“Que o nosso olhar se preencha com os rostos dos nossos irmãos e irmãs ucranianos que estão a viver este Natal no escuro, no frio ou longe de casa, devido à destruição causada por dez meses de guerra”, disse o Papa argentino, perante milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro em Roma, alguns dos quais agitando bandeiras ucranianas.
“Que o Senhor nos prepare para gestos concretos de solidariedade para ajudar aqueles que sofrem, e que ilumine as mentes daqueles que têm o poder de silenciar as armas e pôr um fim imediato a esta guerra sem sentido”, acrescentou o pontífice, que incessantemente tem apelado à paz desde que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro.
Francisco lamentou ainda que as pessoas prefiram “ouvir outros argumentos ditados pela lógica do mundo” e observou “com tristeza que os ventos da guerra continuam a soprar o frio sobre a humanidade”.
Antes de pronunciar a bênção “Urbi et Orbi” (“à cidade e ao mundo”), o Papa deu a sua habitual visão geral dos conflitos no mundo, nomeando dez países afetados pela violência ou tensão, que descreveu como “teatros desta terceira guerra mundial”.
Entre eles estão o Afeganistão, o conflito israelo-palestiniano, o Iémen, a Síria, Myanmar, mas também o Líbano, que está a braços com uma crise económica e social sem precedentes, e o Haiti, onde mais de 1.400 pessoas foram mortas violentamente este ano, de acordo com a ONU.
Pela primeira vez, o Papa mencionou o Irão, que tem sido alvo de uma onda de protestos sem precedentes desde a Revolução Islâmica de 1979.
Desencadeados por reivindicações em defesa dos direitos das mulheres, os protestos levaram já à detenção de cerca de 14.000 pessoas desde meados de setembro, segundo a ONU, e à morte de 469 manifestantes, de acordo com a organização de Direitos Humanos do Irão, sediada em Oslo.
O líder da Igreja Católica exortou ainda à não-utilização de alimentos “como arma”, numa alusão aos conflitos no Corno de África.
“Cada guerra causa fome e utiliza a própria comida como arma, impedindo a sua distribuição às populações que já sofrem”, lamentou o jesuíta argentino, apelando a um compromisso “para que a comida seja apenas um instrumento de paz”.
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