A vice-presidente da Câmara de Santarém e responsável pelo pelouro da Cultura, Inês Barroso, disse hoje à Lusa que o In.Santarém, festival de arte e cultura, que visa a dinamização do centro histórico da cidade com a realização de dezenas de eventos envolvendo agentes do concelho, ainda foi pensado “num conceito diferente”, com várias ações a decorrer em seis sextas-feiras, em horários diferentes e de forma a dispersar o público.
Contudo, o facto de ser raro o dia em que não se registam novos casos da covid-19 no concelho levou a que se optasse por não promover eventos que proporcionem a aglomeração de pessoas, mesmo assegurando o cumprimento das regras da Direção-Geral da Saúde, disse.
Afirmando que a decisão “não foi fácil”, Inês Barroso confessou que esta paragem “entristece” pela atratividade turística que a programação, iniciada em 2015, representa já para o concelho e pela importância que assume para os agentes culturais locais.
“Primeiro que tudo está a segurança. É preciso que as pessoas percebam que mais vale uma vida que uma festa”, disse.
O programador João Aidos, responsável pelo programa Santarém Cultura, que, em 2019, passou a integrar o In.Santarém, disse compreender os motivos que levaram ao cancelamento, frisando a “adaptação muito grande” imposta pela pandemia.
Parada desde março, a programação cultural do concelho tem de ser reprogramada, tendo sido positivo o teste realizado em junho no Teatro Sá da Bandeira, no âmbito da iniciativa nacional “Regresso ao Futuro”, disse.
Por outro lado, tudo está a ser feito para que os dois grandes eventos programados para este ano, a celebração do centenário do nascimento do dramaturgo escalabitano Bernardo Santareno e dos 500 anos de Pedro Álvares Cabral, possam acontecer, estando o primeiro agendado para o período entre 19 de setembro e 19 de novembro e o segundo para o início de setembro, disse a vereadora.
Contudo, Inês Barroso avisou que só mais perto das datas haverá segurança para o seu anúncio formal.
João Aidos afirmou que a programação futura poderá passar por espetáculos mais pequenos, com percursos pela cidade, levando à descoberta do centro histórico.
“Em vez de um espetáculo com 500 pessoas, a tendência será para 10 espetáculos com 50 pessoas”, disse.
Lamentando o fim do programa “Cultura para Todos”, cujos fundos foram redirecionados pelas Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo e do Centro para cobrir custos assumidos pelos municípios com a pandemia, o gestor e programador, que estava igualmente a trabalhar a programação para o Médio Tejo, tem alguma esperança nos programas em rede.
“Vamos trabalhar muito a ideia de ‘marketing’ territorial”, disse, dando o exemplo dos espetáculos de dança e música no património, na sua maioria ao ar livre.
Frisando que o “tecido cultural está devastado”, João Aidos sublinhou a importância de se olhar para áreas como as artes performativas, que, pela qualidade do seu trabalho, sobreviviam sem recorrer a apoios da Direção-Geral das Artes e que, “de repente, ficaram sem nada”.
Por outro lado, salientou a importância de não se perder o trabalho de fidelização de públicos, que, no caso de Santarém, envolvia “imensos projetos” nos vários ciclos de ensino e em lares e que terão agora de ser adaptados às novas regras.
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