“Sim, eu acho que esse risco existe”, respondeu aos jornalistas em Bruxelas, ao ser questionado sobre a possibilidade de a nomeação da candidata indicada pelo Conselho Europeu ser ‘chumbada’ pela assembleia europeia na votação agendada para a próxima terça-feira no hemiciclo de Estrasburgo.

O também vice-presidente do Partido Popular Europeu (PPE), a família política de Ursula von der Leyen, considerou que, nesta altura, “todos os cenários estão em cima da mesa”, desde um adiamento, uma hipótese por si defendida, até a um ‘contar de espingardas’ na próxima semana no PE.

“Não excluiria que isto fosse até ao fim sem qualquer adiamento e que aí tivéssemos um verdadeiro suspense sobre o resultado na fase final”, completou.

A ainda ministra da Defesa alemã necessita de obter uma maioria absoluta na votação agendada para a próxima terça-feira - metade dos eurodeputados mais um, ou seja, 376 – para ser presidente da Comissão Europeia, pelo que, dada a complexidade do processo negocial com os grupos políticos, Paulo Rangel não veria “como algo anormal ou negativo” que houvesse uma prorrogação da votação para evitar “o risco de uma reprovação, que também acho que não deve ser afastado”.

“Eu acho que um presidente da Comissão tem de ter um programa que possa preencher uma série de requisitos que são pedidos pelas várias forças políticas e o que eu acho é que o tempo que nós temos é um tempo muito estreito para essa negociação se fazer de uma forma que possa satisfazer as várias forças. Por isso, e sempre o disse desde o primeiro minuto em que ficou certo que a nomeada seria Ursula von der Leyen, não estranharia que pudesse haver um adiamento e que ele fosse saudável no sentido de poder haver essa plataforma de entendimento com os vários grupos”, referiu.

Reiterando que duas semanas são “muito pouco tempo”, o eurodeputado social-democrata estimou que um adiamento da votação até setembro permitiria aos grupos políticos fazerem “uma negociação bastante detalhada, cuidada e harmonizada” com a política alemã, de modo a incorporarem as suas prioridades na agenda da Comissão Europeia para a legislatura 2019-2024.

Rangel elogiou ainda “a grande abertura” demonstrada por Von der Leyen nos encontros com os diferentes grupos políticos, particularmente no que toca às questões ambientais, sociais e inclusive algumas da União Económica e Monetária, demonstrado até “pontos de vista que não são bem os do PPE”.

“Por isso é que digo que todos os partidos têm de ceder alguma coisa, por isso é que é uma negociação”, salientou.

Um dos grupos que parece estar inclinado, de acordo com a perceção do eurodeputado português, a votar a favor da candidata alemã é o dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), onde têm assento partidos eurocéticos como o polaco Lei e Justiça (PiS).

“Julgo que os conservadores estarão abertos a um apoio, embora não sejam entusiastas. Com a direita radical, não faço ideia, porque não há qualquer contacto do PPE com eles”, disse, defendendo, contudo, o Grupo Identidade e Democracia, de Matteo Salvini e Marine Le Pen, nunca votará a favor de Von der Leyen porque “pretende que se instale um impasse e o caos, independente de concordar ou não com as medidas” propostas pela alemã.