O líder parlamentar do PS, Eurico Brilhante Dias, considerou que o Presidente da República referiu os desafios que estão “no quadro das preocupações e das políticas” dos socialistas, como as alterações climáticas e os jovens.
“Pareceu-me uma intervenção [do Presidente da República] muito orientada para o futuro, para os problemas que temos que resolver, mas muito para o futuro, falando de desafios que estão muito no quadro, não só das preocupações, mas das políticas do PS”, salientou o líder parlamentar socialista, Eurico Brilhante Dias, em declarações aos jornalistas no final da cerimónia comemorativa do 113.º aniversário da Implantação da República, que decorreu na Praça do Município, em Lisboa.
Para Brilhante Dias, o Presidente da República “falou das inércias das instituições internacionais”, salientando que Portugal “tem sido um ator muito relevante no quadro internacional”
“Tem sido um ator na União Europeia - não é por acaso que o Plano de Recuperação e Resiliência é um impulso europeu mas é um impulso a partir de uma iniciativa também do primeiro-ministro, António Costa. Não é por acaso que a política de rendimentos tem sido o centro da nossa preocupação, aumentos de salários, diminuição de IRS. Só se combatem todos os problemas da nossa sociedade com justiça social e o PS é o partido da justiça social”, defendeu.
“Eu penso mesmo que esta é a mensagem fundamental: há desafios para o futuro, o Governo português, a sociedade portuguesa, está fortemente empenhada nos desafios fundamentais que é o combate às alterações climáticas, oportunidades dos mais jovens, e o Governo, que dentro de cinco dias apresenta o seu orçamento, vai apresentar seguramente um orçamento mais uma vez centrado nos rendimentos das famílias portuguesas, para termos um 2024 apesar de toda a incerteza na Europa, um 2024 melhor do que foi 2023”, rematou.
Para o secretário-geral do PSD, Hugo Soares, este considerou que "a grande mensagem da intervenção do senhor Presidente da República que aqui saudava, foi a descolagem que ele identifica entre o país real e o país, como ele dizia, oficial”.
Na opinião do dirigente do PSD, o chefe de Estado fez “uma intervenção muito colada ao país real”, ao país dos “portugueses em concreto, das dificuldades dos professores, dos médicos, das forças de segurança, dos oficiais de Justiça, dos enfermeiros, daqueles que pagam demasiados impostos e têm pouco rendimento”.
O social-democrata salientou ainda o apelo deixado por Marcelo Rebelo de Sousa de que “é preciso reformar, é preciso transformar e não ficar à espera para que se possa resolver a vida das pessoas”, sublinhando que o executivo governa “há oito anos e não há 15 dias”.
O secretário-geral do PSD disse ainda que o partido “tem feito o seu trabalho de apresentar alternativas para mudar a vida das pessoas” em áreas como a fiscalidade, habitação ou educação, “mas tem esbarrado na prepotência do Governo”.
Questionado sobre o facto de o presidente do PSD não ter estado presente na cerimónia, Hugo Soares respondeu que Luís Montenegro “está fora do país, numa agenda que já tinha marcado há muito tempo”.
Também o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha, concordou com o discurso do Presidente da República, considerando que é “uma mensagem clara para o primeiro-ministro”, que se converteu, nos últimos oito anos, “numa espécie de residente não habitual”.
“É uma mensagem clara para o primeiro-ministro. O primeiro-ministro converteu-se nestes oito anos numa espécie de residente não habitual, anda por cá, mas não sabe exatamente o que se passa no país”, disse aos jornalistas Rui Rocha, referindo que na entrevista que António Costa deu esta semana à CNN fez um diagnóstico do país em que ninguém se pode rever porque não existe.
O líder do IL ainda frisou que António Costa “está perfeitamente ultrapassado pela realidade”.
“A realidade corre mais depressa do que as medidas e, no caso de António Costa, está a ser atropelado por essa realidade que não soube prever”, disse. No discurso, o Presidente da República avisou hoje que as instituições internacionais e portuguesas ou “mudam a bem ou mudarão a mal”, ou seja, “tarde e atabalhoadamente”.
Já o Bloco de Esquerda criticou que Marcelo Rebelo de Sousa tenha deixado de fora do discurso o problema da habitação, considerando que isso “mostra algum desfasamento face à realidade”. O líder parlamentar, Pedro Filipe Soares afirmou que "estamos a repetir os mesmos erros, na questão da habitação em particular, que ao ser negado esse direito, está a empurrar muitas pessoas para fora do país. Nós temos o problema a ser repetido e não haver uma palavra do Presidente da República sobre a habitação, algo que fez com que centenas de milhares de pessoas saíssem à rua por todo o país no último fim de semana, mostra algum desfasamento face à realidade”, criticou.
Para Pedro Filipe Soares, o Presidente da República “falha na apresentação de soluções” neste discurso uma vez que apesar de dizer que não se pode repetir os erros do passado, não se foca num dos “grandes problemas na fixação dos jovens que é a habitação”.
“Quando nós tivemos uma guerra entre Presidente da República, primeiro-ministro durante meses sobre a questão da habitação e agora não temos nada neste discurso sobre essa matéria, percebemos que na prática não havia uma divergência de fundo. Ora, essa inexistência de uma divergência de fundo também coloca em causa a resposta que o Presidente da República pediu”, defendeu.
Na análise do BE, esta resposta à crise na habitação é urgente e por isso o partido agendou para 25 de outubro um debate potestativo na Assembleia da República para se debater estas soluções.
“Impedir a lógica de venda a não residentes que estão a especular nas nossas cidades, garantir tetos às rendas e salvaguardar o direito à habitação”, detalhou.
Nas hostes do PCP, a líder parlamentar do partido, Paula Santos, considerou que “a questão da mudança que foi colocada pelo próprio Presidente da República exige opções políticas concretas” para dar resposta a problemas em áreas como a saúde, educação ou habitação.
“Registamos no discurso do senhor Presidente da República uma consideração genérica relativamente aos problemas mais gerais, quer do ponto de vista nacional, quer do ponto de vista internacional. Mas a questão da mudança que foi colocada pelo próprio Presidente da República, isso exige opções políticas concretas para dar resposta às questões mais prementes com as quais estamos confrontados neste momento no nosso país”, considerou.
A líder parlamentar comunista considerou, tal como o Bloco de Esquerda, que alguns “problemas concretos” estiveram ausentes da intervenção do chefe de Estado, tal como “a necessidade do aumento dos salários e das pensões para que os trabalhadores, os reformados, possam melhorar as suas condições de vida” ou “respostas concretas no quadro da saúde, no quadro da educação, no quadro da habitação”.
“Problemas prementes sentidos pela generalidade da população e sobre os quais o PCP tem apresentado um conjunto de soluções para ultrapassar estas dificuldades”, realçou.
Para o deputado único do Livre, Rui Tavares, o discurso de Marcelo teve uma excelente contextualização histórica” dos perigos que a democracia enfrenta”.
“O Presidente da República fez um discurso em que fez uma excelente contextualização histórica daquilo que são as debilidades de uma democracia quando deixa que populistas, nacionalistas, autoritários se aproveitem das regras do jogo para subverter o próprio jogo, ou seja, para acabar com a democracia. Isso é uma lição da história que não tem tanto tempo quanto isso, e com a qual devemos estar muito atentos”, referiu Rui Tavares em declarações à RTP.
O deputado do Livre recordou que há 100 anos enfrentava-se um período de pós-guerra e pós-pandemia e que, apesar de a história não se repetir, “os paralelismos estão lá”.
“A única coisa que pode fazer a diferença é a nossa capacidade de, em conjunto, e agora que vamos fazer 50 anos do 25 de Abril, lutar pela nossa democracia e reforçá-la do ponto de vista social”, insistiu Rui Tavares.
O deputado eleito pelo círculo de Lisboa considerou que o pedido de “reformas a sério” para uma democracia mais forte é “uma mensagem importante nestes dias”.
“Nós vemos, por exemplo, que a nossa Constituição, que tem 50 anos, diz que deveríamos regionalizar, nunca regionalizámos. Hoje em dia temos um país que está partido ao meio e temos políticos com medo de falar de regionalização”, apontou.
Rui Tavares pediu ainda que o país seja “coerente em relação aos direitos humanos”, depois do anúncio da organização conjunta do Mundial de 2030 com, entre outros, Marrocos.
“Portugal esteve do lado de Timor-Leste, por exemplo, contra a ocupação indonésia, e ontem acabámos de ver anunciado que vamos fazer um campeonato do mundo com Marrocos, que ocupa o Saara Ocidental, como a Indonésia ocupava Timor-Leste”, referiu, acrescentando que não lhe agrada que a República Portuguesa “esteja em contradição consigo mesma e acabe por estar aliada com quem ocupa”.
Por fim, o presidente do Chega, André Ventura, considerou “mobilizador” o discurso, referiu também que Marcelo Rebelo de Sousa foi “consensual no apelo à mudança” e “deu um recado a António Costa” ao deixar claro que “nas entrelinhas da história” que o primeiro-ministro “muda agora ou a mudança acontecerá contra si e a democracia”.
“Deixou um discurso mobilizador no qual nos revemos. Acho que é uma análise histórica bastante interessante. Conseguiu deixar a mensagem [de que] ou mudamos a bem e agora nas grandes questões da segurança, migrações, clima, jovens ou essas mudanças acontecerão contra a nós e a mal”, disse aos jornalistas André Ventura, no final da cerimónia comemorativa.
No seu discurso, o Presidente da República avisou hoje que as instituições internacionais e portuguesas ou “mudam a bem ou mudarão a mal”, ou seja, “tarde e atabalhoadamente”, numa intervenção na qual também defendeu que é possível ter “democracias mais fortes” caso não se opte por “esperar para ver”, pedindo reformas “a sério”.
*Com Lusa.
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