“Nós iremos abster-nos em relação à moção do Bloco de Esquerda e votar contra a moção do PCP, porque entendemos que o país precisa, de forma vigilante, de ter uma oposição construtiva e que faça pontes de diálogo”, afirmou Inês de Sousa Real.

A deputada única intervinha no encerramento da discussão do programa do XXIV Governo Constitucional, na Assembleia da República.

“Não podemos acompanhar uma moção que foi apresentada sem sequer conhecemos um programa de Governo”, sustentou.

Inês de Sousa Real afirmou que, se se tratasse da discussão do Orçamento do Estado, “poderia levar a uma decisão mais aprofundada” em relação ao Governo PSD/CDS-PP, liderado por Luís Montenegro.

A líder do PAN considerou que “este programa do Governo não cumpre com as promessas que foram feitas do ponto de vista eleitoral, porque efetivamente era um programa muito conservador”, assinalando que “a agenda da Aliança Democrática não está plenamente traduzida” no documento.

Inês de Sousa Real lamentou que “os grandes desafios climáticos” não tenham “a dignidade quer ministerial, quer nas prioridades de investimento deste Governo” e defendeu ser necessário promover “uma sociedade descarbonizada” e assegurar “investimentos nos transportes públicos, na mobilidade suave, na mobilidade ciclável”.

A deputada única pediu ainda que, no que toca às infraestruturas, o debate não seja apenas sobre o novo aeroporto, mas que se debata também a ferrovia e que o novo Governo dê atenção ao planeamento do território e aposte no combate às alterações climáticas.

“Isso passa por uma efetiva conservação da biodiversidade e da natureza”, defendeu.

A porta-voz do PAN assinalou também como um “grande desafio” o combate à pobreza, assinalando que esse “tem que ser efetivamente um compromisso”.

“E não vemos, por exemplo, nas soluções habitacionais, uma resposta para as pessoas em situação de sem-abrigo, que são, sem dúvida, os mais fragilizados neste que é o grande desafio da habitação”, criticou.

Na ótica de Sousa Real é necessário “garantir que existe, sem preconceito ideológico, um investimento no acesso à habitação para todas e todos os portugueses, isso é garantir o direito ao arrendamento e o acesso à habitação própria, para que, sobretudo os mais jovens do nosso país, tenham o direito a sonhar com casa própria e não ser apenas uma miragem”.

O encerramento do debate sobre o programa do Governo começou com um ligeiro atraso, uma vez que o parlamento ficou à espera da deputada do PAN, a primeira a intervir, que ainda não estava no hemiciclo quando o presidente quis dar início aos trabalhos.

O presidente da Assembleia da República disse que Inês de Sousa Real teve um “ligeiro percalço e teve ligeiro atraso”. Depois, José Pedro Aguiar-Branco considerou que a tolerância estava “a ser excessiva” e propôs aos deputados aguardarem mais dois minutos pela deputada antes iniciar o debate.

Inês de Sousa Real chegou entretanto e, no início da sua intervenção, agradeceu a tolerância dada.