O Presidente da República Emmanuel Macron, o executivo e os partidos políticos já só têm um objetivo em mente em França: as eleições municipais de 2020. Com a entrada de um novo partido, o Republique En Marche, na política local e a confusão generalizada nos partidos tradicionais, prevê-se uma reconfiguração das autarquias em todo o país.

“Haverá uma reconfiguração. Por exemplo, numa cidade podemos ter um autarca de direita em que uma parte da oposição de esquerda passou para o En Marche, mas também ele ou pessoas que o apoiam de direita podem passar para esta nova força. Portanto, qualquer que seja a posição dos autarcas, em muitas cidades, tanto a esquerda como a direita vão estar divididas nestas eleições”, explicou o politólogo Pierre Martin em declarações à agência Lusa.

Recentemente, o Republique En Marche apresentou os seus primeiros candidatos às eleições locais com 19 candidatos entre autarcas apoiados anteriormente pelo partido de direita Les Republicains ou o Partido Socialista e que agora se juntam às forças do En Marche, assim como candidatos saídos das próprias fileiras desta jovem força partidária.

Especialista no estudo das eleições locais em França, Pierre Martin é investigador do Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), professor no Instituto de Estudos Políticos de Grenoble e autor de vários livros como “Crise mundial e sistemas partidários” (2018), editado pela Sciences Po Paris.

Sendo as primeiras eleições locais em que participa esta nova força, Pierre Martin considera que Macron aprendeu a lição histórica das eleições locais de 1965.

Em 1958, depois da vitória do “sim” à criação da V República, De Gaulle ganhou as presidenciais, e em 1965 houve eleições municipais em que o partido do Presidente se apresentou e o fracasso foi gritante.

“Ao contrário do que se pensa, os políticos aprendem da história política do seu país. Muitas vezes, Macron já fez paralelos com o que passou em 1958 com o general De Gaulle e, podemos deduzir, que tanto ele como a sua equipa não olham para as eleições locais como olharam para as nacionais e para as europeias”, indicou o professor universitário.

Assim, nem sempre o apoio nacional significa um apoio local. “A maior parte dos eleitores quando apoiou De Gaulle achava que a IV República não era capaz de resolver os problemas nacionais, mas os mesmos eleitores não tinham qualquer problema contra os seus eleitos locais. […] É isso que o partido do Presidente teme e é por isso que eles estão a ser muito prudentes e tentam a nível governamental seduzir os autarcas que se recandidatam porque sabem que assim podem ganhar”, concluiu o politólogo.

No entanto, as eleições locais já estão a abrir fissuras dentro do próprio Republique En Marche.

Em Paris, a maior batalha pela das eleições locais, o candidato indicado pelo partido foi Benjamin Griveaux, ex-porta-voz do Governo, escolhido através de uma comissão criticada por alguns dos seus militantes.

A batalha dentro do partido foi acesa, com Mounir Mahjoubi, ex-secretário de Estado do Digital, a demitir-se do Governo para se dedicar à campanha e Cédric Villani, deputado e matemático, a disputar até ao fim a possibilidade ser candidato.

Griveaux tem agora contra si Anne Hidalgo, a atual presidente da Câmara de Paris que se deverá recandidatar com o apoio do Partido Socialista.

A atual autarca tem tomado decisões polémicas como o encerramento à circulação de carros das margens do Sena e as sondagens mostram que ficaria atrás do candidato do Republique En Marche, mas Pierre Martin avisa que ainda falta muito tempo até 15 e 22 de março (respetivamente a primeira e segunda volta das eleições locais).

“Ainda estamos longe das eleições para falar de preferências, mas as pessoas têm uma opinião sobre o seu presidente da Câmara e a opinião sobre Anne Hidalgo não parece ser positiva. É uma desvantagem, mas quando um autarca está na oposição ao Governo, na perspetiva dos eleitores pode ser reeleito fazendo essa oposição, algo que não acontece no caso dos candidatos que são das forças que apoiam o Governo”, afirmou.

Quanto às restantes forças políticas, a reorganização depois do impacto da eleição de Macron continua.

À direita o partido Les Republicains ainda não tem líder depois da demissão de Laurent Wauquiez após as eleições europeias e o Partido Socialista tenta reerguer-se à volta do secretário-geral Olivier Faure.

Já o Rassemblement National, partido de Marine Le Pen, perdeu cerca de 30% dos seus eleitos locais desde 2014 e apostará em menos autarquias.