O independentista e antigo presidente do governo regional surgiu hoje publicamente nas ruas de Barcelona, poucos minutos antes das 9h00 locais (8h00 em Lisboa), numa concentração em que estavam mais de duas mil pessoas e que foi convocada pelo partido a que pertence, o Juntos pela Catalunha (JxCat).
Puigdemont falou durante alguns minutos aos apoiantes que estavam numa praça nas imediações do parlamento catalão, desceu depois do palco instalado no local e caminhou a seguir alguns metros, rodeado por dirigentes do seu partido e centenas de outras pessoas, que levavam cartazes e bandeiras independentistas.
"Não nos interessa estar num país em que as leis de amnistia não amnistiam", disse Puigdemont, que lamentou a "repressão feroz" do movimento independentista catalão por parte das autoridades espanholas, após a tentativa de autodeterminação de 2017, que protagonizou e na sequência da qual abandonou Espanha, sendo ainda hoje alvo de uma mandado de detenção em território espanhol.
"Vim aqui hoje para lembrar que ainda estamos aqui, porque não temos o direito de renunciar", afirmou, depois de insistir em que todos os povos têm o direito à autodeterminação.
Eleito deputado nas eleições catalãs de 12 de maio, Puigdemont parecia dirigir-se para a entrada do Parque da Cidadela, onde está localizado o edifício do parlamento catalão, onde às 10h00 locais (9h00 em Lisboa) arrancou a sessão de investidura do socialista Salvador Illa como novo presidente do governo regional (conhecido como Generalitat).
O acesso ao parlamento está blindado e controlado por uma barreira policial desde a madrugada, mas Puigdemont não chegou a este local, onde poderia ser detido.
O dirigente separatista desapareceu, aparentemente, entre a multidão de apoiantes e o seu paradeiro é neste momento desconhecido.
Onde está Puigdemont?
Ainda que não saibam onde está Carles Puigdemont, as autoridades policias da Catalunha, os Mossos D’Esquadra, estiveram toda a manhã a procurar o independentista.
Segundo El Mundo, Carles Puigdemont viajava num carro branco de marca Honda e os Mossos D’Esquadra sabiam a sua matrícula. A operação para deter o independentista ganhou o nome de “Jaula”.
De acordo com o mesmo jornal, a polícia reforçou a presença e estabeleceu postos de controlo perto da fronteira com França, de forma a evitar que Carles Puigdemont saia do país.
No final da manhã os Mossos D’Esquadra acabaram de desativar a operação, avança o jornal catalão La Vanguardia. Segundo a rádio catalã RAC, as operações perto da fronteira com França já estão a desmobilizar, apesar de não apresentarem qualquer justificação para esta situação. Estiveram ativados todos os dispositivos terrestres, marítimos e aéreos, inclusive helicóptero, avança o El Mundo.
Contudo, segundo o El País, um polícia foi detido por suspeita de ter ajudado Puigdemont a fugir. Segundo fontes da polícia da Catalunha citadas por vários meios de comunicação social espanhóis, os Mossos detiveram um dos seus agentes, que é dono do carro em que a polícia pensa que Puigdemont fugiu do local onde hoje de manhã apareceu em público.
Entretanto a polícia catalã abriu uma investigação para identificar as pessoas que ajudaram Puigdemont a chegar ao Arco do Triunfo em Barcelona onde discursou e como conseguiu fugir entre a multidão, diz a agência EFE.
Assim, os Mossos D’Esquadra querem deter, nas próximas horas, outros envolvidos na fuga que podem ser mais agentes da polícia catalã, visto que o independentista tinha uma ordem de detenção em vigor que vincula todas as polícias dentro de Espanha.
Puigdemont anunciou na quarta-feira que pretendia estar hoje na sessão parlamentar convocada para votar a investidura de Salvador Illa como presidente da Generalitat.
Num vídeo que divulgou nas redes sociais, admitiu que arrisca ser detido hoje, com este regresso a Espanha, e considerou que a sua detenção seria "arbitrária e ilegal", por estar já em vigor a lei de amnistia para separatistas da região.
O Tribunal Supremo espanhol recusou, num primeiro parecer, aplicar a amnistia a Puigdemont, que apresentou recurso desta decisão e aguarda uma resposta.
O "desafio" do Tribunal Supremo "tem de ter uma resposta e de ser confrontado" em nome da democracia, disse Puigedemont, para justificar o regresso hoje a Espanha.
O Partido Socialista da Catalunha (PSC, estrutura regional do Partido Operário Espanhol, PSOE) foi o mais votado nas últimas eleições catalãs, em que as forças independentistas perderam a maioria absoluta que nos últimos 14 anos garantiu sempre executivos separatistas na região.
Salvador Illa negociou o apoio da independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que foi o terceiro partido mais votado, para ser investido presidente da Generalitat.
O outro grande partido independentista, o Juntos pela Catalunha (JxCat, conservador), de Carles Puigdemont, foi o segundo mais votado.
O JxCat condenou a ERC por estar disposta a acabar com a frente separatista catalã e viabilizar um governo "espanholista" para a região.
Como se chegou até aqui?
Recorde-se que Puigdemont que foi eleito deputado autonómico nas eleições catalãs de 12 de maio, disse que iniciou "a viagem de regresso do exílio" com o objetivo de estar presente, na sessão parlamentar em que será votada a investidura do socialista Salvador Illa como novo presidente do governo regional (conhecido como Generalitat).
Caso se confirme a detenção de Puigdemont deverá levar à suspensão ou adiamento da sessão parlamentar para investir o novo líder da Generalitat, segundo declarações do presidente da assembleia regional catalã, Josep Rull, e de vários partidos.
Apoiantes e adversários de Puigdemont convocaram já concentrações e manifestações para esta quinta-feira, para as imediações do edifício do parlamento da Catalunha, situado no Parque da Cidadela de Barcelona.
O Partido Socialista da Catalunha (PSC, estrutura regional do Partido Operário Espanhol, PSOE) foi o mais votado nas últimas eleições catalãs, em que as forças independentistas perderam a maioria absoluta que nos últimos 14 anos garantiu sempre executivos separatistas na região.
Salvador Illa negociou o apoio da independentista Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que foi o terceiro partido mais votado, para ser investido presidente da Generalitat.
O outro grande partido independentista, o Juntos pela Catalunha (JxCat, conservador), de Carles Puigdemont, foi o segundo mais votado e apostava pela repetição das eleições.
O JxCat condenou a ERC por estar disposta a acabar com a frente separatista catalã e viabilizar um governo "espanholista" para a região.
A situação política na Catalunha tem tido e deverá continuar a ter impactos diretos na governação de Espanha, por o executivo nacional do socialista Pedro Sánchez depender do apoio parlamentar tanto da ERC como do JxCat.
Carles Puigdemont é um antigo jornalista catalão e foi alcaide de Girona entre 2011 e 2016. Depois disso foi presidente do governo da Catalunha de 9 de janeiro de 2016 a 27 de outubro de 2017, dia em que renunciou ao cargo.
Depois disso foi eleito deputado da 8.ª, 9.ª e 10.ª legislaturas do Parlamento da Catalunha pela Convergência e União, e na 11.ª legislatura pelo Juntos pelo Sim. Até 2016 pertenceu à Convergência Democrática da Catalunha e foi membro do partido sucessor, o Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT) até 2020, quando passou a formar parte do partido Juntos pela Catalunha.
Nos últimos 14 anos, a Catalunha passou por um processo independentista que culminou com uma tentativa de autodeterminação em 2017 protagonizada por Puigdemont, que agora regressou à região.
A situação na Catalunha tem tido impactos diretos na estabilidade política de Espanha, cujo governo nacional, do primeiro-ministro Pedro Sánchez, foi viabilizado, no parlamento, tanto pelo JxCat como pela ERC.
A antecipação das eleições autonómicas para 12 de maio passado levou, por exemplo, o executivo a desistir de apresentar uma proposta de Orçamento do Estado para este ano, depois de assumir que não tinha condições para negociar a aprovação do documento com os partidos independentistas catalães em período eleitoral.
*Com Lusa
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