“O PCP não vê nenhum inimigo no PS, muito menos o inimigo principal. Agora, não peçam ao PCP para minimizar as opções políticas do PS, que as tomou por sua opção”, afirmou Paulo Raimundo, quando questionado sobre o conselho dado pelo primeiro-ministro naquela que foi a sua despedida do parlamento na segunda-feira.

À margem da sessão “Pelo direito à habitação”, no Porto, o secretário-geral do PCP considerou que o primeiro-ministro demissionário “decidiu ontem [segunda-feira] entrar em campanha eleitoral e entrou a pés juntos”.

“Entrou à tarde a dizer que o PCP escolhe o PS como seu inimigo e depois entrou à noite a tentar procurar recuperar um conjunto de medidas importantes que, no fundamental, correspondem a medidas do PCP”, referiu.

Questionado sobre o facto de alguns ministros em funções estarem em campanha eleitoral, Paulo Raimundo assegurou estar “tudo em campanha”.

“Deixemo-nos de hipocrisia e cinismo. Está tudo em campanha. Ainda ontem, o primeiro-ministro deu o pontapé de saída de grande fulgor em campanha eleitoral. Está tudo em campanha, uns com capa de ministro, outros sem capa de ministro”, acrescentou.

Quanto à possibilidade de o PCP estabelecer um acordo pós-eleitoral com o PS, como sugerido pelo candidato a secretário-geral Pedro Nuno Santos, Paulo Raimundo assegurou que se for para “fazer a política dos últimos dois anos” não contarão com o seu partido.

“Para fazer esta política dos últimos dois anos do PS? É para pôr a assinatura por baixo do PCP para continuar a despejar pessoas na rua? Para aumentar as rendas? Não fazer nada sobre o aumento das prestações? Para isso não, para isso não contam com o PCP, isso é clarinho. Não andamos cá com meias tintas”, afirmou.

Durante a sessão, que decorreu na Associação de Moradores da Zona do Campo Alegre, o secretário-geral do PCP ouviu os testemunhos de algumas pessoas que, face ao aumento do custo de vida, perderam as suas casas ou tiveram dificuldades em encontrar respostas habitacionais que pudessem suportar.

Questionado se a instabilidade na vida das pessoas iria aumentar nos próximos três meses, Paulo Raimundo lembrou que a mesma não começou a 07 de novembro, dia em que o primeiro-ministro apresentou a sua demissão, mas “há anos”.

“Se não houver uma alteração de políticas, que estamos confiantes que terá de haver com o reforço do PCP e CDU, então vai-se prolongar não só nos próximos três meses, como nos próximos seis meses”, acrescentou.

Paulo Raimundo disse ainda não querer “alimentar falsas polémicas” relativamente à decisão do Presidente da República ao aceitar a demissão de António Costa, considerando que a culpa da atual situação política é do Governo.

“O primeiro-ministro demitiu-se, o Presidente da República aceitou a demissão, vai dissolver a Assembleia da República e estão marcadas eleições legislativas para 10 de março. Em última instância, quem decide é o Presidente da República, mas não decide sozinho. Teve duas conversas com o primeiro-ministro, portanto, as responsabilidades têm de ser repartidas”, referiu.