O dia Mundial do Ambiente comemora-se este domingo, 5 de Junho, uma boa oportunidade para pensar no planeta em que quer viver no futuro.
Para impedir que a temperatura média da Terra aumente dois graus até ao final deste século, em comparação com a época pré-industrial, será necessário cortar, até 2050, entre 40 a 70% das emissões globais de gases de efeito de estufa provocadas pelas atividades humanas, nomeadamente o dióxido de carbono (C02). Depois de cumprido este objetivo, é preciso eliminar, na totalidade, o seu envio para atmosfera antes do final deste século. Contudo, o caminho para chegar a este corte radical parece longe, pelo que é preciso estar preparado para os piores cenários, caso nada seja feito para reverter a atual situação.
A crer no estudo publicado por uma equipa internacional de especialistas climáticos, na revista científica Environmental Research Letters, os países pobres, ou, pelo menos, a maior parte deles, serão os primeiros a sofrer os efeitos das alterações climáticas, antes sequer dos países desenvolvidos, apesar de serem os que menos CO2 emitiram depois do início do período industrial. A investigação, segundo os autores, é a primeira a analisar a ligação entre as emissões acumuladas de CO2 e uma maior frequência de dias de calor extremo.
Mais especificamente, os países tropicais, situados a latitudes mais baixas, serão os primeiros a registar um forte aumento do número de dias em que o mercúrio dos termómetros subirá até ao pico. É precisamente nesta faixa do globo que encontramos os países mais pobres – ou em vias de desenvolvimento, usando a nomenclatura do politicamente correto –, enquanto os mais ricos se localizam em regiões de latitude média. As nações situadas no Corno de África e a Oeste do continente contam-se entre as que serão mais afetados por este fenómeno climático
Uma verdade inconveniente, mas bem evidente
O Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC), divulgado no final de 2014, foi claro quanto à influência humana no sistema climático do planeta, salientando, mais uma vez, uma conclusão a que a esmagadora maioria dos investigadores já chegou, que "o aquecimento global é inequívoco e, desde a década de 1950, muitas das alterações observadas não têm precedentes nos últimos milénios". Mais: “cada uma das últimas três décadas foi sucessivamente a mais quente desde 1850 e a temperatura média na superfície da Terra e dos oceanos aumentou 0,85ºC entre 1880 e 2012”.
Não vale a pena negar a realidade, tendo em conta o alargado consenso científico em torno do assunto. De acordo com o IPCC, é “extremamente provável” que esta subida da temperatura seja causada pelas atividades humanas, responsáveis pela emissão de gases de efeito de estufa para a atmosfera, especialmente CO2. Aliás, a concentração na atmosfera destes gases é a mais alta dos últimos 800 mil anos.
Os cenários climáticos criados pelos cientistas preveem que, ao ritmo atual, ou seja, se nada for feito em sentido contrário, a temperatura média na Terra subirá 2,6 graus até 2100, embora este valor varie em diferentes regiões do globo. Atualmente, ele cifra-se nos 15 graus, oscilando entre os 9 e os 22 graus devido à inclinação do eixo do planeta, à sua órbita em torno do Sol, às variações da atividade solar e, ainda, por causa das erupções vulcânicas.
De momento, está-se a lutar para que o aumento da temperatura, no final do século, não ultrapasse os dois graus. Se for superior, alguns dos cenários mais catastrofistas tornar-se-ão reais, com a capacidade de adaptação da humanidade e dos ecossistemas do planeta a ficarem seriamente comprometidos. Daí que os países desenvolvidos, os que mais CO2 emitem, queiram reduzir a sua peugada no clima.
Países pobres pagam ‘fatura’ dos mais industrializados
“Sabemos que as regiões de baixa latitude têm uma menor variabilidade ao nível da temperatura diária quando comparadas com as de latitude média, o que significa que o ‘sinal’ das alterações climáticas emerge aí mais rapidamente, e, devido a isso [à menor variabilidade da temperatura], a frequência de dias quentes extremos também aumenta rapidamente”, explica através de comunicado de imprensa o investigador Manoj Joshi, da Universidade de East Anglia, no Reino Unido, um dos responsáveis pelo estudo.
Os resultados obtidos têm em conta as emissões acumuladas de dióxido de carbono provocadas pelas atividades humanas, ou seja, a quantidade total enviada para a atmosfera ao longo da história industrial, cujo valor foi estimado com base nos modelos climáticos mais recentes. Só para se ter uma ideia do que está em causa, entre 1751 e 2014 cerca de 36% da emissão acumulada de CO2 deveu-se a apenas dois países: Estados Unidos e China. Ora bem, ao determinar o total de emissões a equipa de cientistas conseguiu, consequentemente, calcular a evolução local do número de dias extremamente quentes, isto ao longo do século XX e XXI.
Basicamente, “este estudo é o primeiro a usar modelos climáticos para simular a ligação direta entre as emissões acumuladas de C02 e uma maior frequência de dias quentes vivida pelas pessoas”, esclarece o principal autor do artigo publicado em Maio deste ano, Luke Harrington, da Universidade Victoria de Wellington, na Nova Zelândia.
Não obstante, “o calor extremo não aumenta de forma igual em todo o lado”, acrescenta Erich Fischer, do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique, na Suíça, também envolvido no estudo. Este fenómeno “está a tornar-se mais frequente e mais rápido nos países que estão junto ao Equador”.
Dito de outra forma, à medida que as alterações climáticas se agudizarem, os países ricos e os países pobres não sofrerão da mesma forma o impacto imediato causado pelo aumento da temperatura na Terra. A isto junta-se o facto de os países desenvolvidos terem condições para mais facilmente adaptarem-se aos impactos que se avizinham.
Tal como destacam os autores, esta disparidade tornar-se-á mais evidente à medida que as emissões acumuladas continuarem a aumentar, daí que esta investigação seja mais uma prova de como as atividades que as produzem têm de ser travadas, de forma a impedir todo um rol de consequências desastrosas.
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