco principal, sendo votados aos palcos mais pequenos da cimeira. Mais, e talvez mais importante, estes oradores não são convidados a distribuir uma mensagem incontestada, mas antes a verem os seus pontos de vista desafiados e escrutinados por jornalistas profissionais. Mais, eles participam em painéis rodeados de vozes com autoridade e alternativas, que abertamente contestam os seus pontos de vista. Este sempre foi o caso, e será o caso com Marine Le Pen".
"Em última instância, a decisão fácil é transformar a Web Summit num espaço comercial seguro, recusando visões, tanto económicas como políticas, que podem ser ofensivas para os nossos parceiros comerciais e outras partes interessadas (...) Mas, até agora, decidimos não o fazer porque acreditamos que banir ou tentar ignorar estas visões, que são difundidas pela tecnologia, faz pouco pela compreensão [do fenómeno]. Mais importante talvez, banir ou tentar ignorar estes pontos de vista dificilmente ajudará a lidar com as raízes que suportam o apoio a estes pontos de vista em toda a Europa".
"Liberdade de expressão é um direito fundamental na União Europeia e pedra angular de qualquer democracia", acrescenta, ressalvando que não partilha das convicções da sua polémica oradora convidada.
Apesar de esta ser a sua posição, Paddy Cosgrave assume que "se os nossos anfitriões em Portugal, o Governo português, nos pedir para cancelar o convite a Marine Le Pen, vamos obviamente respeitar esse pedido e fazê-lo imediatamente".
Depois de ter desaparecido da lista de oradores para a edição deste ano da Web Summit no passado sábado, 12 de agosto, o nome da líder do partido de extrema-direita francês Reunião Nacional (antiga Frente Nacional), voltou a surgir esta segunda-feira como uma das convidadas para falar na próxima edição da Web Summit, que se realiza pela terceira vez consecutiva no Parque das Nações, em Lisboa, entre 5 e 8 de novembro.
A presença da filha do igualmente polémico Jean-Marie Le Pen na capital desencadeou várias críticas: à organização, mas também à autarquia liderada pelo socialista Fernando Medina.
Ontem, a associação SOS Racismo exigiu que as entidades envolvidas na organização da Web Summit assumissem uma posição pública sobre o convite feito à líder do partido francês Reunião Nacional e que esta fosse desconvidada. Hoje, o Bloco de Esquerda exigiu que o Governo e a Câmara de Lisboa tomassem uma posição sobre o convite, considerando inaceitável utilizar dinheiros públicos para passar mensagens de xenofobia e racismo.
João Galamba, do Partido Socialista, dizia na rede social Twitter que a “[n]ormalização de fascistas já ultrapassa em muito o aceitável”.
Rui Tavares, líder do LIVRE, fazia uma achega a Medina, lembrando que “a Câmara de Lisboa celebrou a Web Summit como um exemplo da Lisboa que fazia “pontes, e não muros”. Hoje a cidade não pode ficar quieta perante a tentativa de lá dar palco a uma das maiores representantes da xenofobia e do fechamento”.
Fabian Figueiredo, do Bloco de Esquerda, acusou a organização da edição de 2018 da Web Summit de estar apostada “em contribuir para a normalização da extrema-direita. Em Portugal, há pouco mais de 40 anos vencemos um regime fascista que torturou e matou. Este convite é um insulto. Vai ter protesto. Marine Le Pen é 'persona non grata’."
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