Depois de marcar presença na cerimónia de tomada de posse de Carlos Moedas para a câmara municipal de Lisboa — que contou com as grandes figuras do PSD —, Paulo Rangel foi à TVI para a primeira entrevista após ter anunciado que quer suceder a Rui Rio na liderança do maior partido da oposição.
Eurodeputado, Paulo Rangel anunciou na sexta-feira que se candidata à liderança dos sociais-democratas por ter a convicção de que pode “unir o PSD, promover o seu crescimento e vencer as legislativas de 2023”.
“Anuncio formalmente a todos os militantes que serei candidato à presidência do PSD nas eleições de 4 de dezembro próximo. Apresento a minha candidatura, com humildade e espírito de missão, mas com a convicção inabalável de que, com ela, sirvo o nosso país, os nossos compatriotas e o nosso partido”, afirmou, na apresentação pública à imprensa, que decorreu num hotel Lisboa.
A entrevista começou pelas "duas ou três investidas, no final de junho", que teriam como objetivo prejudicar as ambições futuras de Rangel. Mas o candidato disse que não vai falar da vida pessoal. Os jornalistas insistiram na orientação sexual de Paulo Rangel — mas o eurodeputado disse que "não há nenhum mal" em ainda ser necessário que um político tenha de se assumir publicamente.
Na entrevista à TVI, o eurodeputado e antigo líder parlamentar foi questionado se teria o apoio do anterior líder Pedro Passos Coelho e se este seria importante para unir o partido, com Paulo Rangel a dizer não poder responder pelo antigo primeiro-ministro, com quem disse ter desenvolvido uma relação mais próxima desde que foram adversários internos, em 2010, e assegurou que não lhe pediu conselhos antes de avançar.
Rangel defendeu que tem “todas as condições para agregar” as várias correntes do PSD, entre os mais sociais-democratas, mais liberais, mais conservadores ou mais democratas-cristãos.
Perante a insistência dos jornalistas — Sara Pinto e Anselmo Crespo —, Paulo Rangel disse mesmo que "para unir o PSD não é importante o apoio desta ou daquela personalidade" e que não será ele a precisar "da tutela seja de quem for" para cumprir esse objetivo.
“Se me permite alguma emancipação, não preciso da tutela de ninguém, seja de quem for, para conseguir o primeiro e mais imediato objetivo como líder do PSD: fazer a unidade, a congregação das várias correntes, porque infelizmente isso não foi feito”, frisou, dizendo já ter apoios de pessoas de “várias sensibilidades”.
Depois do período de disputa eleitoral, que gera “debate e conflitualidade”, Rangel prometeu que se for eleito presidente do PSD agregará não só os que já lhe manifestarem apoio mas “também os que entrem na corrida mais tarde”.
Sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano, Rangel lembrou que "o PSD é oposição" e que "este orçamento é mau". Apesar disso, lembra que não é desejável que o país entre numa crise política, instando o governo a negociar com os seus parceiros de esquerda. Apesar de não antever uma crise política, diz estar "preparadíssimo" para liderar o PSD numas legislativas antecipadas.
“Eu acho que o país não perceberia uma crise política, nem é desejável que entremos, mas o PS tem de negociar com aqueles que são os seus parceiros de coligação, o PCP e o BE, defendeu.
No entanto, questionado se uma eventual crise política e eleições antecipadas em plena disputa interna do PSD não prejudicaria o partido, como defende o atual presidente Rui Rio, Rangel rejeitou este cenário.
“Não há nenhum risco de uma eleição feita no PSD nesta altura não permitir que o partido tenha um candidato forte a legislativas se elas se dessem em início de fevereiro, meados de fevereiro ou até março”, defendeu.
Paulo Rangel invocou os precedentes das dissoluções em 2002, 2004/2005 e 2011 para considerar que este calendário não só “não era inédito, como era o normal”.
“Em todos esses casos, o Presidente primeiro ouviu os partidos, como é sua obrigação constitucional, depois ouviu o Conselho de Estado, depois anunciou que ia dissolver, depois a publicação demorou um mês a fazer porque se quis dar espaço para que os partidos se organizassem para eleições”, disse.
No entanto, na semana passada, quando admitiu um cenário de eleições antecipadas perante a ameaça de chumbo do Orçamento por parte de BE e PCP, o atual presidente da República apontou para outro calendário. Marcelo Rebelo de Sousa estimou que as eleições legislativas antecipadas se realizariam em janeiro, que o novo governo tomaria posse em fevereiro e que só haveria Orçamento em abril e realçou que neste período haveria uma "paragem em muitos fundos europeus".
Na quinta-feira, o Conselho Nacional do PSD chumbou uma proposta da direção para que o calendário eleitoral interno fosse suspenso até se esclarecer se o Orçamento do Estado é ou não aprovado, por 71 votos contra e 40 a favor, e agendou diretas para 04 e dezembro e congresso para entre 14 e 16 de janeiro.
Esta tarde, antes da tomada de posse de Carlos Moedas como presidente da câmara municipal de Lisboa, o ainda líder do PSD foi questionado pelos jornalistas sobre se já tomou uma decisão se será ou não recandidato nas eleições diretas no PSD marcadas para 4 de dezembro. Rui Rio respondeu: “está quase a ser tomada na minha cabeça e a seguir comunicada. Obviamente que me preocupa muita esta situação que foi criada que é podermos ter um país em eleições antecipadas, que é mau, se o PSD estiver numa disputada - sem presidente eleito e com congresso lá para janeiro - isto é uma coisa terrível”, afirmou em declarações aos jornalistas.
Mais à frente e questionado por outros jornalistas se está pronto a ser protagonista de uma mudança no país, Rio frisou que ao ser presidente do PSD “tem de estar sempre pronto”. E à insistência se tal significa que se vai recandidatar à liderança do PSD, Rio referiu que esse assunto não era o que interessava no dia de hoje, mas deixou um recado. “Não vão demorar muito a saber isso”, disse.
Questionado se ficaria surpreendido se Rio não se recandidatasse à liderança do partido, Rangel afirmou não ter estados de alma sobre essa matéria.
“Tenho um enorme respeito pessoal e político pelo dr. Rui Rio, que conheço há 20 anos, qualquer decisão que tome respeitarei com enorme recato. Se for candidato terei o maior gosto em disputar eleições com ele”, disse, acrescentando não ter “uma visão pessoal da política”
Sobre o que o distingue do atual presidente — que apoiou nas diretas de há dois anos —, Paulo Rangel apontou a falta de esforço de “agregação” das várias tendências no partido, não convidando adversários como Luís Montenegro ou Miguel Pinto Luz para integrarem órgãos nacionais em 2020, e a forma de oposição ao Governo, que “tem de ser mais firme, mais visível, mais assertiva”.
“Não é uma questão de tom de voz: quando há um líder do partido que resolve acabar com os debates quinzenais, estamos a falar de formas de conceção da democracia. Como é que o maior partido da oposição, com o Governo de António Costa que tem instintos controleiros em certas áreas de forma preocupante, aceita perder o principal instrumento de escrutínio parlamentar?”, questionou.
Paulo Rangel voltou a considerar uma crise política “muito pouco provável” e um cenário “altamente especulativo”, preferindo falar de um “extremar da negociação” entre o PS e o PCP e O BE.
“O que fragilizaria o PSD era travar um processo eleitoral normal que foi aberto pela direção atual (…) Estamos a falar de cenários altamente especulativos, aceitando a especulação devemos ir legitimados e reforçados”, considerou, dizendo-se “preparadíssimo” para enfrentar eventuais legislativas antes de 2023.
Questionado sobre o facto de o chefe de Estado admitir o cenário de crise política, Rangel considera que o presidente apenas se referiu a “uma possibilidade excecional”.
“O que não credibiliza a política é querermos falar apenas em termos especulativos, se houver uma crise então temos de responder à crise”, afirmou, dizendo estar “absolutamente convicto” que esta não existirá, mas considerou que um Congresso do PSD em janeiro pré-eleições “até seria um grande momento de afirmação política”.
As eleições diretas para escolher o presidente do PSD estão marcadas para 04 de dezembro e o Congresso irá decorrer entre 14 e 16 de janeiro e Paulo Rangel é, por agora, o único candidato anunciado.
Acordos e coligações com CDS e IL ou governar em minoria — sem “partidos radicais”
O candidato à liderança do PSD admitiu fazer acordos e até coligações com o CDS-PP e o Iniciativa Liberal com vista a uma maioria absoluta de centro-direita ou governar em minoria, excluindo "partidos radicais" num executivo social-democrata. Paulo Rangel defendeu que, se for eleito presidente, o PSD vai batalhar “para ter maioria absoluta”, mas assegurou que não estará fechado a acordos ou coligações - “acho que pode chegar a isso” — mas apenas com o CDS-PP ou com a Iniciativa Liberal.
Questionado se, para chegar ao poder o PSD depender do Chega, Paulo Rangel prefere não formar governo, o eurodeputado respondeu: “O governo do PSD nunca será feito com um partido radical, seja de direita, seja de esquerda”, sem nunca referir o nome do partido liderado por André Ventura.
No entanto, excluiu que tal signifique entregar o poder à esquerda.
“Não necessariamente, Portugal já teve governos minoritários de sucesso”, afirmou, defendendo que o centro-direita já teve maiorias absolutas no passado e pode voltar a ambicioná-las, dizendo que o atual presidente do PSD, Rui Rio, “tem alienado o centro-direita e a direita moderada”.
[Artigo atualizado às 23:36]
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